Minoritários da Oi viram discrepância em declarações da administração, diz Instituto Empresa

Presidente do Instituto Ibero-Americano da Empresa, Eduardo Silva. Foto: Divulgação

Os requerimentos ao Ministério Público e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para apuração de possível manipulação do mercado por parte da administração atual da Oi têm por trás um grupo de acionistas minoritários insatisfeito não apenas com a volatilidade das ações, mas com o comportamento alegadamente paradoxal da gestão da empresa. Representando esses pequenos investidores, o Instituto Ibero-Americano da Empresa apontou por discrepâncias entre o cenário apresentado pela empresa para sair da recuperação judicial e o que foi argumentado para entrar com o pedido de liminar para proteção contra vencimentos de dívidas e em preparação a uma nova RJ.

"A saída da recuperação judicial gerou um aumento do valor da ação. O retorno à RJ gerou queda. Nesse intervalo de posições, algumas pessoas ganharam – potencialmente, quem pudesse antever esses movimentos", declarou ao TELETIME o presidente do Instituto Empresa, Eduardo Silva. "É surpreendente que, depois de seis anos no processo, a empresa possa voltar [à RJ] em apenas um mês. É inédito. Quem eventualmente conseguisse antever pode ter ganhado muito dinheiro", especulou, reiterando que não se trata de uma acusação, mas de uma solicitação para que os órgãos apurem os fatos. O cenário, no entanto, já se mostrava bastante desafiador, como mostrava TELETIME nesta análise e nesta reportagem de novembro de 2022, antes do fim da primeira recuperação judicial.

Silva explica que as declarações da administração da Oi, tanto por meio do laudo da Licks Contadores Associados em agosto, quanto em uma participação do presidente Rodrigo Abreu em uma live em dezembro, geraram expectativas positivas aos acionistas. "A empresa se pronuncia oficialmente pelas declarações, e isso é levado em conta pelo investidor. Se o acionista soubesse que a empresa iria voltar à RJ, ele teria comprado?", questiona. 

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A companhia tem algo em torno de 1,5 milhão de acionistas pessoa física, compondo um capital pulverizado com grandes investidores. Silva não conseguiu precisar o número exato de acionistas que procuraram o Instituto, mas relata que tem havido uma grande procura nas últimas horas, desde que o requerimento ao MPF-RJ e à CVM saiu na imprensa. Ele conta que o perfil desses acionistas é, em geral, comum: dispersos, desarticulado e desinformado. "Esses investidores chegaram até nós com essas situações relacionadas à RJ, mas houve revolta com a discrepância com o que a companhia oficializou em dezembro e o que apresentou agora."

O presidente do Instituto Empresa conta que os acionistas viram as declarações da Oi no final da RJ e optaram ou por manter os investimentos, ou aportar na empresa com a promessa de saneamento ou administração do passivo. "O que se viu no intervalo de um mês foi uma alta significativa em ações, com pico em dezembro, que pode potencialmente ter beneficiado grupos. Esses grupos depois podem ter vendido, pois houve uma queda substancial antes do pedido da cautelar. "

Na opinião dele, mesmo que a Oi tenha de fato se surpreendido com fatores externos graves entre dezembro de 2022 e fevereiro deste ano, o cenário seria digno de averiguação. "É estranho. Aí cabe à Anatel, que precisa ver se a empresa tem condições de manter a gestão."

Flutuação

No dia 31 de janeiro, as ações preferenciais OIBR4 eram negociadas a R$ 5,20, já após o grupamento em cumprimento a ordens da CVM. No dia seguinte, 1º de fevereiro, estavam a R$ 5,08. O pedido de tutela antecipada para proteção contra dívidas saiu na imprensa (inclusive no TELETIME) depois do fechamento da Bolsa, nesse mesmo dia. Na quinta-feira, 2, os papéis já estavam sendo negociados a R$ 3,68. No último mês, a empresa teve uma desvalorização de 41,14%. 

Flutuação das ações da Oi no intervalo de um mês. Fonte: Google

Eduardo Silva conta que não está se colocando em questão a volatilidade normal das ações da empresa, mas a responsabilidade da administração da operadora nas comunicações. "Tanto a CVM quanto o mercado, as informações divulgadas existem para pautar o comportamento de investidores. Nossa sugestão de investigação no Ministério Público é [conferir] que as informações sejam fidedignas e auditadas, pois a própria empresa submete a controle interno e a auditorias", declara. "Quando tem oscilação, que é razoável quando sai da RJ e para baixo quando o mercado volta à normalidade, fora euforia, isso é do jogo. O que não é do jogo é a discrepância de informação."

AGE

Os acionistas representados pelo Instituto Empresa deverão se manifestar na próxima assembleia geral extraordinária da Oi, marcada para o dia 6 de março. Na ocasião, será discutida possíveis destituição do conselho de administração atual e alteração no número de cadeiras, de 11 para entre sete e nove. Silva afirma que os minoritários a quem representa não chegaram ainda a entrar em contato com os "minoritários maiores" que requisitaram a AGE (Tempo Capital, Victor Adler e VIC DTVM), mas diz que há uma intenção de os apoiar na votação da chapa

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