A inclusão do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) no Plano Nacional de Desestatização (PND) pode estar contaminada por falta de informação sobre a empresa, ou ao contrário, pelo excesso de informações que somente o poder público tem. Isso é o que afirma Sílvio Luís Santos, presidente da Associação dos Colaboradores do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Acceitec).
Segundo o servidor da empresa, o Ceitec teve iniciado seu processo de privatização sem avaliar os produtos que desenvolveu. "Temos equipamentos desenvolvidos para a saúde, que permitem análises rápidas, como as de sangue, com alto qualidade de resultados", disse Santos, em audiência pública que discutiu o processo de liquidação da empresa realizada na tarde desta quinta-feira, 14, na Câmara dos Deputados.
"Não vi nenhum relatório que mostrava o que a empresa desenvolveu. Hoje temos capacidade para desenvolver equipamentos e insumos para a saúde, automóveis etc. Liquidar a fábrica, desmobilizar o que temos feito, é um erro", afirmou o representante dos trabalhadores da Ceitec. Ele também citou que existem estudos que mostram como o Centro pode ser mais superavitário. "Hoje, a sala limpa [local com alto controle de limpeza e temperatura] que o Ceitec tem custa US$ 70 milhões", afirmou.
Santos lembrou também que atualmente, com os atuais produtos e um pouco mais de investimento, o Centro teria total capacidade de atender demandas endereçadas para o 5G. "A empresa detém amplo conhecimento em processos tecnológicos em automóveis, determinados equipamentos e indústrias. O Ceitec é a única estrutura com esse perfil na América Latina. E hoje, a empresa tem equipamentos de ponta, não tem nada de sucata", finalizou, pedindo a retirada do PND.
Crise mundial
Adão Villaverde, ex-secretário estadual de Ciência & Tecnologia do Rio Grande do Sul e professor da Escola Politécnica da PUC-RS, lembra que a escassez mundial de semicondutores afeta o País também. "Fabricantes de smartphones e automóveis já suspenderam linhas montagem por falta de semicondutores. Fechar o Ceitec é tirar o Brasil do seleto grupo de produtores de semicondutores. O Ceitec faz entregas, ele tem produções. O chip de identificação veicular atende 60% da demanda nacional", afirmou Villaverde.
Ele lembrou também que a estatal possui mais de 40 patentes. "Em 2015, ela foi a empresa pública que mais depositou pedidos de patentes nos órgãos competentes", afirmou. Ele também enfatizou que o Ceitec possui infraestrutura capaz de atender as demandas do 5G. "A empresa tem projeção de R$ 13 milhões de superavit. No total, essa projeção é de R$ 86 milhões, brutos", enfatizou Adão Villaverde.
O processo de privatização
O diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital da Secretaria de Empreendedorismo e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Henrique de Oliveira Miguel, procurou justificar a inclusão no PND. Ele argumentou que a proposta do governo (além de querer trazer fábricas de multinacionais como a Samsung) é de que uma Organização Social (OS) assuma as funções hoje desempenhadas pelo Ceitec.
"Essa entidade também tinha a tarefa de cumprir objetivos como realizar parcerias, ter autonomia financeira, prestar assessoria e realizar pesquisas relacionadas a desenvolvimento de tecnologia, especialmente de semicondutores", disse o representante do MCTI. Ele explicou que o chamamento de entidades aptas para se qualificarem como OS já foi finalizado, mas está suspenso por decisão do Tribunal de Contas da União. Para o professor Adão Villaverde, o ponto forte da decisão do TCU é trazer luz para a fragilidade do processo de liquidação da empresa.