Arquitetura aberta e interoperável que pode diversificar a cadeia de fornecedores nas redes móveis, o Open RAN ainda não motiva atividade intensa no Brasil e se encontra "em compasso de espera", apontou um estudo da Universidade de Brasília (UnB) encomendado pela Anatel.
Conduzido pelo Centro de Políticas, Direito, Economia e Tecnologias das Comunicações (CCOM), o trabalho é o primeiro produto de um Termo de Execução Descentralizada firmado pela agência com a universidade. No diagnóstico, desafios, oportunidades e o papel brasileiro no contexto Open RAN foram abordados.
"Com relação ao Brasil, os estudos não identificaram uma atividade intensa relacionada ao Open RAN, nem por parte da indústria, nem por fornecedores. Em compasso de espera, o ecossistema brasileiro pode estar desperdiçando mais uma janela de oportunidades", afirmou o relatório – não sem apontar algumas iniciativas pontuais em curso.
Entre elas, a iniciativa OpenCare5G. Considerada o primeiro exemplo de implantação 5G a partir do Open RAN, a rede privativa da Escola Politécnica de São Paulo e do Hospital das Clínicas envolveu um amplo ecossistema de parceiros (como TIP, NEC, Airspan, Itaú Unibanco, Deloitte, Siemens e ABDI) e deve contar com novas etapas.
Já as operadoras móveis ainda não teriam nenhum projeto de expansão de rede utilizando a arquitetura aberta, apesar de realizarem alianças e testes. O laboratório Open Field, no Inatel, tem Claro, TIM, Vivo e Brisanet como parceiras. Colaborações em Open RAN entre Vivo e NEC e TIM e Qualcomm também foram lembradas.
Hardware e software
Na parte de desenvolvimento, uma parceria entre CPQD, Trópico, Inatel e Qualcomm para small cells 5G e Open RAN foi iniciada em 2022. Já o programa OpenRAN Brasil do governo federal teve primeira etapa executada pelo CPQD e a RNP, com foco em software para controle inteligente (RIC) e orquestração das redes e investimento previsto de R$ 32,4 milhões.
"O Brasil possui capacidade para o desenvolvimento de software já com boas perspectivas relacionadas ao 5G, porém competências devem ser desenvolvidas para potencializar oportunidades", apontou a UnB. "Trata-se de um ambiente sensível a políticas públicas, que podem ser incrementadas nesse sentido pelo Brasil". Vale lembrar que a Anatel também tem um grupo de trabalho (GT) focado em Open RAN desde 2021.
Desafios
Na avaliação da UnB, desafios para a consolidação do Open RAN devem ser enfrentados para que eventuais benefícios econômicos da arquitetura sejam comprovados. Entre as necessidades patentes estão mitigar a complexidade dos processos de integração e tratamento de falhas, bem como tratar a maior superfície para ataques cibernéticos acarretada pela diversificação de fornecedores.
O ganho de escala de produtos Open RAN e o próprio desenvolvimento de software foram outros aspectos notados – se possível, com ajuda de incentivos definidos por políticas públicas adequadas, reforçou a universidade.
No fim das contas, um modelo de custo total de propriedade (TCO) que avalie se a redução de custos com implementações do gênero será compensada pelo aumento dos gastos (como aqueles gerados pela integração) também foi visto como necessário.
Hoje, a norte-americana Dish e a japonesa Rakuten são tidas como duas líderes na implementação de redes Open RAN. "Vale ressaltar que ambas as operadoras são greenfield", aponta a UnB. "Estima-se que, na próxima década, haverá impulso significativo de novas redes embasadas em Open RAN na Europa, liderados pelas operadoras Deutsche Telekom, Orange, Telefônica e Vodafone".
Academia
Outro ponto colocado pela UnB é que uma validação da arquitetura pela academia seria benéfica para o desenvolvimento das redes de acesso abertas e interoperáveis.
"Estando mais atrelado à indústria do que à academia, pelo menos nesta fase em que se está passando, e diferentemente do que ocorreu com o 5G e gerações passadas, e, também, está acontecendo com o 6G, o Open RAN ainda não passou por toda a fase de análise, simulações, levantamento e comprovação de hipóteses por parte da academia".