Além de questões econômicas relacionadas à maturidade da tecnologia, a adoção da Open RAN de forma comercial no mundo ainda tem como principal desafio a integração dos múltiplos fornecedores. Esse ainda é o maior gargalo, na opinião de representantes das operadoras NTT Docomo e Vodafone, durante participação no NEC Visionary Week na última semana. A experiência de como abordar isso é o que difere na estratégia das duas empresas.
Das operadoras que já utilizam Open RAN de forma comercial, a japonesa NTT Docomo se destaca por já atuar há mais de um ano e pelos planos de expansão. O projeto, iniciado em março de 2020 seguindo diretrizes da O-RAN Alliance, já está presente em 574 cidades no país e contava em junho com 10 mil estações radiobase e 5,35 milhões de usuários em 5G. O plano para março de 2022 é de dobrar tudo isso, alcançando 20 mil antenas e 10 milhões de acessos.
A fase atual é a de implantar o 5G standalone – até então, o padrão utilizado era do não standalone. O core 5G da rede da operadora será fornecido pela NEC, mas a operação conta com ambiente multifornecedor com 15 tipos de equipamento, tanto na utilização de ondas milimétricas quanto com a agregação de portadora sub-6 GHz.
O CTO e diretor-executivo geral da divisão de inovação de P&D da NTT Docomo, Naoki Tani, coloca que os dois principais desafios são a integração e o desempenho da rede. Contudo, ele afirma já ter resolvido o problema. "Na Docomo já conseguimos interoperação entre diferentes fornecedores, temos experiência em testar. E ao colocar esse tipo de experiência na O-RAN Alliance, usamos o conhecimento acumulado, e a maioria das operadoras podem resolver da mesma forma", diz.
"O problema de performance está relacionado à conexão de equipamentos de diferentes vendors, e já foi solucionado. Mas, além disso, o desempenho e consumo de eletricidade do vRAN ao desagregar a rede pode ser desafiador. [Para tanto], podemos ter alguns aceleradores, e o plano da Docomo é de implantar isso em outubro."
Não pode haver um só
Para o diretor de arquitetura de rede do Grupo Vodafone, Santiago Tenorio, ainda é necessário amadurecimento. "O próximo desafio é a integração de sistema. E o preço que você paga ao desagregar as coisas é que você mesmo precisa integrar. Acredito que a indústria precisa adotar um padrão ou norma para isso." A operadora trabalha agora em um levantamento para discutir justamente a integração – os resultados deverão ser divulgados ainda neste mês.
Tenorio explica que não há mais tanto ceticismo em relação às possibilidades de benefícios do Open RAN em si, mas o questionamento em relação à integração ainda coloca em dúvida a implantação. Ele ressaltou que a ideia é de não haver apenas uma integradora, justamente para manter o ecossistema aberto. Caso contrário, perderia todo o caráter da tecnologia. "É comprar ilusão. Desculpe, mas isso não é Open RAN."
A Vodafone, que tem parceria com o projeto Telecom Infra Project, capitaneado pelo Facebook, opera desde junho o Open RAN com 5G FDD no Reino Unido. A empresa utiliza agora a solução de múltiplas entradas e saídas massivas (M-MIMO, na sigla em inglês) da NEC.
Realizadora do evento, a NEC afirma que "acredita no potencial da arquitetura de rede aberta", segundo o vice-presidente sênior e presidente da unidade de serviços de rede da empresa, Nazomu Watanabe. Vale lembrar que a NEC declarou em junho ter o plano de alcançar 20% do market share em Open RAN.