No projeto piloto do Grupo de Acompanhamento da conectividade nas escolas (Gape), sete instituições já estão sediando testes com solução de satélite de baixa órbita (LEO). A presidente da Entidade Administradora da Conectividade nas Escolas (EACE), Paula Martins, disse que, além da solução tecnológica em si, a gestora formada pelos vencedores do leilão de 5G na faixa de 26 GHz busca ver se os custos são justificados. Por outro lado, o governo diz que não há nenhuma intenção de utilização dessa tecnologia.
Sem revelar qual seria a fornecedora dessa solução LEO, Martins deu a informação do projeto durante evento EdTech, do portal Tele.Síntese, nesta terça-feira, 30. "São sete escolas que usarão conexão de satélites de baixa órbita. Mês que vem [junho] vamos começar a operacionalizar, e aí vamos monitorar como todas as outras tecnologias."
Essa prova de conceito será no município de Gaúcha do Norte (MT). "Nos próximos três meses já vamos ter também o resultado para ver como isso se comporta", declarou, ressaltando também que a "questão de custos" precisa fazer sentido.
A coordenadora-geral de tecnologia e inovação da educação básica do Ministério da Educação, Ana Úngari Dal Fabbro, ressaltou que a tecnologia de órbita baixa tem tido resultados positivos em outras iniciativas. "Nas experiências em alguns projetos tem funcionado muito bem e tem conseguido entregar velocidades superiores e latência melhor", disse.
"Estamos ainda nessa fase de estudos, mas estamos já testando essas novas tecnologias para pensar na possibilidade de expansão para um grupo maior de escolas", afirmou a coordenadora-geral do MEC.
Paula Martins afirma que o uso da conexão LEO fará parte da primeira etapa do projeto piloto, que atinge 177 escolas. Na fase 2, que começará em agosto, serão 4 mil escolas vistoriadas, das quais 2,3 mil já passaram por essa etapa. "Pretendemos pelo menos 2 mil escolas conectadas na próxima fase".
O projeto piloto do Gape e da EACE utiliza parte dos recursos de R$ 3,1 bilhões obtidos com o leilão da faixa de 26 GHz. A contratação da empresa prestadora de serviço tem sido feita por meio de requisição de propostas (RFP, na sigla em inglês). Além da Starlink, operadoras satelitais como a OneWeb (com a Hughes), Telesat e a futura constelação Kuiper, da Amazon, também oferecem conexão de baixa órbita.
Sem planos no MCom
Para o Ministério das Comunicações, contudo, não há previsão alguma de utilização de uso da constelação LEO. "O Ministério opera com a Telebras pelo SGDC, com velocidade nominal de 10 a 20 Mbps", afirmou ou diretor substituto do departamento de investimento e inovação da secretaria de telecomunicações do MCom, David Penha. "Não temos nenhum programa, por enquanto, ou nenhuma intenção de contratação de conexão de média ou baixa órbita. Já temos essa parceria com a Telebras."
É um posicionamento radicalmente diferente do que foi apresentado pelo MCom na gestão Fábio Faria, no governo Jair Bolsonaro, que buscou estreitar laços com a Starlink ao ponto de afirmar haver uma parceria com a empresa do bilionário Elon Musk para a conexão das escolas, mesmo sem nada ter sido formalizado – e em lugares onde já havia atendimento com o SGDC. A RNP fez uma chamada para operadoras satelitais, mas a própria empresa não se interessou em participar.
De acordo com Penha, o trabalho que tem sido feito é de checar se há sobreposição de programas e, consequentemente, convergir as políticas públicas. "A conectividade nas escolas está sempre em primeiro lugar", diz, afirmando estar "ansioso pela prova de conceito da EACE". Segundo o diretor, o MCom tem procurado estreitar relacionamento com o MEC e com a Anatel nesse sentido. "Foi interessante para redirecionar o WiFi Brasil, porque já tem os compromissos do 5G, com atuação do Gape e da EACE nas escolas. Então temos que olhar para frente e atuar em pontos onde precisa."