Executivos de algumas das principais operadoras de satélites com atuação no Brasil compartilham a aposta em um modelo multiórbita como futuro da indústria, a partir da integração de satélites geoestacionários (GEO) com modelos de órbita baixa (LEO) ou média (MEO).
Em franca implementação, a tendência foi discutida por executivos de SES, Intelsat, Telesat e Viasat durante o segundo dia do Congresso Latinoamericano de Satélites, promovido pela Glasberg Comunicações e TELETIME nesta quarta-feira, 27, no Rio de Janeiro. Apesar de diferentes estratégias, a visão de uma integração dos modelos permeou os discursos.
"Não existe a órbita perfeita", resumiu o vice-presidente de vendas da Intelsat na América Latina, Ricardo La Guardia. Uma das líderes mundiais do modelo tradicional de GEO, a operadora tem investido fortemente em parcerias (como com a OneWeb para o mercado LEO), além de buscar atualmente nos Estados Unidos autorização para atuar no modelo MEO.
"Todos estão falando muito em LEO, mas o importante é entregar de forma multiórbita, com toda a parte de serviços e suporte", apontou o executivo. Para La Guardia, será na competição nestes dois fatores que as operadoras de satélites devem se diferenciar. Vale notar que nesta quarta-feira, a Intelsat anunciou novos investimentos no Brasil, seguindo exatamente essa estratégia.
Outra gigante do segmento satelital, a SES apontou que acredita e executa a estratégia multiórbita há pelo menos dez anos, quando passou a apostar em MEO com a frota O3b. "Agora estamos indo para nossa segunda geração [de média órbita], com muito mais capacidade", citou o vice-presidente de vendas da operadora na América Latina e Caribe, Jurandir Pitsch.
Em paralelo, a SES também começou recentemente a agregar conectividade LEO da Starlink em sua oferta para o segmento de cruzeiros, em estratégia que pode ser replicada para outros segmentos como defesa, apontou Pitsch. Vale notar que essa vertical já gera receitas de 500 milhões ao ano para a SES, que espera atingir 1,5 bilhão de euros em quatro a cinco anos com ajuda da DRS (comprada em 2022) e possíveis novas compras para atendimento de governos.
Sustentabilidade
Quem também utilizou aquisições para crescer foi a Viasat, que integrou recentemente a Inmarsat e atingiu musculatura de 19 satélites em operação e outros 10 em construção. Para Leandro Gaunszer, diretor geral da Viasat Brasil, o modelo ganhador na indústria será justamente o multiórbita, ainda que desafios para execução da tendência existam.
"O GEO tem a vantagem de cobrir uma região muito grande com apenas um satélite, enquanto MEO e LEO exigem quantidades maiores e coordenação", apontou Gaunszer – citando um risco de empresas que chegarem primeiro em posições orbitais mais baixas se tornarem em uma espécie de "donas" das mesmas.
Ainda assim, a Viasat tem estudado parcerias no segmento de baixa órbita e acredita que a viabilidade técnica do LEO foi comprovada. "O que ainda gera interrogação é a viabilidade financeira do modelo", afirmou o executivo, que também detalhou planos de contingência da operadora após anomalias no seu satélite ViaSat-3 Americas. Nesse caso, diz ele, a tendência é que haja uma realocação de um dos satélites semelhantes que estavam em linha de produção para cobrir as Américas.
Por sua vez, a Telesat minimizou riscos de insustentabilidade financeira do modelo de baixa órbita – no qual a operadora canadense está investindo fortemente. A constelação LEO da empresa – a Lightspeed – teve financiamento para 198 satélites completo no mês passado e espera chegar comercialmente ao mercado em 2027, relatou o diretor geral da Telesat Brasil, Mauro Wajnberg
"Escolhemos ter a constelação de órbita baixa e entendemos que esse é o caminho para satélites de comunicação", afirmou o executivo, apontando que a boa aceitação de serviços do gênero globalmente está dissipando qualquer ceticismo com o modelo LEO. "Mas temos a frota GEO, que não vamos desprezar e que é nosso dia a dia", completou Wajnberg.
Equilíbrio
Mais cedo, a ABS já havia apontado que o mercado geoestacionário de satélites ainda guarda uma série oportunidades, em porto reforçado pelo diretor da operadora no Brasil, Estevão Ghizoni, no painel de líderes locais da indústria. "O futuro são as parcerias", resumiu o profissional.
Já o vice-presidente de desenvolvimento de negócios e diretor da fornecedora ST Engineering iDirect no Brasil, Bart Van Utterbeeck, apontou a necessidade de distinguir "ruídos e sinais" diante da onda de disrupção que tem movimentado a indústria de satélites. Feita a distinção, o profissional também comemorou o salto tecnológico dado pelo segmento – em movimento que deve ser amplificado com a chegada de novas gigantes como a Amazon no circuito.
Além de consolidar o "new space", a tendência ainda terá grande impacto no segmento de infraestrutura terrestre que suporta a cadeia satelital, nota Van Utterbeeck, que indica também um período de "new ground" marcado pela integração da cadeia com serviços 5G e provedores de nuvem. Hoje, a própria ST Engineering iDirect tem testado modems virtualizados ao lado da Azure, da Microsoft.