Rentabilização do 5G e ritmo de redes privativas preocupam Anatel; WiFi outdoor anima provedores

Vinicius Caram, da Anatel, durante o FOI 2023. Foto: Izilda França

Após diversas iniciativas para liberação de espectro – licenciado e não licenciado – para serviços de telecom no País, a Anatel está preocupada que a disponibilidade do recurso não esteja se traduzindo em número relevante de novos projetos e na rentabilização do uso das faixas.

O alerta foi realizado pelo superintendente de outorga e recursos à prestação da agência reguladora, Vinicius Caram, durante o primeiro dia do Fórum de Operadoras Inovadoras, promovido por TELETIME e Mobile Time a partir desta quarta-feira, 22.

Na ocasião, Caram lamentou que novos planos de negócios baseados em novas faixas de espectro disponíveis não estão surgindo no ritmo esperado pela agência – seja no mercado B2B ou no atendimento do consumidor final.

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Neste último caso, o lançamento dos serviços 5G pelas operadoras nacionais foi citado: das mais de 500 cidades com 3,5 GHz disponível, estações estão ativadas em apenas 81, segundo Caram. "As operadoras já poderiam colocar estações em todas, mas vai rentabilizar o investimento?", questionou o servidor, indicando que modelos ideais de negócio ainda não foram encontrados.

Algo similar ocorreria no mercado corporativo: liberada para ativações do gênero na indústria, a faixa de 3,7-3,8 GHz teria apenas 18 pedidos para uso na Anatel, lamentou Caram – que vê potencial de "milhares" de usuários do recurso. Pedidos da cadeia produtiva para uso de faixas em 2,3 GHz (16 solicitações), 2,4 GHz (um pedido) e ondas milimétricas (dois) também foram considerados abaixo do esperado.

"Não falta espectro para ninguém", declarou o superintendente, reiterando o entendimento de dificuldades para modelos de negócios. Sobretudo no caso do B2B, a Anatel enxerga a ausência de integradores com capacidade de trazerem abordagens fim a fim. "Sem isso, a conta não vai fechar", afirmou Caram.

WiFi 6E

Durante o debate no FOI 2023, o repesentante da Anatel apontou expectativa que o WiFi 6E outdoor seja um catalisador para uma proposta de conectividade integrada fim a fim, inclusive com o 5G e com redes para Internet das Coisas. A Anatel já liberou a faixa toda a faixa de 6 GHz para uso não licenciado como o WiFi, mas em ambientes indoor e com potência reduzida.

Agora, testes para o uso outdoor têm sido realizados e entregado resultados satisfatórios, segundo a agência – que pretende deixar as operadoras de WiFi operarem livremente, sem restrições de cobertura ou hand-off entre pontos de acesso. Na prática, o uso da faixa de 6 GHz na tecnologia permitiria a criação de grandes redes WiFi metropolitanas com capacidade para velocidades relevantes (o que poderia colidir com pretensões das teles que adquiriram espectro licenciado).

Vinicius Caram, por sua vez, afirma que gostaria de ver uma integração entre essas futuras redes de WiFi e a cobertura 5G, a partir de acordos comerciais entre as empresas. Segundo o superintendente, a Anatel não enxerga restrições regulatórias para a consolidação das novas alternativas.

Provedores

Presidente da Dynamic Spectrum Alliance (DSA), Martha Suarez apontou durante o FOI 2023 um "momentum" na chegada de equipamentos e na consolidação de modelos em WiFi 6E. Ajudaria o fato que nas Américas, países com mais de 90% do PIB regional apoiaram a liberação de todo o 6 GHz para este uso, afirmou a dirigente, que vê "trabalho excelente" da Anatel no tema.

Neste sentido, Suarez defendeu a necessidade de todo o recurso espectral da faixa para uso não licenciado como o WiFi (vale lembrar que há pressões para que a decisão do Brasil seja revista). Já Vinicius Caram reconheceu que o 6 GHz em usos outdoor seria menos complicada na metade inferior na faixa, indicando um caminho pelo qual a utilização poderia começar no Brasil após os testes em curso.

Representando provedores regionais de Internet, a Abrint afirmou durante o FOI 2023 que empresas do segmento têm grande expectativa em explorar o recurso. "Esperamos estar prontos para o WiFi outdoor [em 6 GHz] assim que a Anatel liberar, mesmo que seja na faixa inicial", afirmou a conselheira da entidade, Cristiane Sanches.

A Abrint tem inclusive parceria fechada com a DSA e empresas para operar o sistema de coordenação automática de frequências (AFC) que permita a consolidação do modelo de negócios, lembrou a dirigente. Esse sistema é necessário para que as operações outdoor com WiFi6E possam evitar em outros usos do espectro de 6 GHz, como links de microondas e transmissões via satélite. Segundo Sanches, a intenção da Abrint é deixar a plataforma disponível a qualquer provedor de Internet associado.

Outras opções de acesso ao espectro por provedores foram citadas por Sanches, como o uso secundário e TV white spaces. Vinicius Caram, por sua vez, colocou este último tema como não prioritário, até pela abundância de outras opções de faixas. Ele considera que até será, no futuro, depois da implementação do padrão 3.0 de TV digital e a liberação de parte de espectro na faixa de 600 Mhz, mas ele não considera, nesse momento, necessário fazer um debate sobre novos usos da faixa de espectro destinada à radiodifusão.

B2B

Presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Igor Calvet reforçou o alerta de Caram sobre a falta de atratividade nas ofertas B2B baseadas no novo espectro na praça. "Espectro não é problema, o problema é fechar a conta. O 5G ainda não dá dinheiro no privativo e esse é o problema na evangelização que fazemos".

A própria ABDI tem feito testes sobre redes privativas ao lado da WEG, em projeto que deve ter novos resultados publicados entre abril e maio. Um outro projeto que tem mobilizado a agência e a própria Anatel é a criação de um selo e de uma premiação para ativações bem-sucedidas de redes privativas. O trabalho ainda está em fase de planejamento.

Fórum de Operadoras Inovadoras

O Fórum de Operadoras Inovadoras continua nesta quinta-feira, 23, no WTC, em São Paulo. Em seu segundo dia, o evento promovido por Mobile Time e TELETIME contará com painéis sobre os desafios comerciais e regulatórios das MVNOs, FWA e integração de ISPs com as redes neutras.

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