Desligamento da tecnologia 2G ainda está longe do horizonte das operadoras no Brasil

De acordo com o último balanço da Anatel com dados das operadoras móveis e referente a maio, a base 2G brasileira ainda contava com cerca de 41 milhões de acessos, uma queda de mais de 30% frente ao ano anterior. Com um cálculo simples, é possível estimar que, caso mantido o ritmo da redução, a tecnologia da segunda geração de redes móveis poderia ser desligada já no início de 2019 – apenas dois anos depois da norte-americana AT&T, que anunciou o switch-off em janeiro deste ano. Porém, isso não necessariamente está nos planos das operadoras, que prevêem a convivência de quatro gerações de rede móvel, incluindo a futura 5G. Ou a 2G pode não ser sequer a tecnologia a ser desligada primeiro. Uma coisa é fato: o GSM já não é prioridade nem para a empresa, nem para o consumidor, mas ainda vai demorar para morrer.

O que as teles têm feito por enquanto é remanejar recursos e usuários para tecnologias mais recentes. Naturalmente, há menor demanda do consumidor pelos celulares mais simples, do tipo featurephone. Por sua vez, as operadoras oferecem incentivos para a migração – especialmente para o 4G, onde disponível.

Há ainda o refarming de frequências, separando pedaços das faixas originalmente disponibilizadas para GSM e realocando-os para o LTE. Isso é parte da estratégia de ampliação de cobertura da TIM (além do recém-liberado espectro de 700 MHz). A empresa inicialmente dedicou 5 MHz da faixa de 1.800 MHz para 4G. "À medida em que caiu mais um pouco (a base do) 2G, mudamos para 10 MHz, assim tem mais capacidade. E agora, todo o interior de São Paulo e o Estado do Rio de Janeiro já passamos para 15 MHz, então continuamos a fazer mudanças", declara o CTO da operadora, Leonardo Capdeville. Ele explica, por outro lado, que a faixa de 900 MHz (também dedicada à 2G) não conta com a mesma capacidade, com blocos de apenas 2,5 MHz, não sendo adequada para o refarming por enquanto.

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Capdeville acredita que pensar em desligamento total é um assunto relevante, mas ainda um futuro tão distante. Mas o mais provável é que isso não vá ocorrer antes da chegada de uma nova geração. "Do ponto de vista de operação, de eficiência, estamos olhando horizonte de cinco ou seis anos, quando teremos que lidar com 2G, 3G, 4G e 5G. São quatro tecnologias distintas simultaneamente e que são redes sobrepostas, e é muito difícil fazer toda a coordenação e manutenção, isso onera muito o serviço", analisa. Ele lembra ainda que o GSM terá alguma relevância nas conexões máquina-a-máquina (M2M), cujos módulos seriam mais complicados de se trocar de tecnologia.

Por e-mail, o diretor de engenharia móvel da Vivo, Átila Branco, ressaltou a dificuldade do desligamento total de uma tecnologia, citando experiências anteriores com o CDMA e o WLL no Brasil. Ele afirma que a empresa trabalha com metas internas, mas diz que "não é possível antecipar uma data de desligamento do 2G sem que tenhamos certeza de que 100% dos aparelhos tenham migrado para 3G ou 4G, incluindo os dispositivos M2M". Há viabilidade técnica, diz, desde que o trabalho seja coordenado com o mercado, operadoras e Anatel, incluindo na venda de aparelhos que ainda sejam apenas GSM.

A Vivo também se vale da estratégia do refarming da faixa de 1,8 GHz, com meta de "utilizar o máximo possível até o fim de 2018", e espera que isso ajude na limpeza da base. "Esse é o caminho correto e que garante uma transição gradual, com qualidade e sem prejuízo para nossos clientes." Claro e Algar também executam a estratégia de realocar frequência para o LTE.

A Oi enviou posicionamento dizendo que "incentiva e acompanha a migração de seus assinantes para as redes 3G e 4G". A empresa planeja o refarming também, que será executado conforme as migrações ocorram em cada cidade e desde que sem prejuízo para a base. Por outra frente, a operadora também realiza ações promocionais para estimular a migração de SIMcards com as tecnologias mais recentes.

Base M2M

O CTO da Nokia Brasil, Wilson Cardoso, explica que a tática do refarming ajuda, mas não resolve por completo o problema porque as empresas precisam deixar banda residual para o GSM. Mas os pontos principais são os terminais, incluindo a base M2M. "Muita gente ainda não consegue comprar telefone além de featurephones", lembra. Há ainda quem escolha comprar esses celulares mais simples para servirem de "reserva" e, de certa forma, descartáveis. "O segundo ponto que precisamos analisar na curva quando decresce é que vai ter uma base muito grande de M2M, com pontos de venda, de alarmes, de rastreamento", diz. Segundo dados da Anatel, ainda havia 13,5 milhões de acessos máquina-a-máquina no País em maio.

Considerando tudo isso, Cardoso projeta o desligamento da 2G para 2022. "Em dois anos e meio e três anos, é muito difícil na América Latina, mas não é impossível. Em cinco anos é realista. A partir de 2020, o LTE já estará na curva de decréscimo de preço, terá disponibilidade extremamente grande, especialmente com IoT, NB-IoT, que vai puxar a migração dos M2M", conta.

3G morre antes

Cardoso levanta uma possibilidade como próximo passo das operadoras brasileiras: "Até por uma aposta, o 3G deve morrer antes do 2G, e eu continuo acreditando nela, porque tem poucos M2M em 3G; e quem pode ter 3G hoje, pode renovar para 4G". Leonardo Capdevile, da TIM, acha isso muito difícil. "Gostaríamos que acabassem os dois, se tivéssemos condições de investir em única rede. Existem tendências que apontam para isso, mas o volume de terminais 3G no Brasil ainda é muito grande", diz. Ele lembra, contudo, que as frequências do WCDMA de 850 MHz e 2.100 MHz são interessantes para refarming também. Átila Branco, da Vivo, acredita que tudo dependerá do custo dos terminais 3G, que deverão ficar mais baratos mais rapidamente do que os de 4G no mercado para consumidor final.  No mundo corporativo, por outro lado, essa mudança de dispositivos deverá ser mais lenta. "Como não temos ainda um padrão ou referência de preços para dispositivos IoT, não é possível prever o fim dos dispositivos 2G", conclui.

3 COMENTÁRIOS

  1. É o primeiro artigo que vejo tratando deste tema, parabéns.

    É importante lembrar que infelizmente ainda há diversos municípios brasileiros servidos apenas com o 2G. Acredito que um bom impulso é já instalar em tais localidades o 4G.

    Em relação a faixa de 900 MHz, creio que as porções 2.5 MHz podem ser bastante bem aproveitadas se forem destinadas exclusivamente a internet das coisas (LTEs Cat: 0, M1 ou NB-IoT). Em todas estas categorias a máxima largura de banda utilizada pode ser 1.4 MHz.

    No entanto, o nível de dependência do celular é tão grande que se as operadoras estipulassem que em 31/12/2018 as redes 2G seriam desligadas, os portadores de dispositivos usuários somente da 2G buscariam alternativas para se adequarem a nova realidade.

  2. Equipamentos de rastreamento duram em média 8 anos, os chineses só fabricam equipamentos na faixa de 850/900/1800/1900 Mhz

    Se a rede 4g funcionar em alguma dessas faixas, como diz o cabo Daciolo, Glória a Deuxxx.

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