A chegada ao mercado brasileiro de redes "neutras" por parte das grandes operadoras de telecom tem chamado a atenção de provedores regionais. Contudo, a lista de preocupações do segmento com o modelo só cresce.
Em debate virtual com ISPs do Sudeste promovido nesta terça-feira, 15, empresas da categoria mostraram interesse na contratação de infraestrutura a partir do formato, ainda que ressalvas econômicas, técnicas e regulatórias tenham sido apontadas.
CEO da mineira Blink Telecom, Alessandro Teixeira apontou diversas vantagens teóricas no modelo (como economia de capex e melhor ocupação de postes), mas afirmou que as duas propostas até agora analisadas pela empresa ainda têm valores altos.
O executivo também teme que, ao atrelar a expansão de redes à dinâmica dos operadores neutros, os ISPs percam a agilidade de entrada em novos mercados. Em paralelo, Teixeira pontuou o risco de oito a dez contratantes distintos utilizarem e sobrecarregarem uma mesma infraestrutura; neste ponto, uma regulação por parte da Anatel seria bem-vinda, acredita ele.
CEO da Alterede, Maurício Iezzi afirmou que, entre as propostas cotadas pela empresa, houve a promessa que a rede neutra suportaria no máximo dois ou três clientes. O executivo pontuou que tem interesse no modelo, mas manifestou torcida que bons níveis de serviço sejam preservados.
"Já cancelamos praticamente todos os contratos de última milha [com grandes] e construímos rede própria porque o SLA [acordo de nível de serviço] nunca era cumprido. Com as redes neutras, acredito que vai ser diferente", afirmou Iezzi, durante evento da revista RTI.
Qualidade
CEO do Grupo Conexão, Gilbert Minionis não compartilha do mesmo otimismo. Para o executivo da holding (que concentra ISPs no Nordeste, mas com expansão para o Sudeste), o modelo vendido pelas grandes teles guarda mais preocupações que benefícios para os pequenos.
"Para controlar a qualidade dos serviços, precisamos controlar nossas redes", afirmou o executivo – adicionando que o diferencial dos ISPs sempre foi baseado em bons níveis de satisfação do cliente. "Não estou seguro que seja vantajoso economicamente", completou Minionis.
Já o CEO da Megatelecom, Carlos Eduardo Sedeh, cobrou um modelo isonômico "em preço e atendimento" para o sucesso do formato. No entanto, ele também lembrou que as propostas das grandes até agora não são exatamente neutras, visto clientes âncora do mesmo grupo econômico das donas da infraestrutura.
"A gente ainda não tem essa figura de rede neutra no Brasil", afirmou Sedeh. Na avaliação dele, quem mais se aproxima de tal papel são as operadoras de torres, que já adentram o segmento.
Por último, o CEO da Forte Telecom, Sérgio Simas, entende que o relacionamento entre ISPs e os players "neutros" vai demandar uma certa paciência. "É um formato que vai levar tempo para amadurecer, então a experimentação tem que começar agora".