A nova onda de compartilhamento de infraestrutura de redes fixas a partir das chamadas redes neutras deve exigir uma série de mudanças técnicas, regulatórias e comerciais no setor de telecom. A avaliação é de operadoras de infraestrutura que já atuam no modelo de compartilhamento de torres para redes móveis.
Gerente sênior de engenharia da American Tower, Rodrigo Boccasius destacou que a empresa, tradicional gestora de torres para redes móveis, já tem uma operação comercial de redes fixas para compartilhamento (em Minas Gerais). Contudo, ao contrário do modelo da operadora, que já nasceu neutro, novos movimentos no mesmo sentido devem exigir cuidado.
"Existem várias iniciativas sendo faladas e há alguns desafios adicionais como endereçar questões de chinese wall no caso de empresas que operam verticalmente", afirmou Boccasius, durante evento virtual sobre compartilhamento de redes promovido pela Fiber Broadband Association (FBA) nesta quarta-feira, 23. "Teremos barreiras tecnológicas, regulatórias e comerciais, mas a grande mudança que precisa ser feita é cultural", completou o executivo da American Tower.
Diretor de operações da concorrente Phoenix Tower, Marcos Faria seguiu caminho similar: segundo ele, tal mudança vai gerar oportunidade para operadoras se preocuparem mais com a camada de clientes, deixando "infraestrutura para quem está focada nisso".
Postes
Faria também destacou o potencial de operadoras neutros de infraestrutura em um eventual reordenamento das redes aéreas em postes. "Uma fibra no poste pode engolir todas os cabos que estão lá", afirmou o diretor da Phoenix, que tem operação de rede neutra de fibra ótica em Minas Gerais.
Para os executivos presente no debate da FBA, é necessário que empresas de telecom aproveitem o momento para posturas mais racionais no lançamento de redes, evitando assim duplicações de infraestrutura.
Regulação
Diretor de vendas para América Latina e Caribe da fornecedora Corning, Tadeu Viana pontuou que a inovação do modelo de compartilhamento de redes não pode ser bloqueada pela regulação. Neste sentido, o executivo defendeu que eventuais novas regras para o formato sejam estabelecidas a posteriori, em situação semelhante a ocorrida em outros segmentos da economia que passaram por disrupções.
Há uns 15 anos a sociedade civil critica a irracionalidade de multiplicar a infraestrutura de telecomunicações, ainda mais em um país pobre e desigual como o Brasil.
Mas as teles preferiram a irracionalidade, construíram redes concorrentes onde havia recursos e abandonaram uma boa parte do país. E de quebra foram atropeladas por serviços OTT.
Agora, endividadas e necessitando de uma massa enorme de recursos para o 5G, passam a defender o óbvio como se fosse uma grande novidade.