Os investimentos feitos ao longos dos últimos anos pelas operadoras em preparação para o 5G começam a dar frutos. Conforme apresentado em painel do TeletimeTec, evento organizado por TELETIME e que aconteceu nesta segunda-feira, 4, as empresas Claro, TIM e V.tal mostraram as diferentes abordagens para a iminência do lançamento da tecnologia.
A TIM, por exemplo, investiu pesado na infraestrutura para a voz sobre o 4G, que atualmente está presente em 97% da base da operadora. De acordo com o diretor de arquitetura, tecnologia e inovação da empresa, Átila Xavier, o fallback para a voz no 5G será o VoLTE, e por isso houve esse investimento prévio para consolidar a tecnologia.
Outra preparação acabou dando certo para outra coisa: a transformação da rede para a nuvem e virtualização do 5G permitiu a incorporação da Oi Móvel. "Essa automação na rede de transporte facilita o redirecionamento dos sites da Oi para a infraestrutura da TIM. Mirando no 5G, acabamos acertando em outro alvo", menciona Xavier.
Mas a empresa continuará a se preparar. Agora, a TIM já conta com 58% do plano de data centers, o que representa presença em 57% das cidades. A meta é chegar até o fim de 2025 com 100% em ambos. Já os data centers em core de rede estão em todas as cidades, com cumprimento de 88% do objetivo plurianual. O edge ainda está em fase menos adiantada, com 50% do total esperado e presença em 48% das cidades.
O slicing de rede está também no planejamento da tele, mas não tem data ainda porque a operadora espera a finalização dos padrões definidos no 3GPP, além da falta de terminais que precisam ser compatíveis com, no mínimo, o release 16 do 5G (ou seja, com core de rede standalone, conforme exigido pela Anatel para a faixa de 3,5 GHz).
Para a TIM, a decisão atual é a de não precisar haver mudança de chip. "A ressalva é que há alguns fabricantes de terminais que têm exigência desse tipo, mas nesse caso temos outro chip disponível, de preferência de forma mais simples possível, e não posso estragar a surpresa", declara Xavier, indicando que a operadora poderá ter um programa mais conveniente para o cliente efetuar a troca do SIMcard.
Agregação
Diretor de tecnologia da Claro, Luiz Bourdot detalhou um pouco mais os planos da operadora, divulgados no último dia 30, de ofertar o máximo de capacidade para o 5G. Ele explica que será possível a agregação das faixas utilizadas com o compartilhamento dinâmico de espectro (DSS), o que significa a possibilidade de combinar as frequências FDD:
- 20 MHz em DSS da faixa 2.600 MHz
- 20 MHz em DSS da faixa de 2.100 MHz
- 15 MHz DSS na faixa de 1.800 MHz
- 10 MHz 4G da faixa de 700 MHz.
Para o 5G standalone só será possível combinar as frequências FDD que funcionem com DSS e as TDD na capacidade de 50 MHz em 2,3 GHz e mais os 100 MHz de largura de banda da faixa de 3,5 GHz. Com isso, a companhia fala em picos teóricos de mais de 2 Gbps. Ajuda também o uso das antenas de múltiplas entradas e saídas Massive MIMO de 64, 32 e oito elementos.
"No caso da Claro, estamos usando uma das frequências [2.100 MHz] como apoio para aumentar a área. O 5G DSS vai continuar funcionando, mas eventualmente deve acontecer um refarming para poder dedicar toda a frequência para o 5G", diz Bourdot. Ele explica, contudo, que essa realocação das frequências vai depender de como se comportarão as bases e a adoção da nova tecnologia por parte dos usuários.
O diretor da Claro coloca que a rede já vem sendo preparada para atender à demanda de capacidade do 5G, incluindo a agregação das redes e o backbone com projeto fotônico que "aumentou muito a capacidade há uns dois anos". Perguntado sobre a possibilidade de utilização de rede neutra, ele disse que a operadora estaria aberta a "considerar qualquer possibilidade que faça sentido". A companhia também testa a utilização de nuvens públicas, especialmente para redes privadas.
RAN as a Service
A V.tal tem muito a oferecer para o 5G, conforme apontou o diretor de tecnologia e arquitetura da empresa, Mauro Fukuda. A projeção de receita para 2022 é de R$ 5 bilhões.
A estrutura da companhia atualmente tem mais de 400 mil km de fibra terrestre, bem como 26 mil km de fibra submarina (adquirida com a incorporação da Globenet como parte da negociação entre os fundos do BTG Pactual e a Oi) e 163 mil km de dutos. Além disso, a rede conta com 3.960 pontos de presença/estações distribuídos em mais de 2.380 municípios, incluindo parte da infraestrutura da Globenet na Argentina, Venezuela, Colômbia e Estados Unidos.
A companhia pretende oferecer ao 5G, além do backbone e backhaul, até mesmo a oferta fim a fim com ambiente virtualizado com elementos de controle, rede definida por software (SDN) com possibilidade de fatiamento (network slicing), e a rede de acesso de rádio como serviço – RAN as a service. Um caso de uso, diz Fukuda, seria o de operadoras atuando com a faixa de 26 GHz e precisando de uma densa camada de small cells, que poderiam ser compartilhadas entre operadoras.
APIs de rede
Outro ponto é a de sincronismo de rede, uma vez que a modulação das faixas da quinta geração são de duplex dividido por tempo (TDD). "O 5G precisa ter sincronismo não só de tempo, como de frequência. Precisa de um relógio de alta precisão para o controle de fase", diz.
A V.tal, diz Fukuda, preparou a sua rede para conseguir atender as demandas dos operadores móveis, inclusive em 5G, pensando primeiro nas necessidades que os futuros clientes poderiam ter e depois, em como a arquitetura da rede seria organizada para isso. O grande desafio é o atendimento "multi-tenant", ou seja, com vários potenciais clientes, cada um com um requisito de serviço. "O cliente pode ter a necessidade de um serviço que utilize funções de slicing da rede 5G, e com isso o core dele precisará conversar com o core da nossa rede", explica Fukuda. Por isso, a rede da V.tal foi desenhada para ter uma camada de APIs que permitirá a conexão dos diferentes serviços dos usuários da rede.