Qualidade da conexão e fim da franquia afetam uso da Internet de crianças e adolescentes

Dados divulgados nesta quarta-feira, 3, pela pesquisa TIC Kids Online Brasil 2022 mostram que qualidade da conexão e a disponibilidade de dispositivos adequados para o acesso à Internet podem limitar a participação de crianças e adolescentes no ambiente digital. A pesquisa, que produz indicadores sobre oportunidades e riscos relacionados à participação online da população brasileira de 9 a 17 anos, afirma que a baixa velocidade e a falta de créditos no celular pré-pago são condições percebidas com frequência por parte dos entrevistados para o uso da Internet.

A pesquisa foi lançada nesta quarta pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), com a coleta e sistematização conduzida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Os dados foram coletados entre junho e outubro de 2022 e ouviu 2.604 crianças e adolescentes e 2.064 pais ou responsáveis.

Entre as crianças e adolescentes usuários de Internet, 39% daqueles pertencentes às classes DE, 30% da C e 18% das AB reportaram que "sempre ou quase sempre" sentem a velocidade da conexão ficar ruim. Disseram que "sempre ou quase sempre" ficam sem Internet porque os créditos do celular (franquia de dados) acabaram: 15% para usuários das classes AB, de 19% para os entrevistados da classe C, e de 28% para os das classes DE. Além disso, 25% dos usuários das classes DE alegaram ter deixado de fazer alguma atividade online com medo de os créditos terminarem.

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A pesquisa mostrou ainda que 11% do total de crianças e adolescentes que são usuárias de Internet reportaram ter ficado sem celular ou computador para acesso à rede "sempre ou quase sempre". Ao fazer o recorte desse indicador por classe social, os resultados foram: 14% para a DE, 12% para a C e 3% para as AB.

"A questão central não é apenas ter acesso à Internet ou não, mas que crianças e adolescentes brasileiros tenham condições de acesso apropriadas para uma conectividade significativa, que lhes permita desenvolverem habilidades digitais e se beneficiarem da participação online. O limite no acesso pode restringir direitos fundamentais dessa população na sociedade da informação", analisa o gerente do Cetic.br|NIC.br, Alexandre Barbosa.

Em relação ao bem-estar online de crianças e adolescentes, 19% da população de 9 a 17 anos reportaram que "sempre ou quase sempre" ficam chateados ou incomodados com coisas que acontecem na Internet. As proporções foram maiores para usuários de 15 a 17 anos (22%), comparados aos de 11 a 12 anos (14%).

Em relação aos dispositivos usados para se conectar à Internet, o telefone celular foi o mais utilizado por crianças e adolescentes (96%), sendo que foi o único dispositivo utilizado por 56% dos usuários. O acesso à rede pelos usuários de 9 a 17 anos via computadores foi de 43%, porcentagem menor do que os que se conectaram pela televisão (63%). O acesso à Internet pela televisão foi maior nas classes AB (91%) – as proporções para as classes C e DE foram de 70% e de 41%, respectivamente.

Habilidades digitais

A TIC Kids Online Brasil 2022 também investigou a percepção de crianças e adolescentes sobre suas habilidades digitais. Em geral, os usuários de Internet de 11 a 17 anos se mostram confiantes quanto a habilidades consideradas operacionais – como baixar aplicativos (94%), e se conectar a uma rede WiFi (90%). Quando a pergunta foi se sabiam como verificar o valor gasto em um app, a porcentagem foi reportada pela menor parte dos entrevistados (46%).

Entre as habilidades informacionais, a proporção dos usuários de 11 a 17 anos que relataram saber escolher que palavras usar para encontrar algo na Internet foi de 77%. O percentual daqueles que reportaram que sabiam verificar se uma informação encontrada na rede estava correta foi menor (57%), assim como dos que afirmaram saber checar se um site era confiável (62%).

Na edição de 2022, o estudo traz indicadores inéditos sobre o conhecimento de crianças e adolescentes sobre o funcionamento das plataformas digitais. Aproximadamente metade (51%) dos entrevistados de 11 a 17 anos concordou que todos encontram as mesmas informações quando pesquisam coisas na Internet, enquanto para 43% deles o primeiro resultado da pesquisa é sempre a melhor fonte de informação.

Ainda conforme o levantamento, 60% dos entrevistados nessa faixa etária concordaram que curtir ou compartilhar uma publicação pode ter um impacto negativo em outras pessoas, enquanto metade dessa faixa etária concordou que a primeira publicação vista nas redes sociais é a última que foi postada por um de seus contatos. Já 74% concordaram que empresas pagam pessoas para usar seus produtos nos vídeos e conteúdos publicados na rede, e 61% que usar hashtags aumenta a visibilidade de publicações.

"Nesta edição, houve maior detalhamento na coleta de indicadores sobre as habilidades digitais, que são fundamentais para compreender a participação de crianças e adolescentes no ambiente online. De modo geral, a pesquisa indica uma maior prevalência de habilidades operacionais em comparação às habilidades informacionais, que são aquelas que possibilitam maior resiliência dos usuários frente ao fenômeno da desinformação", destaca Barbosa.

Redes sociais e streaming

Dos cerca de 24 milhões (92%) de crianças e adolescentes brasileiros de 9 a 17 anos usuários de Internet, 86% reportaram possuir perfil em redes sociais (o que representa aproximadamente 21 milhões). A participação em redes sociais ocorre em altas proporções em todas as faixas etárias, atingindo quase a totalidade dos usuários de Internet de 15 a 17 anos (96%).

Ouvir música (87%) e assistir a vídeos, programas, filmes ou séries (82%) figuram entre as práticas online mais realizadas por esse público – atividades multimídias amplamente presentes nas plataformas digitais. O estudo revelou ainda que 79% enviaram mensagens instantâneas e 58% jogaram conectados com outros jogadores.

A pesquisa ainda indica que 34% dos entrevistados de 9 a 17 anos procuraram informações sobre saúde na Internet nos 12 meses anteriores à realização do estudo. Além disso, 39% dos usuários de 9 a 17 anos afirmam que a Internet os ajudou a lidar melhor com um problema de saúde.

Privacidade

Em 2022, a pesquisa TIC Kids Online Brasil passou a investigar também a percepção dos entrevistados sobre atitudes e estratégias para a proteção de sua privacidade no uso da rede. De acordo com a pesquisa, 79% dos usuários de Internet de 11 a 17 anos concordaram que são cuidadosos com informações pessoais que postam, e 73% com os convites de amizade que aceitam na Internet. Nessa mesma faixa etária, 77% declararam que só utilizam aplicativos ou sites em que confiam, e 76% que são cuidadosos com os links de vídeos em que clicam.

Um percentual menor de entrevistados reportou que fornecem apenas o mínimo de informações pessoais possível ao se registrarem online (58%), e que leem os termos de privacidade de aplicativos ou sítios web que usam (55%).

Quanto às estratégias adotadas para proteger a sua privacidade, mais da metade dos usuários de 11 a 17 anos reportou ter bloqueado mensagens de alguém com quem não queriam conversar (63%); ter usado de senhas seguras (58%) e alterado as configurações de privacidade para que menos pessoas pudessem ver o seu perfil (52%). Em menores proporções, indivíduos da mesma faixa etária afirmaram já terem excluído os seus registros de históricos de busca (38%) e escolhido usar aba anônima ou privada em um navegador da Web (18%).

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