O número crescente de constelações de satélites (sobretudo de baixa órbita, ou LEO) está ampliando a preocupação do segmento com a gestão de detritos espaciais e a necessidade de colaboração entre players da indústria, segundo a Embratel Star One. Coordenadora de controle orbital de satélites na operadora brasileira, Erika Rossetto abordou o tema durante o primeiro dia do Congresso Latinoamericano de Satélites – organizado por TELETIME e Glasberg Comunicações e iniciado nesta nesta terça-feira, 31.
"Não é que não pode ter constelação, mas temos que saber do desafio a ser enfrentado e que cada um faça sua parte, com investimento para reduzir o risco de colisões. Há várias outras constelações vindo e o problema vai ficar mais complexo", afirmou Rossetto, na ocasião.
Representante da StarOne na Space Data Association, a profissional observou que atualmente, 117 constelações distintas já contam com pelo menos um artefato no espaço – sendo 15 delas de baixa órbita e 47, responsáveis por algum serviço de Internet. Entre as empresas focando em LEO, apenas a SpaceX contaria com 1,7 mil artefatos posicionados através de sua constelação Starlink, ao passo que a OneWeb somaria outros 288 satélites.
Mesmo notando que a gestão de detritos não é um desafio exclusivo dos competidores de baixa órbita, Rossetto pontuou que a concentração dos satélites do gênero é mais desafiadora que na média órbita (MEO) ou entre satélites geoestacionários (GEO). Prova disso seriam as mais de 2,2 mil manobras para evitar colisões realizadas pela SpaceX apenas no semestre entre dezembro de 2020 e maio de 2021. "Nós não fazemos mais de uma manobra de desvio por mês, enquanto eles fazem milhares por semestre", colocou Rossetto.
Em paralelo, há o fato de satélites abaixo de 600 km terem reentrada na Terra prevista em algum momento dos próximos anos – ao contrário dos artefatos GEO. "É necessário um cálculo de reentrada segura para tirá-los de órbita", observou a profissional da StarOne.
Medidas
Diante do cenário, Erika Rossetto teme que a situação se torne insustentável a partir de 2029 caso medidas não sejam tomadas. Um caminho de colaboração, contudo, já estaria sendo trilhado. A própria SpaceX estaria dialogando com pares para ingressar em associações setoriais como a Space Data Association, segundo a coordenadora de controle orbital da StarOne.
Uma série de ações para "limpeza" espacial também estão ganhando corpo ao redor do mundo. Entre elas, a RemoveDebris, que deve utilizar um satélite similar a um arpão para retirar até 400 toneladas de detritos por missão. O projeto está em fase de testes e terá foco justamente na baixa órbita.
Já outras iniciativas querem utilizar feixes ou até mesmo um canhão de laser para tentar reposicionar artefatos em risco; Japão e Rússia são alguns países que apostam na possibilidade. E ao lado da Clearspace, a Agência Espacial Europeia (ESA) também prepara investimentos na área.
Os esforços são necessários: atualmente, apenas entre o que é possível rastrear, já estão contabilizados 700 mil objetivos com mais de 1 cm orbitando em volta da Terra. Rossetto nota que 42% são provenientes de fragmentações, ao passo que 22% são satélites inativos e 17%, restos de foguetes.