Desafio do 5G é financeiro, afirma Claro; Brisanet defende subsídio rural

Ainda que em estágios diferentes na implementação de serviços 5G, Claro e Brisanet defenderam nesta terça-feira, 28, o componente financeiro como grande obstáculo a ser superado na consolidação da quinta geração de redes no País.

O assunto foi tratado por executivos das empresas e da fornecedora Huawei durante o Teletime Tec, promovido por TELETIME em São Paulo. CEO da Brisanet, José Roberto Nogueira apontou equação financeira especialmente complexa em áreas rurais e distritos afastados de cidades que reuniriam população de 50 milhões, ou cerca de 25% dos habitantes do País.

"Nessas áreas é preciso ajuda de políticas públicas, com recursos de longo prazo e subsídios. Não dá para implementar política pública deixando esses 50 milhões de fora", afirmou Nogueira – notando que as áreas dificilmente serão exploradas por grandes teles e que a própria Brisanet deve utilizar recursos captados em mercado para expansão do 5G em áreas urbanas.

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Neste sentido, a saída para áreas rurais e afastadas seria a ajuda de recursos públicos, defende a operadora cearense. Nogueira calcula que cerca R$ 5 bilhões a 6 bilhões ao ano seriam necessários para financiamento das localidades em todo o território nacional, ou volume bem acima do disponibilizado hoje. "A gente fala de Fust, mas ele é muito pouco: está próximo de R$ 1 bilhão ao ano e não está destinado todo para áreas rurais", apontou o chefe da Brisanet.

Dessa forma, Nogueira defendeu novos esforços de complementação do fundo setorial com outras fontes, como recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que teria cheques disponíveis para este fim. Em um arranjo possível sugerido pelo empresário, o governo poderia captar dinheiro com o banco de fomento a taxas de mercado e financiar operações de 5G rural com recursos subsidiados (como taxas de 2% ou 3% ao ano).

Para arcar com a diferença entre as taxas, Nogueira sugeriu que o governo avalie até mesmo o fim da modalidade não reembolsável do Fust, que hoje pode financiar projetos a fundo perdido. Dessa forma, um "prejuízo" da diferença entre as taxas de juros seria compensado com o não desembolso dos valores não reembolsáveis, deixando apenas a modalidade reembolsável do fundo.

No momento, a Brisanet já está estruturando sua rede 5G em um modelo de soft launch. A empresa espera encerrar o ano cobrindo 4 milhões de pessoas e a geração de receitas a partir de 2024, após investimentos grandes já mobilizados.

Vale lembrar que há alguns meses a regional reclamava que a homologação necessária da rede 5G standalone junto às fabricantes de celulares estava sendo problemática, mas desde então atualizações já permitiram comunicação com 35% da base de aparelhos 5G no mercado, ante 5% no começo do ano. A Brisanet estima que em 2024 a marca passará para 60% do parque 5G.

Outro desafio que a Brisanet enfrenta é a lentidão no processo de conversão da base de celulares ao padrão 5G standalone. "A gente começou com 4G na frequência de 2,3 GHz e por isso já podemos chegar a uma base maior de usuários, mas quem não tem essa faixa e só tem 5G SA vai ter que esperar mais um pouco".

De forma geral, Nogueira também afirmou que o o setor "espera agora que aquelas promessas que os fornecedores e outros operadores fariam em relação ao 5G se concretizem". "Precisamos ver aquilo tudo se transformando em realidade", diz.

Claro

Em um momento bem distinto da operação 5G está a Claro, que reportou se aproximar dos 10 milhões de terminais 5G e do sinal ativo em mais de 200 cidades com ajuda de 5 mil sites, segundo o CTO da operadora, Andre Sarcinelli. A avaliação de retorno, contudo, é algo que a empresa avalia com atenção.

"O maior desafio é transformar obrigações [de cobertura] em algo que seja rentável. O desafio continua no lado financeiro, e não no técnico", afirmou o executivo. A Claro não vê aumento do tempo de uso de Internet de usuários 5G, mas o consumo de dados tem até dobrado em determinados casos, com impulso da demanda por vídeos e impacto direto nos custos.

Alinhar em uma equação esse aumento da demanda com a receita média por usuário seria a tarefa, sobretudo na medida em que a penetração de smartphones 5G deslanchar. A empresa já teve uma prévia do cenário no GP de F1 do Brasil, onde praticamente 50% dos smartphones de espectadores já eram 5G. Mas isso não se reflete necessariamente em novas receitas, exceto pelo maior consumo de dados. Segundo ele, o 5G tem muita coisa a se realizar ainda no mercado B2B, já que é uma tecnologia pensada para atendimento ao mercado corporativo inclusive. Mas isso virá com as atualizações da tecnologia.

"Nas grandes capitais tem potencial de rentabilização de maneira mais rápida, mas não imediata", reconheceu Sarcinelli. "Já quando vamos para o interior, que têm mais obrigações, o retorno é bem mais longo".

Espectro e adensamento

Quem também se alinhou com o pleito de Claro e Brisanet foi a fornecedora de tecnologia 5G Huawei. "A forma brasileira de fazer o leilão foi muito bem-feita, mas ainda há ajustes para serem feitos e precisamos estimular governos para novas políticas públicas, para áreas onde não há retorno positivo para investimentos", apontou Carlos Lauria, diretor de assuntos regulatórios da Huawei.

Ele vê, contudo, um desafio de crescimento que é a garantia de espectro disponível, especialmente na faixa de 6 GHz. "O nosso trabalho é para garantir nos debates da WRC que essa faixa esteja disponível quando for necessária", diz o executivo.

Aldo Clementi, diretor de desenvolvimento de negócios da IHS Tower, também vê uma oportunidade importante de crescimento no campo como grande oportunidade para o setor de telecomunicações. "Existem empresas e negócios que precisam de cobertura e o Brasil ainda é muito carente de cobertura nessas regiões". Ele aponta a oportunidade de trabalho em pequenas cooperativas, mas reconhece que existe, nos modelos de implementação de redes atual, um desafio logístico. "Temos em torno de sete etapas para colocar um site em funcionamento. Quando vai para uma região mais afastada, isso significa um custo muito alto. Nosso desafio está em tentar reduzir essas etapas e simplificar o processo, para reduzir o custo para as operadoras de atendimento rural.", diz ele. Ele lembra que a chegada das novas constelações de satélite também pode ajudar a reduzir o custo de backhaul.

Já Janilson Bezerra, diretor de inovação da American Tower, vê como próxima etapa o adensamento das redes urbanas, e as configurações de rede com uso de equipamentos street level é a grande aposta da empresa. "Quando as operadoras chegarem a 20%, 25% de penetração do 5G, esse adensamento se torna inevitável". No Brasil, explica Sarcinelli, isso só não aconteceu porque as operadoras têm uma posição confortável de frequências.

"Precisamos pensar como será esse adensamento de rede dentro da lógica de custos das operadoras, e é importante que sejam redes de baixo custo", diz Bezerra, da American Tower. Lucas Aliberti, head de atacado da V.tal, vai na mesma linha, mas chama a atenção para outras necessidades das operadoras que podem ser atendidas pelas empresas de infraestrutura, como data centers e cloudificação na ponta da rede. "Por isso entramos no mercado de data centers e estamos pensando em uma rede que atenda o mercado de 5G de maneira específica", disse Aliberti no debate.

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