A RK Partners desistiu da ação em que questionava a venda da sucata da Oi, e com isso a operadora e a V.tal estão liberadas do último impedimento que havia para a conclusão do acordo, que já foi homologado pela justiça e é parte do plano de recuperação judicial que está sendo elaborado pela operadora. Não estão claros os motivos da desistência da ação, mas o fato é que o fato já está homologado, de modo que a liminar obtida pela RK Partners na 1ª Câmara de Direito Privado do Rio de Janeiro perde o efeito e Oi e V.tal têm a luz verde para iniciar o processo de retirada das redes.
Trata-se de um projeto monumental de reciclagem que se seguirá daqui para frente. Em troca, a V.tal abre mão de até 72% de um crédito que tinha com a Oi decorrente ainda do acordo de venda da Globenet. Os valores não são públicos, mas este acordo previa contratação de capacidade pela Oi entre 2025 e 2028, a um custo de quase R$ 6 bilhões. Em maio, a operadora apontava dívida extraconcursal com a V.tal de R$ 5,5 bilhões, dos quais 72% representariam cerca de R$ 3,9 bilhões em possível desconto e abatimento, se for considerado o valor de face da dívida.
O tamanho da empreitada de reciclagem dá uma dimensão do tamanho que a rede de cobre da Oi chegou a ter.
Trata-se de uma infraestrutura de 371 mil km de cabos, totalizando 380 mil toneladas de metal. Os dados constam do levantamento feito pelo "Laudo de Avaliação para a Proposta de Cessão Onerosa da Sucata" elaborado como parte das negociações entre a Oi, a V.tal e a RK Partners determinada pela Justiça, documento a que este noticiário teve acesso com exclusividade. O laudo foi encomendado pela Oi à empresa Acce Consultoria e Engenharia, e traz detalhes importantes da dimensão desse ativo.
Segundo o levantamento, dos 371 mil km de cabos de cobre, 98 mil km são cabos de alta capacidade subterrâneos. São cabos com até 2400 pares (cada par corresponde a uma linha de telefone fixo). Outros 273 mil km são cabos de baixa capacidade (10 a 400 pares), em geral pendurados nos postes, e que compõem a rede aérea da operadora.
Segundo os dados fornecidos no Laudo de Avaliação, os cabos de alta capacidade contém, em média, 2,8 kg de cobre por metro, contra 0,4 kg de metal por metro na fiação de baixa capacidade. Apesar de menos extensa, a rede subterrânea tem mais metal aproveitável (cerca de 274 mil toneladas) do que a rede aérea (109 mil toneladas), segundo o Laudo de Avaliação.
A Oi já está em um intenso processo de substituição das linhas fixas tradicionais, que funcionam nas redes de cobre, por acessos fixos wireless (WLL) que funcionam em cima da rede da TIM. Também há a substituição dos clientes de voz em cobre pela tecnologia VoIP nos casos em que houve a contratação do serviço de banda larga Oi Fibra (que funciona sobre a rede da V.tal). Os custos de retirada da rede serão, agora, arcados pela V.tal, enquanto a migração tecnológica segue sendo um investimento da Oi (até porque, por serem clientes do STFC, a Oi é obrigada a assegurar a continuidade dos serviços de voz).
Quanto vale o cobre?
A valoração desse ativo já é algo bem mais complicado, e portanto é difícil estimar com precisão quanto a V.tal vai receber.
Segundo o Laudo, que é do primeiro semestre e, portanto, não reflete mais exatamente o status atual da rede, a Oi já havia retirado e vendido cerca de 10 mil km de rede e planeja fazer o mesmo com outros 67,7 mil km até 2025. Com base nessas negociações realizadas, a auditoria apontou uma grande variação de preços obtidos, sendo a melhor negociação já feita na casa dos R$ 19,1 por kg, e a pior na casa dos R$ 14 por kg.
Além disso, o custo para remoção varia de R$ 5 a R$ 10 por kg, o que significa que o valor da rede de cobre estaria entre entre R$ 1,6 bilhão e R$ 2,3 bilhões. Mas como a retirada e rentabilização desse ativo acontece ao longo do tempo, a consultoria de avaliação estimou um VPL para o ativo entre R$ 423 milhões e R$ 1,221 bilhão. Considerando-se, vale lembrar, os valores reais de negociação do cobre que a Oi já conseguiu praticar no mercado.
Perda por furto e logística
Outro problema crítico é o do furto de cabos, que tem se intensificado nos últimos meses. No primeiro semestre, a Oi estimava perda de 10% a 15% da rede por furtos, o que significa algo entre 37 mil e 55 mil km de cabos perdidos, o que pode significar mais de 56 mil toneladas de metal naquela ocasião.
Para a V.tal, os desafios logísticos serão grandes: remoção dos cabos em si, seja dos postes, seja das galerias subterrâneas; depois, há a necessidade de armazenar o material retirado. Por fim, há o processo de limpeza e processamento dos cabos para eliminar seu revestimento, isolamento e outros componentes e extrair apenas os metais recicláveis. Além disso, uma vez processado o metal para reciclagem, ele precisa ser colocado à venda de maneira racionada, para não impactar justamente na cotação do cobre por um excesso de oferta.