Ao longo dos anos fui amadurecendo o pensamento da energia como o vetor de movimento das telecomunicações e das TICs, assim como a água exerce esse papel no metabolismo humano. Sem água, o transporte de nutrientes, oxigênio e sais minerais não ocorre ao nível celular. Sem energia, o transporte de sinalização, pacotes de dados e interfaces não existe nas redes de telecomunicações.
Por tal característica, energia é um elemento indissociável do core das empresas prestadoras de serviço, fabricantes e da agenda da União Internacional das Telecomunicações – UIT, ganhando espaço de destaque na estratégia e nas ações direcionadas ao meio ambiente. Estudo do BCG Group indicou que o consumo de energia em telecom é um componente de custo que chega a consumir 40% do OpEx das redes de telecomunicações, significativo em operações de qualquer tamanho. A busca por uma maior eficiência energética nas redes se mostra ser um fator de produtividade econômica podendo, inclusive, direcionar os investimentos em tecnologia e P&D.
O setor também já alcançou sua consciência ambiental, além do viés econômico indicado, promovendo ações de impacto positivo em eficiência energética que alcançam às mudanças climáticas, dada a direta correlação entre o montante de energia consumida e emissão de Gases de Efeito Estufa – GEE que. Segundo o GHG Protocol (entidade internacional normatizadora do tema), o consumo de energia elétrica é fonte de 40% das emissões mundiais.
Compromissos de Net Zero, ou seja, de reduzir até a compensação residual as emissões de GEE decorrentes dos serviços prestados, cominado com investimentos na transição energética para uma matriz de baixo carbono, seja por meio da geração distribuída ou própria, fazendo uso de fontes renováveis, se tornaram presentes ao longo dos últimos 5 anos. Atualmente, 30% da energia elétrica consumida no planeta decorre de fontes de energia renováveis (hídrica, eólica, solar ou biomassa) e, nesse quesito, podemos aplaudir que o Brasil alcançou a expressiva marca 87% de produção oriunda de fontes renováveis ao final de 2022, segundo os dados do site Our World in Data. Tal marca é extremamente positiva considerando que, nos últimos 50 anos, o consumo per capta de energia no país cresceu mais de 4 vezes.
Para o setor, o esforço de eficiência dos próximos anos deve decorrer principalmente da implantação das redes 5G stand alone, que segue em ritmo acelerado juntamente com o processo de liberação da faixa de 3,5Ghz coordenado pela EAF em todo o país. Tal preocupação levou a ITU, ao final de 2022, a lançar a Recomendação ITU-T L.1390, específica sobre eficiência energética em redes 5G. A recomendação sugere o uso de inteligência artificial para mitigar o impacto no consumo por meio da alocação dinâmica dos elementos e da banda utilizada, incluindo desligar parcial ou totalmente elementos, juntamente com à gestão de tráfego off-peak entre as redes 3G, 4G e 5G de forma escolher a mais adequada à demanda instantânea.
Atualmente todos os setores da economia são demandados a tomar ações de regeneração para conter o aquecimento global, tal como compromissos Net Positive. Isso traz a possibilidade do setor ser o vetor tecnológico das transformações empresariais necessárias em escala global, congregando boas oportunidades de negócios sustentáveis. Mas isso é tema para outro artigo!
*Sobre o autor: Marcio Lino é sócio fundador da Colin Consultoria, executivo do setor de tecnologia e colabora periodicamente com TELETIME sobre temas da agenda ESG. As opiniões expressas nesse artigo não necessariamente refletem o ponto de vista de TELETIME