Claro e Vivo querem transformar redes privativas em produtos

Representantes do CPQD, Ericsson, Vivo, Deloitte e Embratel no painel do Teletime TEC. Foto: Bruno do Amaral

As redes privativas 5G são definitivamente uma oportunidade de fluxo de receitas para as operadoras, e a Claro e  a Vivo já estão com estratégias e mesmo produtos para esse mercado. O objetivo final é poder proporcionar às empresas clientes uma solução em uma caixa (in-a-box, no jargão em inglês) da forma mais simples possível e conversando com os sistemas e equipamentos já em uso, conforme explicaram as operadoras no Teletime TEC – 5G & Wireless nesta terça, 18. 

O gerente de produtos da Embratel (braço corporativo da Claro), Cristiano Lopes Moreira, diz que o segmento é um mercado inexplorado ainda. "As redes privativas, para mim, são quase um 'green field'. Vivemos um momento muito bom, de reoxigenação da conectividade da indústria", declara. 

Moreira cita a parceria com a Ericsson e a WEG nos projetos de rede privativa. O aprendizado com essa experiência, que comparou o uso 5G com o espectro não licenciado, foi de ser necessário chegar a um modelo em que a conta feche. "Nossa principal concorrência com o WiFi é o preço, então nosso produto já vai combatendo isso." Assim, a Embratel avaliou que, em muitos casos, o cliente não precisava atualizar o parque de dispositivos, já que funcionavam com 4G e até 5G. "Um coletor de dados custa R$ 7 mil, e ele tem até 6 mil desses equipamentos lá, que ele não vai jogar fora nunca. Mas a gente pode colocar o 5G sem trocar. Isso é green field para mim", diz.

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Segundo o gerente da Embratel, com isso foi possível transformar a oferta de rede privativa em um produto de prateleira, com um modelo vendendo capacidade de rede por metro quadrado. A operadora também criou perfis de empresas formatados para que toda a solução seja entregue como um kit, agilizando a implantação do projeto em comparação com as tentativas de personalização. Como clientes, há pesos pesados como Nestlé e Gerdal. "E já estamos brigando com a engenharia para fazer isso em uma caixinha", afirma. 

Essa caixinha já é uma realidade na Ericsson, segundo o diretor de soluções e tecnologia da fornecedora, Paulo Bernardocki. "Temos uma oferta na qual a rede privativa é autocontida, com núcleo de rede e ERBs – quantas forem necessárias, dependendo de metros quadrados e pessoas. E vem até com chips", conta. "Já estamos nesse ponto de entregar a rede in-a-box. São casos que se têm divulgado na mídia, como da Nestlé com a Embratel."

Vivo

A estratégia da Vivo é a de oferecer propostas de uso, mostrando as possibilidades e diferenciais da adoção do 5G em redes privativas, mas também recebendo "as dores" do cliente. A operadora implantou recentemente uma rede "aeroindustrial" para aeroportos com a BH Airports, e recentemente fechou uma parceria com o Hospital Albert Einstein, além de casos públicos como os acordos com a Vale e a Petrobras. Segundo o diretor de operações de IoT e corporativo da Vivo, Diego Aguiar, a proposta é que a tele seja uma orquestradora. "As empresas não se vêem como cobaias porque a necessidade costuma ser bilateral", declara. 

A operadora também transformou em produto a solução para rede privativa. "Tem cliente que quer 100% do produto, comprando hardware e operando ele mesmo a rede – acesso, transmissão e core -, e quer a gente como advisor, para aconselhamento. Tem outro produto que tem infraestrutura dedicada: hoje, temos um core dedicado e fazemos tudo isso como serviço", explica.

Para Aguiar, o 5G será um potencializador dessa linha de negócios existente, ainda que se espere que novas aplicações sejam criadas. "O que tentamos fazer no mercado B2B é provar na partida o retorno sobre investimento. E não é só no 5G, é em qualquer tecnologia." A visão é que o gestor da empresa atua "quase com um portfólio de onde vai alocar Capex e Opex com retorno mais rápido". A Vivo então entrega a resolução e o retorno que poderá trazer para a operação. O diretor ainda citou a estratégia de APIs do Open Gateway, iniciativa global lançada pela GSMA (com o presidente da Telefónica como porta-voz) em parceria com diversos fornecedores e operadoras na última Mobile World Congress. "Eu levo inovação que seja relevante em vez de empurrar o 5G para o cliente."

Potencial

O diretor de estratégia do CPQD, Alberto Paradisi, cita dados da GSA que falam que, ao final de 2022, apenas 1.077 redes privativas existiam no mundo. Considerando que pode haver subnotificação, a projeção é de cerca de 5 mil. "Mas muito ainda é em 4G", ressaltou. Comparando com dados da Nokia, ele afirma que há potencial para 15 milhões de redes. "Então estamos em uma jornada de oportunidade", avalia. "Parece que as coisas não estão dando certo, mas ao longo dos últimos quatro anos, a quantidade de redes dobrou a cada ano."

Senior manager da Deloitte, Alberto Boaventura afirma que as redes privativas, de fato, abrem espaço para as operadoras, mas também para a competição de outros agentes. E há necessidade de evolução dos sistemas para a monetização. "Em ambiente multicloud, hipervirtualizado e baseado em APIs, é preciso evoluir", declara. A oportunidade de utilizar o 5G, avalia, é a de trazer a integração da rede pública com a privada (PNI, na sigla em inglês) por meio do network slicing, ou seja, o fatiamento de rede. "Como se 'produtiza' isso? Precisa ter arquitetura e produtos adequados e tem que fazer algumas evoluções. Tem que ter um ambiente de utilização de maneira adequada. Não é só colocar o 5G e esperar que vai funcionar."

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