Após firmar parcerias com banco e empresa de educação, TIM quer investir no audiovisual

Renato Ciuchini, da TIM. Foto: Divulgação

Renato Ciuchini, Chief New Business e Inovation da TIM, esteve no RioMarket nesta quinta, 13, para falar da oportunidade para conteúdos curtos junto da operadora. O executivo começou sua fala afirmando que as operadoras são historicamente atuantes em vários mercados, mas que essa indústria sofreu muito nos últimos anos – antes, elas valiam mais do que as big techs e, hoje, esse cenário inverteu: "Entre os motivos, está a tecnologia, que não para de ter novas gerações, como 3G, 4G e 5G. Em dez anos, foram três ondas, que envolveram um custo operacional gigantesco para nós. Diferentes redes operando simultaneamente custa muito caro. Isso onera e altera o valor de mercado das telcos e tira nossa possibilidade e capacidade de inovar e entrar em novos mercados".

Ciuchini ainda ressaltou como tudo o que foi criado nas big techs nos últimos anos foi habilitado no celular – a conectividade de alta velocidade permitiu serviços de vídeo e conteúdos interativos. "As operadoras fizeram essa habilitação e, por conta de questões regulatórias, não ganharam nada com isso. O medo de que as operadoras dominassem outros mercados as impediu de atuar. Viramos habilitadores, e não era ali que o dinheiro estava. O valor médio pro usuário não cresceu. E para nós, o mercado ficou bem difícil", explicou. 

"Com base nisso, faz três anos que começamos a desenvolver uma tese que chamamos de 'plataforma de clientes'. Hoje, nosso maior ativo está nos 65 milhões de clientes que temos, e especialmente na quantidade de dados dos mesmos que acumulamos. Oferecemos bônus de internet em troca de compartilhamento de dados e publicidade personalizada. São 35 milhões que aceitam essa condição. É um business muito grande – que antes não existia e que, neste ano, faremos R$ 80 milhões com ele. É um negócio que cresce rápido e tem potencial de continuar crescendo", pontuou. 

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A Tim, então, entendeu que seu grande ativo é a plataforma de clientes. Nesse sentido, ela teria como possíveis concorrentes a indústria financeira e de energia, que também possuem uma base gigante. Os problemas para elas são: em relação à energia, não existe uma marca nacional. O consumidor não sabe quem são as empresas, não há qualquer tipo de identificação entre o cliente e a marca. Portanto, a chance de monetizar essa base seria pequena. Já em relação aos bancos, o problema está no sigilo bancário, o que também torna a monetização de dados um desafio. 

"As telecomunicações são o único setor que tem dezenas de milhões de clientes e é formado por marcas nacionais, que possuem uma relação com esse cliente. A partir daí, começamos a pensar na possibilidade de entrar em outros mercados – conteúdo, audiovisual, financeiro, educação, saúde – mas a resposta é não. Operadoras já são empresas altamente reguladas e novas regulações deixariam a operação inviável. Além disso, seria necessário um investimento muito grande também. Sem investimento financeiro, faríamos um produto 'capenga' e não competitivo. Por fim, o valor de mercado da empresa por cliente é maior quando é separado por entidades. Por esses motivos, criar novos negócios não seria a decisão mais inteligente do ponto de vista de gerar valor", avaliou. 

Monetização de base 

Ele revelou que a ideia, então, foi focar no grande ativo da empresa – que é a base de clientes – e se associar a empresas líderes de mercado. Como exemplo, ele citou a parceria da Tim com o C6 Bank, na qual a operadora compartilha sua base de clientes em troca de uma participação acionária na empresa. Com esse acordo, ela gerou R$ 1,2 bilhão em 36 meses. "É um trabalho de monetização da nossa base de cientes. O foco é nele, onde atuamos melhor, e o parceiro é o que executa melhor dentro daquele setor", detalhou. Outras parcerias nesse sentido são com a FS, de segurança, e a Cogna, de educação. 

Oportunidade para o audiovisual 

A história chega no setor audiovisual, que Ciuchini descreve como extremamente competitivo e dominado por players globais. "Existe uma competição nesse momento por construção de base. Acreditamos que, aí, exista espaço para um novo modelo de negócio, com conteúdos audiovisuais mais adequados ao formato do celular", apontou. No Brasil, o uso da internet via celular representa mais de 90% do seu consumo. Ele é o dominador da atenção do usuário. 

O executivo mencionou o fato de que o consumidor está cada vez mais instantâneo e menos paciente. "O TikTok é prova disso. Os conteúdos estão cada vez mais curtos. O streaming tem um modelo tradicional, mas acho que existe uma outra oportunidade no mercado, mais alinhada com esses conteúdos curtos, rápidos e consumíveis no celular". 

A ideia da Tim é: encontrar um parceiro que entre com uma solução completa, com conteúdos audiovisuais dentro de um aplicativo, e a empresa entraria então com sua base de clientes – o compartilhamento seria feito de forma gratuita, isto é, a operadora não cobraria nada para dividir essa base com esse parceiro, mas ele, em troca, passaria uma fatia da empresa para Tim, ou entraria num acordo de compartilhamento de lucros, por exemplo. "Não acreditamos mais uma segmentação de funções do outro lado do audiovisual. Queremos entrar nessa com uma empresa moderna, ágil, que saiba surfar nessa onda. Não adianta empresas de telco, que são antigas, quererem fazer isso", disse. Uma vez o projeto dando certo, se abriria aí uma nova janela para os produtores de audiovisual, que podem entrar nessa com conteúdos de dramaturgia de curta duração. 

"Temos clientes e dados. Queremos um parceiro que desenvolva isso com a gente. A ideia é criar um novo mercado e gerar muito valor com isso, tanto para a produção de conteúdo quanto para os empreendedores que quiserem investir e desenvolver esse novo mercado. Não queremos competir com os grandes do streaming, essa guerra já está muito acirrada e não é monetizada a curto prazo. Existe uma outra camada possível, para um formato diferente, com conteúdo local. Na nossa análise, o conteúdo é uma das poucas indústrias onde o local é mais relevante que o global. Não temos certeza do que vai funcionar, mas precisamos acreditar e contar com esse investidor. Fica o convite: nós vemos a oportunidade e acreditamos nesse potencial", finalizou. 

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