O atendimento da demanda por profissionais na economia digital e o sucesso de políticas públicas de educação conectada passam pelo letramento digital de estudantes e de profissionais da área do ensino, entende a Fundação Telefônica Vivo – que vê o tema como uma pauta urgente.
A avaliação foi feita pela diretora-presidente da entidade, Lia Glaz, em entrevista concedida ao TELETIME. "Não dá para falar de juventude preparada para mercado de trabalho que não seja fluente digital", indicou a profissional, ao comentar resultados de pesquisa recente sobre o futuro do mercado de trabalho que teve a fundação vinculada à Vivo como uma das autoras.
Realizado ao lado de parceiros como o Itaú Educação e Trabalho e a Fundação Roberto Marinho, o estudo apontou contingente de 27% dos jovens com 14 a 29 anos na condição de "sem-sem" – ou privados tanto de estudo quanto de trabalho. A parcela dos que apenas trabalham (39%) ou apenas estudam (15%) também chamou a atenção dos organizadores.
Segundo Glaz, os números indicam cenário onde nem todos os jovens recebem preparo adequado para o mundo profissional, cada vez mais marcado por novas tendências que tem a economia digital como principal pilar. "Várias economias – como a economia sustentável, a 'prateada' ou a do cuidado – são perpassadas pela digitalização. Uma série de vagas estão sendo criadas, outras virão e o Brasil corre risco de ficar para trás", alertou.
Currículo
Neste sentido, a educação profissional e tecnológica (ou EPT) como parte dos currículos escolares – inclusive no ensino básico – foi uma das principais recomendações endereçadas pelo estudo. A demanda se conecta às possibilidade trazidas pelo Novo Ensino Médio (NEM), que, embora ainda objeto de intenso debate público (inclusive com recente suspensão do cronograma de implemetanção pelo governo), abre possibilidade de currículos flexíveis e com componentes de ensino profissional.
A própria Fundação Telefônica Vivo tem atuado para que a educação tecnológica faça parte deste movimento – seja de forma estruturante ou na construção dos chamados itinerários técnicos do NEM. Através do programa Pense Grande Tech, a entidade tem colaborado para a criação de itinerário de ciência de dados em escolas regulares de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo. "E agora vamos começar em São Paulo", sinalizou Glaz, ao TELETIME.
Profissionais
A necessidade de letramento digital, contudo, não é algo exclusivo para estudantes, devendo passar também pelos professores e gestores escolares, destacou a fundação. "A tecnologia é aliada da educação de forma geral, a partir do uso de recursos no ensino de matérias [tradicionais] como matemática ou geografia. Para isso, o professor precisa ser letrado digital, mas no cenário brasileiro ele não é", pontuou Lia Glaz.
Para tal, a dirigente citou instrumento desenvolvido pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB) para medição da maturidade tecnológica entre profissionais da rede pública: em uma escala de 1 a 5, a maior parte da força de trabalho estaria nos patamares 1 e 2, não dominando o uso de novas tecnologias e plataformas digitais de ensino. "Esse é um enorme desafio", apontou Glaz.
Neste sentido, a Fundação Telefônica Vivo menciona um histórico de mais de vinte anos na formação de professores, inclusive a partir do programa de formação à distância Escolas Conectadas. Já ao lado de secretarias de ensino (como no estado do Mato Grosso e na cidade do Recife), a entidade está atuando para verificar competências e desenvolver planos de metas para elevação da fluência digital de profissionais.
Recursos
Ao TELETIME, a entidade também defendeu que a carência de letramento digital de alunos e docentes seja considerada inclusive no emprego de recursos federais disponíveis para educação conectada a partir de diferentes fontes – em demanda a qual o Ministério da Educação (MEC) já estaria atento.
"Não precisa concorrer com recursos para conectividade das escolas, mas é importante olhar a agenda do ponto de vista sistêmico para que todas essas questões – conectividade, recursos e letramento digital – possam ser concatenadas", afirmou Glaz, apontando que abordagem "sequencial" que comece pela infraestrutura sem incluir os demais elementos não é suficiente. Neste caso, um foco orçamentário das próprias secretarias locais de educação é considerado essencial, além do âmbito federal.
De uma maneira geral, a necessidade de formação tecnológica no ensino é encarada pela profissional como uma pauta urgente. "A tecnologia vem sendo tratada como bônus na educação pública, e quando nos deparamos com tantos desafios, ela acaba sendo marginalizada. Mas em uma economia que muda cada vez mai rapidamente e que já consome tecnologia de forma tão integrada, não podemos mais esperar", finalizou Glaz.
Educação Conectada 2023
Diretora-presidente da Fundação Telefônica Vivo, Lia Glaz está confirmada na edição de 2023 do seminário Educação Conectada, promovido por TELETIME e marcado para ocorrer no próximo dia 11 de abril, em Brasília. Na ocasião, a profissional vai participar do debate "Para além da conectividade: soluções, conteúdos e modelos", ao lado do CIEB, da Fundação Porto Seguro, da Qualcomm e do Instituto Escola Conectada. As inscrições para o seminário podem ser realizadas aqui.