Para Ericsson, padronização de APIs será um grande salto para mercado de telecomunicações

Rodrigo Dienstmann, presidente da Ericsson Latam South

A Ericsson acredita que as operadoras de telecomunicações estão dando um passo bastante importante ao abraçarem a ideia de padronizar APIs (interfaces de aplicativos) de rede, para criar um ecossistema mais amplo de desenvolvedores de serviços digitais e novas aplicações. Para o presidente da Ericsson para o Sul da América Latina, Rodrigo Dienstmann, isso só reforça a decisão da empresa de ter investido nessa área, inclusive com a compra da Vonage há pouco mais de um ano. "Nós fomos pioneiros nesse debate de APIs abertas e as operadoras estão dando um passo correto", disse ele, ao comentar a iniciativa Open Gateway. 

O executivo da Ericsson já usou mais de uma vez a analogia do que aconteceu com o sistema operacional Android e os benefícios para as redes móveis. "A beleza do modelo é que você conseguiu criar um sistema operacional que funciona em praticamente qualquer dispositivo e está aberto a todos os desenvolvedores. Precisamos chegar nesse mesmo nível de flexibilidade nas redes", diz Dienstmann. "A Ericsson tem uma vantagem competitiva porque entramos nesse jogo (de APIs) muito antes". Para Dienstmann, isso cria ainda espaço para uma nova camada de empresas, que farão a integração e agregação dessas APIs. É o que faz hoje a Vonage, por exemplo. "Já temos mais de 100 mil clientes e 1 milhão de desenvolvedore~s". 

Para ele, esse salto de padronização será bem mais simples do que o salto em relação ao OpenRAN, por exemplo, que é uma arquitetura de integração aberta das camadas de software e hardware da parte da rede de acesso. "O OpenRAN tem algumas complexidades adicionais. No caso do Open Gateway, estamos basicamente falando de software e códigos comuns".

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Outra aposta da Ericsson, em linha com uma tendência manifestada por todos os grandes vendors de equipamentos de telecomunicações, é no desenvolvimento do mercado de redes privativas. "Essa oportunidade não existia desta maneira no 4G, e é uma chance para que se mantenha o fluxo de demanda por equipamentos de 5G mais ou menos constante mesmo com as oscilações de ritmos das operadoras", diz.

Mas a Ericsson é cuidadosa ao deixar claro que ela não pretende e não tem como estratégia ser a operadora de redes privativas, tarefa que vai caber a integradores, inclusive às próprias operadoras de telecomunicações. "No Brasil temos espectro para uso industrial, e vejo uma oportunidade das operadoras operarem nesse espectro para clientes empresariais", diz ele.

Do ponto de vista estratégico, o reforço para a atuação junto ao mercado de redes privativas veio com a aquisição da Cradlepoint em 2020. "O que ainda é preciso desenvolver no Brasil é um bom ecossistema de empresas para fazerem integração dessas redes privativas e para o desenvolvimento das aplicações digitais específicas para cada setor", diz ele.

Nas últimas divulgações de resultado, a Ericsson tem alertado para uma desaceleração no ritmo de encomendas de equipamentos 5G por parte das operadoras, mas Rodrigo Dienstmann comemora os resultados na sua região. "Tivemos essa desaceleração, mas muito em função do mercado norte-americano e da estratégia de algumas operadoras, mas no Brasil ano passado tivemos mais de 25% de nossas vendas em 5G e este ano passamos da metade". 

Ele também vê as operadoras regionais começando a se movimentar mais consistentemente a partir deste ano para implementarem suas redes. "Eles passaram o primeiro ano entendendo os modelos de negócio possíveis, e algumas inclusive reviram estratégias, mas acredito que agora irão efetivamente colocar as redes para funcionar".

Ele prefere não comentar como os cortes de posições anunciados pela Ericsson (8% do total, ou 8,5 mil funcionários) afetarão a América Latina, mas diz que eles devem ser globais e mais ou menos proporcionais ao peso de cada região, observando cenários específicos de cada país.

Outra aposta da Ericsson é no desenvolvimento do mercado de FWA (acesso 5G para terminais fixos), mas nesse caso ele diz que o Brasil é um país especialmente desafiador por conta dos custos de importação e tributários dos equipamentos. "Essa é definitivamente uma grande barreira que ainda precisamos vencer".

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