TVs buscam proteção contra empresas de telecomunicação

O modelo de negócios da televisão aberta no Brasil está ameaçado? As novas tecnologias digitais representam um problema ou uma oportunidade para os radiodifusores? Estas foram algumas das questões que centralizaram os debates na abertura do VI Fórum Brasil de Programação e Produção, que acontece esta semana em São Paulo. Quatro das principais redes de TV do Brasil (Globo, SBT, Record e Bandeirantes) manifestaram uma fortíssima preocupação com relação à possibilidade de concorrência de empresas de telecomunicações. ?Nosso setor vive de publicidade e entrega informação e entretenimento gratuitos. As teles vivem de tarifas. Quando o governo começar a discutir uma Lei Geral de Comunicação, terá que levar esse cenário em conta?, diz Octávio Florisbal, diretor geral da TV Globo. Johnny Saad, presidente do grupo Bandeirantes, vai na mesma linha de reflexão. ?Somos a única alternativa de distribuição de entretenimento e informação gratuita e acho que a evolução tecnológica não tem nada a ver com isso. Entendo que as teles estejam buscando uma mudança no marco regulatório para poderem fazer o mesmo, mas terão que respeitar o modelo já colocado?, diz.
Alexandre Raposo, diretor geral da Rede Record, é mais pragmático. Para ele, os problemas enfrentados pelos radiodifusores são sentidos já, na demora do Ministério das Comunicações em abrir espaço para novas retransmissoras. ?Precisamos disso para viabilizar nosso negócio, mas o governo é muito lento?. Para Guilherme Stoliar, superintendente do SBT, a TV aberta desempenha um papel social para o Brasil, e é importante garantir que empresas de TV aberta não sejam prejudicadas pelas empresas de telecomunicações.

Inevitabilidade

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A tônica do debate acabou sendo dada pela apresentação de Henrique Washington, sócio diretor da Accenture, para quem as empresas de telecomunicações estão avançando sobre as fronteiras da televisão não por uma questão de inevitabilidade tecnológica, mas porque elas precisam ter retorno sobre investimentos monstruosos (estimados em US$ 2 trilhões nos últimos 10 anos) que ainda não se pagaram. ?Hoje estas empresas de telecomunicações valem a metade do que valiam em 2000, quando a bolha da internet estourou?. Não por acaso, pondera Washington, nos EUA há um crescimento significativo nas receitas obtidas pelas teles com serviços que não são nem de voz nem de dados. Em três anos, serviços de vídeo passaram a ser 32% das receitas das empresas de telecomunicação, ante 22% em 2002. O percentual referente aos serviços de voz também caiu.
Ele relaciona algumas dificuldades para as teles nessa nova empreitada, e a principal delas, no caso do Brasil, é a brutal concentração de renda. ?Há mais TVs do que geladeiras. Não é de um dia para o outro que se muda essa relação.? Mas ele lembra que as empresas de telecomunicações são muito maiores em termos de poder econômico, e que a soma dos cinco maiores grupos de mídia no Brasil representa apenas um pouco mais da metade do faturamento de uma empresa como a Brasil Telecom. Washington recorda que há muitos desafios regulatórios a serem pensados, como a questão do broadcast sobre IP, restrições ao capital externo e propriedade cruzada. ?Nada disso tem uma resposta no Brasil, ainda.?
O VI Fórum Brasil é organizado pela revista TELA VIVA e pela Converge Eventos e acontece em São Paulo nestas terça e quarta-feira, 31 maio e 1º de junho, respectivamente.

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