Profissionais do mercado financeiro ouvidos por este noticiário avaliam como bom para acionistas da Embratel, mas nem tanto para os da Net, o anúncio combinado da venda de participação da empresa de TV a cabo para a Telmex e do encaminhamento da reestruturação da sua dívida. Tanto que os investidores continuaram ordenando a venda de PLIM4, que acumula, em sete dias, uma baixa superior a 20,5% ? fechou a R$ 0,63. Já a Embratel teve uma nova alta de 3,39%, fechando o mês com uma alta acumulada de 24,5%.
A diluição dos atuais acionistas ficou evidente para os analistas no fato relevante emitido pela Net, anunciando que emitirá e oferecerá ao público até 1,82 bilhãos de ações ON e PN (na proporção 25/75) para fazer face à dívida. Como já existem 2,029 bilhões de papéis, o total iria para 3,85 bilhões, representando para os proprietários de ações uma redução de participação relativa da ordem de 47,3%. E como a própria Globopar (controladora da Net) vai ficar com todas as ON e a Telmex é destino final desejado de uma parte importante do poder, os minoritários não têm muito o que festejar nessa festa. Isso ficou evidente nos questionamentos feitos pelos analistas aos executivos da Net na terça, 29, em conferência para esclarecer pontos do fato relevante.
Quem deve ganhar com isso é a Embratel e sua controladora, a Telmex, mesmo que esta não fique com a maior parte da Net no curto prazo, como tudo indica e em função dos problemas regulatórios.
Expansão limitada
É preciso ponderar, contudo, que a expansão da telefonia e banda larga pela rede da Net Serviços não é tão tranqüila quanto se imagina. A própria companhia admite que, mesmo chegando a 6,6 milhões de domicílios, o número potencial efetivo de conexões bi-direcionais é de 2,3 milhões de lares. São esses os que efetivamente interessam. O BBVA Securities calcula um número ainda menor de clientes potenciais: 650 mil, considerando a distribuição socioeconômica das redes.
Além disso, uma assinatura de TV a cabo, que precede a assinatura da banda larga, esbarra na baixa renda da população brasileira ? que tem sido, de resto, o maior empecilho para o crescimento da televisão paga no Brasil e na América Latina. Contra esse problema, há a possibilidade de uso das licenças de Serviços de Comunicação Multimídia (SCM), que a Net, aliás, tratou de providenciar para todas as suas operadoras individualmente desde o início deste ano, já que deve se desfazer da Vicom. O BBVA lembra que, ao contrário dos Estados Unidos, onde a TV por assinatura é amplamente utilizada e dá caminho à 2/3 do mercado de banda larga, por aqui é cara e sua penetração muito baixa em relação à telefonia tradicional. Não será fácil crescer.