O mercado de Internet das Coisas (IoT) segue em expansão. No Brasil, há mais de 43 milhões de acessos desse tipo, segundo a Anatel. No entanto, ao mesmo tempo em que a IoT evoluiu, permitindo diferentes casos de uso (tanto na indústria quanto em projetos para cidades inteligentes), também surgiram novos desafios para a cadeia que trabalha e depende desses produtos e serviços.
Em entrevista ao TELETIME, o diretor-geral da Emnify no Brasil, Carlos Campos, listou os quatro maiores desafios enfrentados pelo mercado de IoT e as respostas para eles. Por aqui no País, ele destacou os segmentos de logística, telemetria e rastreamento veicular como algumas das principais verticais que impulsionam a demanda desse setor.
Cobertura
O primeiro desafio apontado no mercado de IoT está relacionado à cobertura. Cada tecnologia serve a um propósito específico e tem pontos positivos e negativos. No caso do WiFi, por exemplo, a limitação fica por conta do alcance limitado – apesar da tecnologia ser comum para Internet das Coisas. O problema é quando há algum erro nessa conexão, o que pode prejudicar operações em sistemas que não dispõem de um "backup" – uma rede reserva. "Imagina o seu negócio ser dependente apenas de uma rede e ela cair?", argumentou o diretor.
Segundo Campos, as redes móveis (tanto 2G, 3G ou 4G) oferecem cobertura ampla para dispositivos IoT. Nesse cenário, há o surgimento de novas opções de redes celulares, como as soluções do tipo LPWAN – sigla para redes de grande área e baixo consumo. "São tecnologias que rodam sob as mesmas antenas do 4G, mas elas são específicas para a transmissão de dados para IoT. Exemplos de tecnologias LPWAN licenciadas como CAT-M1 e Narrowband IoT [NB-IoT] permitem que o alcance de uma mesma antena de 4G seja mais amplo e que o uso das baterias de IoT seja menor", explicou Campos ao TELETIME.
"Essa resiliência é possível por esse número de redundância entre redes e tecnologias, mas essa resiliência deve ser pensada e desenhada desde o conceito inicial do projeto", explicou o diretor.
Campos também mencionou que a conectividade via satélites caminha para se tornar mais popular no mercado IoT, o que deve aumentar a resiliência da conectividade. Durante o Mobile World Congress 2024 (MWC) em Barcelona, a Emnify e a Skylo anunciaram a disponibilidade comercial da primeira conectividade IoT convergente de celular e satélite. "Num mesmo SIM card, você vai ser capaz de acessar serviços de conectividade satelital e, também, celular", contou Campos.
Por enquanto, a disponibilidade comercial anunciada pelas empresas está limitada aos Estados Unidos e Europa. "No Brasil, a gente vai começar agora uma jornada de confirmação da adequação regulatória para oferecer esses serviços também no País. […] Já houve posicionamentos de conselheiros da Anatel positivamente com relação a esse tipo de serviço por operadoras de celular. Então nós temos a expectativa de que será algo muito tranquilo, mas a gente pretende fazer essa validação antes", informou o diretor da Emnify.
Segurança
O executivo comentou que dispositivos IoT têm sido vulneráveis a ataques cibernéticos sendo, inclusive, usados como porta de acesso para outras partes de uma rede. "Esse problema não vai simplesmente desaparecer porque, infelizmente, deriva de questões inerentes aos dispositivos IoT, que frequentemente têm fonte de alimentação limitada e precisam durar anos no campo com uma única carga", analisou Campos. Ele também lembrou que muitos dispositivos hoje ainda não suportam a adição de criptografias e protocolos de segurança extra – o que poderia reduzir ainda mais a eficiência energética.
No futuro, é natural que novas vulnerabilidades no firmware desses equipamentos sejam descobertas. "Adicione a isto tudo o fato de que dispositivos IoT podem depender da infraestrutura de rede dos usuários finais, como WiFi, e você tem uma tempestade perfeita! Ele se torna cada vez mais suscetível a ataques cibernéticos e pode ser usado para acessar outros aparelhos e aplicativos na rede", explicou Campos.
O executivo da Emnify no País apontou, no entanto, que há avanços em segurança com novas soluções de conectividade de baixa potência. De acordo com ele, redes celulares autenticam dispositivos por meio de SIM Cards, e recursos de segurança como bloqueios de IMEI garantem que apenas o dispositivo pretendido possa usar um determinado SIM Card. As redes celulares também permitem realizar atualizações remotas de firmware conforme necessário, consumindo energia mínima.
Interoperabilidade
A flexibilidade da IoT permite configurações adaptáveis, mas a diversidade de dispositivos e soluções pode resultar em incompatibilidades, conforme apontou Campos. Por isso, introduzir novos elementos muitas vezes demanda ajustes nas arquiteturas existentes para garantir a funcionalidade desejada, tornando a integração um desafio constante.
A interoperabilidade também desafia os fabricantes de IoT devido à presença de tecnologias de código aberto subjacentes nas soluções, adicionando uma camada de complexidade ao cenário. "Isso não é um problema em si, mas se essa tecnologia seguir um padrão universal claro, pode acabar com diferentes empresas ou países usando variações distintas da tecnologia de código aberto", argumentou Campos, que também disse que empresas devem acelerar sua adoção de padrões universais para melhorar a interoperabilidade.
O ponto positivo disso, segundo Campos, é que a tendência na indústria é tornar as soluções de IoT cada vez mais versáteis – de modo que a integração entre diferentes componentes e conjuntos seja mais simples. "Com o Open Gateway, as operadoras estão entregando, depois de muito tempo, algo que já era demandado pelo ambiente corporativo", explicou.
Escalabilidade
Segundo Carlos Campos, empresas de IoT enfrentam desafios de gerenciamento de dispositivos devido à diversidade de soluções adotadas ao expandir atuação em novas regiões. Isso porque a necessidade de suportar diferentes plataformas, sistemas de suporte e tecnologias independentes pode resultar em complicações logísticas, especialmente em grande escala, com multiplicação de "part-numbers" ao realizar mudanças fundamentais nos produtos. A conectividade global, em particular na IoT celular, é complicada devido ao controle por operadoras distintas, exigindo acordos de roaming ou novos SIM Cards ao mudar de operadora.
De acordo com o diretor, a solução para superar esses desafios é a adoção de soluções globais de IoT que estabelecem acordos com operadoras em nível mundial. Algumas delas permitem que, com um único cartão SIM, a conectividade em mais de 500 redes, abrangendo mais de 195 países. Isso permite a criação de serviços resilientes com redundância de redes, adaptando-se à disponibilidade de acordos e à legislação local, informou Campos.