Desde o final de 2019, a perspectiva de uma licitação de espectro gigantesca para as faixas do 5G fez com que a área técnica da agência tivesse que se adaptar para poder dar conta dos cálculos e simular os cenários que embasariam os preços mínimos do edital. A agência optou então por abandonar as velhas planilhas de Excel e desenvolver um sistema próprio em linguagem Python para simular a licitação. O trabalho foi feito internamente pela agência, que conta com apenas três engenheiros de software dedicados a esta tarefa, e passará pela prova de fogo nas próximas duas semanas, quando serão finalizados todos os cálculos referentes ao edital para serem enviados ao TCU.
A opção por um sistema próprio se deu a partir da constatação de que seria impossível ter agilidade e ao mesmo tempo transparência no processamento dos cenários que se desenhavam. O edital de 5G tem, considerando todas as faixas de frequências e arranjos de blocos nacionais e regionais, nada menos do que nove modelos de negócio diferentes, e uma quantidade de obrigações tal que seria impossível fazer a conta sem um software dedicado. A agência poderia contratar soluções de mercado (existem vários softwares de simulação de valor de espectro oferecidos por grandes consultorias internacionais), mas a necessidade de dar transparência e permitir a auditoria por parte do Tribunal de Contas da União limitava as opções.
Para se ter uma comparação, no edital de 700 MHz, realizado em 2013, todas as contas podiam ser simuladas em uma única planilha de Excel, pois havia apenas um modelo base. E mesmo assim, cada parâmetro alterado consumia pelo menos 15 minutos de processamento na estrutura de computação da Anatel disponível à época. Hoje, com o sistema em Python, as planilhas rodam em cerca de 3 a 4 minutos a cada novo ajuste. Mas o trabalho ainda exige uma programação específica, e cada obrigação ou compromisso colocado no edital demanda alterações no código do sistema. Ainda assim, a expectativa da área técnica é que será possível incorporar as últimas alterações no edital formatadas pelo conselho, rodar e validar as novas contas e entregar o resultado para o Tribunal de Contas da União nas próximas duas semanas.
A Anatel, contudo, não fará a validação das contas apresentadas pelo Ministério das Comunicações para o projeto da rede privativa e para o PAIS (Programa Amazônia Integrada e Sustentável) porque isso exigiria um ajuste muito mais amplo no sistema e uma mobilização de coleta de dados que a agência não teria condições de fazer no tempo acordado com o ministério. A opção é entregar as planilhas do MCOM ao TCU tais como vieram.
Durante a leitura de seu voto para o edital de 5G na quinta, 25, e, novamente, na coletiva de imprensa para anunciar a conclusão do edital, o presidente da Anatel Leonardo Euler de Morais fez questão de destacar o sistema em Python (linguagem de programação) que a Anatel desenvolveu para os cálculos do edital e ainda sugeriu que ele possa ser colocado à disposição de outros órgãos do governo.