O grande mistério do escândalo de espionagem corporativa envolvendo a Brasil Telecom e a Telecom Italia publicado nesta quinta, 22, pelo jornal Folha de S. Paulo é a forma com que os emails entre Luiz Gushiken (hoje ministro titular da Secretaria de Comunicação do governo) e o empresário Luiz Roberto Demarco (que trava diversas disputas judiciais contra o Opportunity) foram parar nos relatórios da Kroll, contratada pela BrT para levantar informações. Tudo indica que os emails eram parte de um lote de documentos furtados do escritório de Demarco em 2001, em um caso que envolvia a sua ex-mulher, Maria Regina Yazbek.
A Kroll, segundo a própria reportagem da Folha, diz que os emails estão ou em ações judiciais, ou foram fornecidas pela parte contratante (Brasil Telecom), mas não esclarece qual das duas alternativas vale nesse caso.
Depois do furto, ocorrido em 2001, quando foram levados vários documentos e mais de 4 mil emails do escritório de Demarco (conforme inquérito registrado no 14º Distrito Policial de Pinheiros), algumas dessas mensagens foram recuperadas no computador da ex-mulher do empresário. A revista Carta Capital, em 2001, relatou em matéria de capa o furto dos documentos de Demarco e apontou a participação da Kroll no episódio. Demarco, então, enviou carta ao comando da Kroll no Brasil pedindo informações, tudo isso ainda em 2001.
Apesar da Justiça de Cayman reconhecer o furto de documentos, o inquérito no Brasil foi arquivado sem conclusões, em circunstâncias polêmicas.
Demarco não fala sobre o caso e não comenta se os emails trocados com o agora ministro Gushiken em 2000 e 2001 e relatados pela Folha estavam entre aqueles subtraídos de seu escritório, mas as datas coincidem. A relação comerciais entre Demarco e o PT são conhecidas e antigas: a Mirácula, de Demarco, desenvolveu a loja virtual do partido. A experiência, que deu resultados expressivos de arrecadação, foi objeto de diversas reportagens no Brasil e no exterior em 2002 e 2003, após a eleição de Lula.
Preocupação
O que preocupa o governo, agora, é o fato de a investigação ter sido contratada por uma empresa de telefonia, que presta serviços à maioria dos órgãos públicos. Por isso, o alerta é máximo, segundo fontes ouvidas por esse noticiário.
A Brasil Telecom, por seu turno, divulgou nota oficial nesta quinta, 22, informando que de fato contratou a Kroll para investigar a Telecom Italia, mas para apurar os supostos prejuízos que teriam sido causados pelos italianos à tele no processo de compra da CRT. À Folha de S. Paulo, Carla Cico, presidente da operadora, diz que não pretendia espionar o governo.
Já o Ministro Luiz Gushiken divulgou nota repudiando os "procedimentos de espionagem noticiados" e dizendo que "irá adotar as medidas jurídicas pertinentes a essa ocorrência de flagrante desrespeito constitucional". Segundo a nota, "no âmbito do Governo, o assunto vem sendo acompanhado pela Polícia Federal e pelo Ministério da Justiça". Gushiken "considera legítimo que os fundos de pensão das empresas públicas possam lutar para exercer plenamente seus direitos de controle sobre os recursos por eles administrados", em referência às informações do relatório da Kroll segundo as quais o ministro teria ajudado os fundos de pensão a se desvencilharem do Opportunity no que diz respeito à gestão do então fundo CVC Nacional.
O escândalo sai justamente em um momento em que a Telecom Italia briga na Justiça do Rio de Janeiro para retornar ao bloco de controle da Brasil Telecom. O Opportunity, por sua vez, recorreu à Câmara de Arbitragem de Londres em dezembro de 2003 para impedir que a Telecom Italia readquira tais dreitos, pois entende que isso seria lesivo à companhia.
A Kroll foi procurada pela reportagem para esclarecer a origem dos emails incluídos no seu relatório de investigação revelado pela Folha da S. Paulo mas não retornou as ligações até o fechamento da edição.