BrT foi à justiça de Nova York conseguir documentos da Kroll

A Brasil Telecom move, em Nova York, uma ação contra a empresa de investigação Kroll com a finalidade de obter os relatórios, contratos, correspondências e as informações levantadas pela empresa e que simplesmente desapareceram dos registros da operadora quando o Opportunity foi afastado da gestão, em setembro de 2005. A ação começou em meados de dezembro de 2005 e ainda está em curso. Foi a forma que a Brasil Telecom encontrou de pressionar a Kroll a entregar os dados solicitados e que não estavam sendo fornecidos.
Segundo a peça de acusação da Brasil Telecom, a Kroll recebeu mais de US$ 10 milhões entre 2001 e março de 2005 em pagamento pelo contrato de investigação firmado. Segundo apurou este noticiário, este valor pode ser maior porque não inclui advogados. Ao assumir a companhia, no fim de setembro de 2005, a nova gestão da BrT só encontrou as faturas de pagamentos realizados à Kroll, e mais nenhum documento.
De dezembro para cá, a Kroll entregou uma grande quantidade de documentos e relatórios à Brasil Telecom.

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Kroll não entrega fontes

Mas a empresa de investigação não quis abrir para a operadora as informações recebidas de seus ?subcontratados? nem os procedimentos de investigação que levaram à obtenção dos dados. Não estão entre os documentos entregues, portanto, as fontes primárias de informações que, suspeita-se, podem ter sido fruto de ações ilegais como grampos, quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico e documentos privados de terceiros. Alguns, segundo queixas apresentadas à polícia, roubados.
A Kroll alega que estas informações internas são reservadas e apenas subsidiam os relatórios de trabalho. Diz que não é prática abrir estes dados aos clientes e que a Brasil Telecom nunca teve acesso a estas informações. E justifica a reserva em relação a estes dados dizendo que a abertura dos segredos exporia os métodos da Kroll a seus concorrentes e prejudicaria os trabalhos da empresa junto a outros clientes.
O caso Kroll é o episódio envolvendo espionagens encomendadas pelo grupo Opportunity contra seus desafetos. O caso tem sido, desde que os fundos de pensão e o Citibank assumiram o controle da Brasil Telecom, no final de setembro de 2005, um dos assuntos mais reservados dentro da operadora. Como se sabe, a BrT foi quem contratou a empresa de investigação, inicialmente sob o pretexto de levantar dados sobre a Telecom Italia, mas que na prática serviu para espionar uma gama de pessoas e empresas, que vão de empresas diversas a empresários, integrantes do governo e jornalistas.

Globo foi investigada

Segundo os dados disponíveis no processo em Nova York, a Kroll já passou à Brasil Telecom mais de 1,1 mil documentos. A íntegra dos documentos não está disponível para a Justiça americana. Mas há um índice de quais são os arquivos entregues. É ali que se pode perceber a extensão das investigações realizadas com dinheiro da BrT.
Há de tudo: de informações financeiras sobre empresas diversas, artigos de imprensa, análises de investimento, trocas de correspondências a pareceres de advogados e consultores. Mas há também informações aparentemente reservadas, como minutas de documentos de empresas como a Globo (cujo volume de informações coletadas é consideravelmente grande em relação a outras companhias ?analisadas? pela Kroll), Telecom Italia, TIM, TIW e informações ou correspondências entre pessoas, como Cássio Casseb (ex-presidente do Banco do Brasil) e Luiz Roberto Demarco (empresário e desafeto de Daniel Dantas). Há ainda memorandos da Kroll, cartas à CVM e até mesmo uma "análise de danos", incluindo um de outubro de 2004. Como a Kroll só passou à justiça dos EUA uma relação das informações que foram encaminhadas à Brasil Telecom, não é possível saber o conteúdo dos documentos.

Benefício próprio

Em nova representação feita pela Brasil Telecom contra a gestão do Opportunity e entregue à CVM nesta terça, 21, há uma análise feita pela Kroll sobre supostos danos sofridos pelo Opportunity em função das disputas com os sócios. Segundo este levantamento, o Opportunity teria perdido entre US$ 900 milhões e US$ 1,5 bilhão. A Brasil Telecom encaminhou este dado à CVM para comprovar que o Opportunity usou a Kroll, paga pela BrT, em benefício próprio.
Mas a análise do processo em Nova York mostra outros detalhes desconhecidos até aqui em relação ao caso. Por exemplo, a própria Kroll admite que a partir de 8 de outubro de 2004 ela passou a ser contratada da Brasil Telecom por meio de uma empresa de advocacia nos EUA, chamada Thelen, Reid & Preist. Foi uma mudança contratual realizada, portanto, depois que o escândalo das espionagens promovidas pela Kroll a pedido dos gestores nomeados pelo Opportunity veio a público.

Contrato secreto

Outro ponto interessante: a Kroll admite que houve, entre ela e a Brasil Telecom, um contrato firmado em 2001 e que não diz respeito à Telecom Italia, mas, segundo a Kroll, cópia deste contrato não pôde ser entregue à BrT porque o documento está entre os que foram apreendidos pela Polícia Federal, na chamada Operação Chacal. Ou seja, a Kroll já trabalhava para a gestão de Daniel Dantas antes mesmo de ter sido contratada para investigar os italianos.
Durante a Operação Chacal, a Polícia Federal investigou e realizou apreensões e prisões na sede da Kroll e na sede do Opportunity.
Um outro dado notável que pode ser observado na ação em Nova York é que os advogados da Kroll admitem, em audiência com o juiz responsável pelo caso, que a empresa recebeu ordens dos ?antigos administradores? da Brasil Telecom para não entregar nenhum documento sobre as investigações aos ?novos administradores?.
Ou seja, a gestão Opportunity (?antigos administradores?) mandou a Kroll omitir informações da gestão que foi nomeada pelos fundos de pensão e Citibank (?novos administradores?).
Os ?novos administradores? da Brasil Telecom, aliás, só tomaram conhecimento dessa ordem porque, inadvertidamente, a Kroll enviou a Carla Cico um fax confirmando a ordem recebida. A carta, entretanto, chegou quando Carla Cico já estava demitida e Ricardo Knoepfelmacher já havia assumido a empresa.

Kroll quer sigilo

Em vários momentos da ação, os advogados da Kroll pedem para que a Brasil Telecom assuma o compromisso de não dar publicidade a ação em Nova York nem a nenhum dos documentos levantados nas investigações nem fazer qualquer uso que não seja interno das informações. Alega que que há documentos confidenciais e que poderia expor a Kroll e atrapalhar as suas atividades. Até onde se pode observar, a Brasil Telecom não assumiu este compromisso, até porque entende que os eventuais atos ilegais da Kroll precisam ser encaminhados às autoridades. Tudo indica que a Kroll entregou quase todas as informações levantadas em decorrência do contrato da BrT à operadora.
O caso Kroll é complexo. Envolve uma ação penal que é movida contra Carla Cico, Daniel Dantas e outras pessoas ligadas ao Opportunity e à Kroll, todos indiciados após a investigação da Polícia Federal que apurou espionagem, corrupção e formação de quadrilha. O caso no Brasil, contudo, corre (lentamente) em segredo de Justiça, o que impede a imprensa de trazer qualquer informação adicional.
A ação da Brasil Telecom contra a Kroll é aberta nos EUA. A íntegra dos documentos apresentados por ambas as partes até aqui à justiça norte-americana está disponível em www.teletime.com.br/arquivos/brt_vs_kroll.zip . O arquivo tem 8 Mb.

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