Grande foco da cadeia de telecom na primeira fase de implementação do 5G no Brasil, o segmento corporativo está avançando na adoção do recurso, apesar de obstáculos citados por fornecedores e pelas operadoras durante a Futurecom, realizada nesta semana em São Paulo.
Uma das novidades anunciadas no evento veio da Embratel, braço da Claro para o segmento corporativo: a empresa está participando da implementação de uma rede privativa 5G em planta da Nestlé na cidade de Caçapava (SP), em projeto que também envolve a fornecedora Ericsson.
Diretor de marketing B2B da Embratel, Alexandre Gomes explicou que frequência de 3,5 GHz em caráter experimental está sendo usada na empreitada, que ainda não está 100% implementada. "Estamos fazendo todas as experimentações para comprovar, junto ao cliente, que ele vai ter benefícios com a adoção da tecnologia".
A Embratel também está atuando em projeto com a Johnson & Johnson (mas sem maiores detalhes divulgados), além de iniciativa conhecida para rede privativa junto à Gerdau. Em paralelo, um outro nicho que pode gerar oportunidade são empresas que cogitaram ativar o recurso por conta própria, mas que depois recorreram a operadoras por conta de complexidades.
"Fazer sozinho significa se virar com todo o ecossistema. Tem casos de quem queira inverter o jogo, porque fez esse movimento e não está feliz. Há setores que aparentemente demandam a operadora não estar presente e assumem o risco, mas entendemos que para entregar perfeito fim a fim, é melhor utilizar inclusive o espectro da operadora", afirmou Gomes ao TELETIME, durante a Futurecom.
Participando de debate no mesmo evento, a diretora de operações comerciais B2B da Vivo, Debora Bortolasi, citou os segmentos de mineração e óleo e gás como detentores de grande potencial dentro do segmento corporativo. A operadora ostenta "casos reais" de redes privativas ao lado de players como Vale e Petrobras – inclusive com possibilidade de migração para o 5G.
Entre os desafios, aponta Bortolasi, estão a disponibilidade de devices compatíveis. "Também precisamos de mais opções homologadas de placas e módulos para ampliar o mercado de B2B", afirmou a diretora. Em paralelo, a recente aquisição pela Vivo da integradora Vita IT é considerada um passo importante na estratégia da empresa.
Da parte da Anatel, não há falta de espectro para este mercado. O espectro de 3,7 GHz para serviço limitado privado (SLP) está disponível até mesmo para as operadoras, que já teriam se interessado em utilizar a faixa.
Fornecedores
Entre os fornecedores de equipamentos e soluções, o diagnóstico foi de um longo caminho a ser traçado pela indústria para exploração do 5G no B2B. "Para ser honesto, a cultura de desenvolvimento de produtos ainda está começando", admitiu o presidente da Ericsson para o Cone Sul da América Latina, Rodrigo Dienstmann.
Na visão da empresa, a tarefa das teles é assumir nesta geração um protagonismo que não foi exercido no ciclo do 4G – que beneficiou principalmente as empresas de aplicações de Internet. Presidente de divisão da Amdocs na América Latina, Clayton Cruz também apontou que há muito trabalho a ser feito.
"As oportunidades imediatas do 5G estão no B2B, mas o desafio é a escala. Ainda não há a infraestrutura de sistemas que a plataforma 5G requer, pois os sistemas ficam sempre por último, mesmo com redes ficando prontas", sinalizou a empresa, que tem prestado consultoria inclusive para a rede privativa do governo federal.
Já o diretor de soluções integradas da Huawei, Carlos Roseiro, apontou a definição de segmentos estratégicos como uma forma de potencializar a atuação no B2B. A abordagem foi usada na China, onde a dinâmica de mercado fez as operadoras focarem em três cadeias específicas: manufatura, logística e mineração. Para o especialista, a demanda destas verticais converge de alguma forma com o que está sendo visto no Brasil.
