A preocupação com a agenda ESG está cada vez mais presente na vida de operadores de pequeno e médio porte. No caso da Vero Internet, trata-se de uma agenda essencial inclusive para assegurar à empresa uma perspectiva de valorização maior em um futuro IPO ou realização dos investimentos por parte do principal acionista, a Vinci Partner. Mas não é só isso. "Existe um ganho direto, que é trazer economia com gasto de energia e manter a empresa nos melhores padrões para uma eventual abertura de capital, ou para quando o acionista achar que é hora de realizar os investimentos, mas a nossa implementação da agenda de sustentabilidade, inclusão e governança é parte de uma visão de longo prazo, para trazer um impacto positivo para as comunidades onde atuamos e mitigar riscos não previstos", explica Flávio Rossini, diretor de assuntos corporativos da Vero Internet. "Nosso objetivo é ter resultados duradouros para nossos acionistas e clientes. A iniciativa ESG começou em 2020, com todo um programa de compliance, porque nosso acionista tem uma preocupação especial nesse tema".
Ele explica que a implementação de um programa ESG em uma empresa como a Vero tem o desafio de ser uma empresa com menor capacidade de mobilização e impacto de uma grande operadora, que tem hoje cerca de 800 mil clientes de banda larga, sobretudo nas regiões Sul e no estado de Minas Gerais. "Mas a gente tem uma facilidade por ser uma empresa menor e mais ágil, o que permite um maior engajamento e tem menos travas e amarras. O nosso projeto é capitaneado por uma diretoria, mas com forte apoio da presidência, com engajamento da gestão da empresa", diz ele.
Um dos principais projetos da Vero dentro de um programa pautado por uma agenda ESG é o projeto de conectividade em escolas, que hoje conecta 17 escolas nas cidades em que a empresa atua e deve chegar a 45 até o final do ano. "O projeto em escolas nos ajuda na relação com as prefeituras, nos ajuda a buscar recursos do Fust, mas não é só dinheiro, é um esforço de impactar a comunidade".
Ele também lembra que esta é uma agenda relevante para o governo como política pública, e a Vero se vê atuando nestas políticas.
"As conversas com o Escolas Conectadas (iniciativas da qual a Vero faz parte ao lago de outros provedores) estão avançando no Minicom e o que a gente vai fazer é sugestões ao governo sobre como facilitar o acesso ao recurso do Fust. Tem uma lista muito amarrada de instituições (que receberão os projetos do Fust) e a gente quer sugerir formas de abrir mais, garantindo que o recurso chegue mais longe e em instituições não previstas. No médio prazo a gente quer poder participar das políticas públicas de conectividade em escolas", explica Rossini.
Ele acredita que a Anatel, assim como faz a CVM, deveria buscar formas de incentivar as operadoras de telecomunicações a adotarem uma agenda alinhada com os princípios ESG, sem necessariamente impor obrigações. "A CVM reformulou o formulário de referência para endereçar alguns temas de ESG, com mapa de gênero, raça, religião, muito mais com foco em transparência e gerar dados, além da necessidade de publicar relatórios, e isso foi positivo", explica.
Segundo ele, a adoção de práticas ESG também pode trazer benefícios para empresas que buscam participar de processos de consolidação. "Dá uma visibilidade positiva para a empresa, e já alinhada com a agenda de empresas maiores", diz.
Agenda regulatória
Sobre as questões regulatórias que hoje preocupam a Vero estão, entre outras, a questão dos postes. "Há um papel fundamental das agências Anatel e Aneel e se elas não se entenderem vai ser difícil ordenar isso, tem que ter preço justo que atenda os dois lados, e que seja adequado a ambos. Na reordenação dos cabos, precisamos ter uma preocupação para a logística reversa".
Ele concorda que a gestão do reordenamento seja delegada a uma empresa com esse propósito, como parece ser a solução a ser dada pelas duas entidades reguladoras. "Tem muita coisa para ser definida ainda sobre o funcionamento da entidade: precificação nacional,assimetria entre as empresas privadas e as empresas públicas… e por isso é fundamental o papel das agências reguladoras. Mas pelo que estamos vendo, há um alinhamento e estamos ansiosos para ver o que vem".
Ele também comenta sobre o modelo de assimetrias regulatórias assegurado hoje a pequenos provedores. "Acho que o termo 'assimetria regulatória' pode gerar uma impressão pejorativa. Prefiro falar em tratamento diferenciado da Anatel. Foi isso o que permitiu o avanço das pequenas. Mas isso não pode significar o não cumprimento de obrigações e salvo conduta de práticas erradas. Aderimos sempre ao Anatel Consumidor, à pesquisa de satisfação, para mostrar os nossos dados, e queremos no futuro entrar no RQUAL. Queremos garantir qualidade, estabilidade e essa tem que ser a regra do mercado. A não ser que haja uma desregulamentação geral, entendemos que existe um poder de mercado das incumbentes que precisa ser considerado. Queremos que a competição seja sempre fomentada, e o benefício será do consumidor", diz Flávio Rossini.