A decisão da Anatel que abriu caminho para uso do 6 GHz por serviços móveis no País não significa uma desistência do uso não licenciado na faixa, afirma a agência. Ainda assim, o ritmo de adoção de roteadores WiFi 6E operando no Brasil ainda é considerado aquém do esperado.
A avaliação foi feita no Teletime Live pelo superintendente de outorgas e recursos à prestação da Anatel, Vinicius Caram. Durante balanço da Conferência Mundial de Radiocomunicações de 2023 (WRC 2023), o superintendente notou que a agência esperava um uso massivo – e não apenas empresarial – de roteadores operando na faixa de 6 GHz.
A perspectiva, contudo, ainda não se concretizou. "As empresas não trocam os modems ainda porque está muito caro", afirmou o superintendente, comparando o preço de R$ 200 ou menos de um roteador tradicional contra "mais de R$ 2 mil" por enquanto cobrados entre equipamentos WiFi 6E.
Mas isso não significa que a Anatel esteja desistindo de emplacar a tecnologia, apontou o gerente de espectro, órbita e radiodifusão da agência, Rodrigo Gebrim. Ao propor a nota de rodapé na WRC 23 que prevê a divisão do 6 GHz com serviços móveis, o Brasil incluiu a declaração de que sistemas WiFi também são importantes na faixa. Esta seria a primeira vez que um serviço não licenciado recebe reconhecimento do gênero.
A avaliação é que tal inclusão abre caminho para a convivência entre os sistemas como WiFi e os serviços móveis como 5G no mesmo espectro de 6 GHz. Para Vinicius Caram, a coexistência é perfeitamente possível, visto que equipamentos WiFi 6E usam portadoras de 160 MHz, chegando a 320 MHz no WiFi 7.
"Ninguém vai usar todo 1,2 GHz", afirmou ele (oficialmente, a faixa de 6 GHz vai de 5,9 GHz até 7,1 GHz). Dessa forma, deixar 500 MHz para uso não licenciado (e 700 MHz para redes móveis) poderia ser caminho viável. Vale lembrar que há uma série de passos para a nova divisão ser formalizada pela Anatel, a começar por tomada de subsídios sobre o uso de espectro na próxima década.
Em paralelo, nada muda na certificação de equipamentos WiFi 6E no Brasil, indicou Caram. Também segue relevante a definição de sistemas de coordenação automatizada de frequências (AFC) para um futuro horizonte de uso outdoor do WiFi em 6 GHz. Neste caso, o superintendente nota que faltam definições globais para o assunto, mas que no máximo 600 MHz devem ser utilizados em aplicações em ambientes abertos.
De forma geral, o uso do 6 GHz para o WiFi no Brasil interessa muito a provedores regionais, seja na modalidade outdoor ou na indoor, já permitida no País. Na última, TELETIME registrou alguns pilotos utilizando a tecnologia, envolvendo operadoras como Alloha, Alares e Americanet. A Associação Neo também defendeu há uma semana a alocação integral do 6 GHz para uso licenciado. E a Abrint, que representa pequenos provedores, esteve em peso na WRC 2023 defendendo o uso da faixa de 6 GHz para serviços baseados em WiFi.
Seria muito mais interessante se invertermos os espectros da faixa de 6 GHz, 700 MHz para o Wi-Fi e 500 MHz para as teles, isso porque o Wi-Fi sempre evoluiu duplicando os espectros, 20/40/80/160/320 MHz.
É esperado que a próxima evolução do Wi-Fi utilize 640 MHz, isso também permitiria que o atual Wi-Fi 7 tenha dois espectros independentes de 320 MHz para evitar uma saturação mais rápida da faixa de 6 GHz.