Amazon: Projeto Kuiper foi pensado de forma sustentável

Painel de satélites na Futurecom 2022. Foto: Bruno do Amaral

O problema relacionado à utilização de recursos de órbita e consequente aumento de detritos espaciais provocados pelas megaconstelações de baixa altitude (LEO) é algo que a Amazon leva em consideração no desenvolvimento de seu próprio serviço de banda larga via satélites, disse durante painel de satélites na Futurecom 2022 nesta terça-feira, 18, o head de business development na Latam do Projeto Kuiper, Bruno Henrique Soares. Segundo ele, a constelação de mais de 3,2 mil satélites da Amazon foi pensada de início com a sustentabilidade espacial em mente.

Soares comentou que a empresa não assumiria um comportamento agressivo em relação à utilização dos recursos espaciais. "Desde o início, a Amazon teve o uso responsável do espaço como pilar. Isso influencia como um todo, desde a órbita ao formato do satélite, passando pelo desenho até dos combustíveis, o que acontece se explodem. E, principalmente, pela propulsão ativa, com reentrada em órbita de forma ativa, conseguindo reentrar em menos de um ano", explica. 

Além disso, os sistemas redundantes de comunicação e propulsão permitem o remanejamento do satélite, incluindo a remoção. "Hoje, isso está dependendo de empresas como a Amazon para ditar como poderia ser feito em vez de sair jogando satélites sem possibilidade de manobra", disse. 

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A Amazon ainda não divulgou quando começará a operar de fato no Brasil, e Soares não chegou a explicar se esse custo menor do terminal conseguiria ser repassado no mercado nacional. Nos Estados Unidos, o estimado é que o aparelho fique abaixo de US$ 500. Globalmente, a Amazon se comprometeu a investir mais de US$ 10 bilhões, e recentemente anunciou o "maior contrato de lançadores da história", com 92 lançamentos de grandes foguetes para a constelação. 

Por outro lado, a companhia conseguiu para o Projeto Kuiper reduzir o preço dos terminais. "Atualmente, um dos grandes problemas da LEO é que tem de ter antenas rastreando os satélites, precisa colocar elementos, phase array, que acabam sendo caros. E a gente conseguiu desenvolver um terminal realmente de baixo custo." Ainda de acordo com Bruno Soares, a intenção do projeto é de oferecer velocidades de 400 Mbps por terminal.

Autorregulação

O consenso durante o painel é que há uma preocupação com a sustentabilidade espacial. Para a gerente de dinâmica orbital da Embratel Star One, Erika Rosetto, a questão não é nova, mas está ficando cada vez mais crítica. Ela cita recente iniciativa da agência reguladora norte-americana, a FCC, que criou regras para reduzir o lixo espacial, estabelecendo período máximo de cinco anos para retirada de órbita dos satélites. "Temos que ter uma medida um pouco mais controladora para continuar usando o espaço, porque é um recurso limitado. Por outro lado, tem a demanda que cresce e precisamos encontrar uma solução", declara.

Rosetto explica que o debate precisa ser conjunto, com reguladores e empresas, mas pontua que não acredita que a autorregulação seja o caminho. Rodrigo Leonardi, coordenador de satélites e aplicações da Agência Espacial Brasileira (AEB), concorda. "Não existe solução a curto prazo. Sou cético, não acho que a autorregulação vai resolver. Tem questões não só mercadológicas, relacionadas à defesa, e vai ser difícil se não houver uma negociação internacional", destaca. Para ele, regras da FCC vão apenas mitigar, mas não resolver, uma vez que empresas de grandes mercados como China, Rússia e Índia também precisam abordar o tema. "Se o Brasil não puder prover solução, podemos auxiliar no diálogo e intermediar nações com diferentes visões".

Vice-presidente de desenvolvimento corporativo Latam da SES, Fábio Alencar entende que o mercado acabará tomando a frente. Ele comentou a nova resolução da União Internacional de Telecomunicações (UIT), acordada durante a Conferência Plenipotenciária (PP-22). "A UIT anunciou grupo de estudos, todo mundo preocupado, é algo urgente, para 2023, mas eu temo que vamos ser atropelados pelo mercado", destacou. Isso significaria que os grandes players, como EUA e China, acabariam ditando o ritmo de desenvolvimento, ainda que isso resulte em uma regra menos igualitária para os demais países.

Participando do debate como moderador, o presidente da Abrasat, Mauro Wanjberg, comentou que o problema do lixo espacial já resulta em oportunidades de negócio para empresas, citando a AstroScale, especializada na coleta de detritos espaciais. "As próprias soluções acabam virando negócios", coloca

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