Relatório do CPqD recebe críticas de radiodifusores

Este noticiário recebeu, de diversos interlocutores que preferem não se manifestar publicamente comentários sobre o relatório final do CPqD sobre o Modelo de Referência do Sistema Brasileiro de TV Digital.
Muitos dos questionamentos foram feitos em relação aos valores dos set-tops para a recepção do sinal digital. Em geral, a exemplo do que já fez o ministro Hélio Costa publicamente, o questionamento é que os valores estão elevados, e que hoje todos os padrões ofereceriam caixas mais baratas. Segundo um radiodifusor ouvido por este noticiário, os custos estimados pelo CPqD não batem com as pesquisas feitas pela Universidade de São Paulo, que aponta discrepâncias de no máximo 10% entre os padrões.
Outro questionamento, vindo de radiodifusores, diz respeito à avaliação de riscos e benefícios dos diferentes modelos de negócio. Para os radiodifusores, o modelo com alta definição e mobilidade apenas, que equivaleria ao modelo incremental colocado pelo CPqD, é o de menor risco para o modelo de negócio atual das empresas. Também é aquele que permitiria uma mudança mais rápida, sem grandes problemas regulatórios. Para as emissoras de TV, introduzir a figura do operador de rede, de canais públicos obrigatórios, de programação variada nos canais adicionais, tudo isso representa inovações que podem ameaçar o modelo atual se for feito de forma impositiva. O relatório do CPqD, contudo, sugere que o modelo incremental seria o pior em relação aos riscos e benefícios. É uma divergência séria de posições, já que de um lado está quem de fato explora o mercado de televisão e, de outro, um modelo teórico. Segundo a leitura de um radiodifusor, não se está discutindo, agora, novos serviços, e por isso não faz sentido impor um modelo convergente, como quer o CPqD.

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Outro questionamento dos radiodifusores: a curva de tempo estimada pelo CPqD para a adoção da TV digital no Brasil. Segundo uma fonte ouvida por este noticiário, só fará sentido estimar isso quando as televisões disserem o que estará no ar. Se o conteúdo for em alta definição, a curva é uma, se for em definição padrão, a curva é outra. Não faria sentido, então, o CPqD fazer esta estimativa agora.
Em relação aos problemas regulatórios a serem resolvidos, sobretudo em relação à determinação de quem terá ou não 6 MHz para a migração e como será administrada a ociosidade do espectro, que é outro ponto levantado pelo CPqD, a ponderação é que atrasar a digitalização até que isso seja resolvido é punir o radiodifusor sério. ?O governo tem que cumprir a lei e ter coragem de proibir a migração de quem estiver irregular?, diz um radiodifusor. ?Mas não pode punir quem está querendo começar a digitalização já e cumpre suas obrigações?.

Interação pelo celular

O uso de uma rede WiMax nacional como canal de interação também é questionado. Segundo emissoras de televisão ouvidas por este noticiário, para 99% da interatividade que o telespectador pode efetivamente demandar, o celular, que hoje tem uma planta instalada maior até do que a da TV, é muito mais eficiente e barato. Discutir uma rede WiMax juntamente com o processo de migração seria perda de tempo.
Este noticiário também ouviu críticas sobre os critérios para a avaliação da robustez do padrão DVB, que está praticamente equiparado ao ISDB-T e ao ATSC no relatório do CPqD. ?Isso só faz sentido se você diminuir brutalmente a capacidade de transmissão do DVB?, justifica um radiodifusor. ?Isso deveria estar mais claro no relatório?.
Os radiodifusores tendem a concordar que o Brasil deve começar com o MPEG 4, porque é a tecnologia em estado da arte para compressão. ?É uma questão de negociação de preços. O governo deveria estar fazendo isso já, para ganhar tempo?. Para os radiodifusores, o middleware brasileiro tem grandes chances de ser incorporado aos padrões mundiais, mas para isso a TV digital não pode atrasar mais. ?Se não se desenvolver o mercado aqui, os pesquisadores brasileiros ficarão sem vitrine?, diz um engenheiro de televisão.
Muitas críticas foram feitas à cadeia de valor proposta pelo CPqD, principalmente em relação à presença do operador de rede. ?Isso é uma proposta para um serviço de telecomunicações. Não é televisão aberta, e é coisa de quem não entende do nosso negócio?, diz uma emissora. O receio dos radiodifusores é que haja alguma imposição nesse sentido.
Radiodifusores também criticaram o CPqD por estar propondo cenários de mercado distantes da realidade, como é o modelo convergente ou mesmo o de diferenciação. ?Isso é papel do governo, não de um instituto de pesquisa?.

Prazos

Uma das grandes preocupações dos radiodifusores é com relação aos prazos. A avaliação é que pelo menos a decisão sobre a modulação precisa ser tomada até o dia 10 de março, primeiro para que se possa preparar algum tipo de transmissão (provavelmente em caráter experimental) para o período da Copa do Mundo, depois porque considera-se que sobre esse assunto os debates e testes possíveis já foram todos feitos. Esse é um ponto de que os radiodifusores não querem abrir mão, porque entendem que é o mínimo de condição a ser criada para iniciarem o processo de inovação. ?Os problemas regulatórios que serão criados podem ser discutidos com o tempo, mas a sinalização da tecnologia precisa acontecer agora. Se der garantias de que vamos poder migrar, não tem problema?, diz o diretor de uma emissora.
Segundo fontes ligadas aos pesquisadores, contudo, incorporar qualquer elemento das pesquisas nacionais ao padrão de TV digital até o meio do ano, ou mesmo até setembro, seria inviável.

Comentário

Talvez a melhor solução para corrigir os eventuais erros ou distorções do relatório do CPqD seja colocá-lo, oficialmente, em consulta pública por um tempo determinado, para que possa receber comentários oficiais, que inclusive poderiam ser anexados ao relatório ou servir para alterá-lo, onde for o caso.

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