Minicom rebate críticas de Jereissati sobre empresa nacional

As recentes declarações do empresário Carlos Jereissati contra a interferência do governo na criação de uma mega empresa nacional de telecomunicações geraram fortes reações por parte do ministro Hélio Costa. Ele voltou a alegar que sua proposta tem sido interpretada incorretamente pelos empresários. Em evento público na manhã desta terça-feira, 14, Costa desqualificou o conteúdo da entrevista concedida por Jereissati ao jornal Folha de S. Paulo na semana passada. Na matéria, o presidente do grupo La Fonte – acionista da Telemar/Oi – reclama do projeto de fusão da companhia com a Brasil Telecom da forma como estaria sendo incentivado por Costa.
?Lamentavelmente, ele (Jereissati) estava mal informado. Alguém falou para ele que estávamos querendo interferir. Não é isso. É uma questão estratégica, de interesse nacional. O governo está ciente das movimentações acionárias no Brasil e no exterior?, explicou-se. Costa também insistiu que não tem intenções de reestatizar as telecomunicações, mesmo a proposta prevendo o controle público das decisões da tele após a eventual fusão. ?Como vamos reestatizar o que deu certo? Ninguém nunca negou que o processo de privatização deu resultado. Mas ainda tem espaço para melhorar e para as empresas brasileiras disputarem.?
O desagrado de Hélio Costa com os comentários do acionista da Telemar foi ainda mais longe. Costa ficou particularmente ofendido com as passagens em que Jereissati sugeriu que o Minicom não estaria qualificado para conduzir o processo de criação de uma grande companhia nacional. Na publicação, o empresário diz que esse processo não deveria ?ser conduzido por pessoas estranhas ao ambiente das empresas? e reclamou da criação de um grupo de trabalho sobre o tema.

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Costa rebateu as críticas com dureza. ?Eu sou ministro das Comunicações e no dia em que não puder ser interlocutor da minha área, volto para o Senado. Eu tenho um mandato de 3,5 milhões de votos e não preciso ficar aqui.?

Foco nos majoritários

O próprio ministro admite que uma possível fusão deve ser debatida entre as empresas e não pela administração pública. O governo, ao entrar no assunto, estaria interessado apenas em saber se, na hipótese de uma união das teles, haveria interesse em compartilhar o controle com o poder estatal. ?O governo quer saber do empresariado se é conveniente, se está na pauta, se há interesse?.
Fontes do ministério explicam que este é o objetivo fundamental da criação do Grupo de Trabalho (GT), anunciado por Costa há duas semanas, mas ainda no aguardo do aval da Casa Civil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria pedido à Costa que criasse uma lista de investidores interessados em participar da mega empresa. E sinais positivos já teriam surgido entre os diretores da Brasil Telecom. A Telemar também se encontrou com o ministro neste mês, mas não se sabe se o encontro foi frutífero.
A Telemar já demonstrou publicamente seu descontentamento com a idéia do governo, especialmente no tocante à golden share. Um dia após o anúncio do GT, a companhia encaminhou esclarecimento à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) informando seus acionistas que nenhuma fusão estava sendo discutida. Tanta preocupação se deu por que a empresa estava às vésperas de sua oferta pública de ações e os rumores de uma fusão poderiam comprometer o negócio. Os temores se confirmaram e a Telemar teve que suspender a oferta.
Dentro do ministério, o assunto é visto com descaso. Ao redor do ministro, não existe a crença de que as declarações de Costa geraram problemas para a Telemar. A preocupação efetiva do Minicom tem sido ouvir os desejos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos fundos de pensão, investidores públicos na composição acionária das teles. Nos bastidores, o comentário é que agora é o momento de ouvir a maioria (sócios públicos) e "não mais a minoria dos investidores privados", segundo um interlocutor qualificado. Em caso de uma fusão, os acionistas públicos deteriam cerca de 40% do controle da mega tele.

Desconforto internacional

Outro acionista da Brasil Telecom e da Telemar que ainda não engoliu direito a idéia de o governo interferir em uma eventual fusão com a criação de uma golden share foi o Citibank, segundo fontes próximas. O Citi é controlador da Brasil Telecom e acionista minoritário na Telemar, e questionou os sócios brasileiros sobre o significado de uma golden share por parte do governo. Vale lembrar, contudo, que, na prática, o governo já tem poder de veto sobre as decisões do grupo de controle da Telemar, já que o BNDES tem esse poder.
O banco estatal ganhou grandes poderes sobre a Telemar quando teve que entrar como acionista, logo após a privatização, aportando os recursos devidos no leilão de desestatização.

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