8M: as mulheres enquanto protagonistas nas telecomunicações

Foram entrevistadas para esta matéria: Daniela Martins, Cristiane Sanches e Fernanda Coimbra, na ordem. Fotos: Divulgação

Olhar ao redor e se deparar com um ecossistema ainda predominantemente masculino pode ser mais um sufoco na vida das mulheres que escolheram o setor das telecomunicações.

Neste Dia Internacional das Mulheres, TELETIME ouviu algumas vozes da indústria sobre desafios e conquistas vivenciados em telecom. A avaliação é que hora de "destravar" de vez a participação feminina no setor, como define Cristiane Sanches, conselheira da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint). Destravar um campo onde tradicionalmente só homens se beneficiaram. 

"O mercado de tecnologia é um dos espaços onde ainda existe a possibilidade de receber ainda mais mulheres, especialmente, no que diz respeito à tomada de decisão", defende Daniela Martins, diretora de Relações Institucionais, Governamentais e de Comunicação da Conexis Brasil Digital.

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Martins ressalta que a possibilidade de estar abrindo caminho para outras mulheres a motiva a sempre querer mais e buscar novos espaços. "Mais espaços não apenas para mim, mas também para outras mulheres do setor de tecnologia e telecomunicações, para que a gente sempre estimule a presença de outras mulheres com qualidades ímpares", relata.

"Eu sou apaixonada pela tecnologia, pelas telecomunicações e pelo poder que elas têm de transformar de transformar vidas, a economia e o Brasil. Quanto mais mulheres ocupam espaços de decisão, mais a gente abre espaço para outras mulheres e ajudamos também a construir políticas públicas", confessa a diretora da Conexis. 

Mudança

Mesmo dentro da mistura, a integração ainda não é totalmente homogênea. Para Fernanda Coimbra, diretora de Pessoas e Gente da Connectoway, a experiência é uma quebra de paradigmas diária. Ela, que é psicóloga por formação, reconhece as mudanças já presentes na cadeia de telecomunicações, mas avalia que o movimento ainda não é o suficiente e que há uma responsabilidade a ser assumida por todos os profissionais do setor.

"Os homens têm uma importância no processo de mudança. É importante que eles também participem desse movimento de inclusão com oportunidades e respeito. Ações simples como dar voz a mulher que foi interrompida, em uma reunião, por exemplo, pode ter grande impacto na representatividade feminina. A gente precisa também desenvolver os homens culturalmente", defende Fernanda Coimbra.

Já Cristiane Sanches lembra do lado pessoal vivenciado por cada mulher que ingressa no segmento. Segundo ela, existe também a parte da "prova da própria capacidade" – não só diante de terceiros, mas também internamente. "Eu acho que toda mulher que passa por isso e tem esse tipo de dificuldade quer provar que é capaz até para si mesma", reconhece. 

Em muitas vezes, colegas do gênero masculino também ultrapassam todos os limites. Em uma de suas recentes viagens, no bojo da última Conferência Mundial de Radiocomunicações, Sanches ouviu de um inglês: "mulher em telecomunicações? Não faz nenhum sentido, eu não quero nem saber o que você fez lá". Desse jeito, na cara dura, da forma mais "esdrúxula" possível, como ela encara. 

Este seria um momento propício para titubear. Ao se ver como um "peixe fora d'água", a vontade maior não seria desistir? Não para essas mulheres, que, apesar dos obstáculos, se tornaram líderes na indústria brasileira de telecomunicações – desbravando um mar nem tão receptivo assim, mas que mobilizam outras mulheres que também tenham interesse na área. 

Que um dia as profissionais interessadas na telas de programação e nas atividades de campo em telecom possam contar com apoio e respeito ainda maior dos colegas homens. Que não sejam prejudicadas pelo acaso de nascerem mulheres. Que não recebam salários menores e nem sofram represálias pelo seu aparato reprodutivo. Seja pelo que for, que estejam dentro das telecomunicações, sejam protagonistas da própria história, seguras e realizadas.

Números

Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) de 2022 divulgados pela entidade TelComp, 20% dos cargos de telecom são ocupados por mulheres – o que ainda indica um longo caminho a ser seguido em direção à igualdade de gêneros na cadeia.

Nas empresas, há tentativas em curso para maior representatividade. Tomando como exemplo a Vivo, que divulgou dados recentes sobre o tema, as mulheres já são 45% da força de trabalho. Em cargos diretivos, porém, a participação é menor: 33% em 2023. A boa notícia é que o número está aumentando, pois era de apenas 21% em 2019. Já nas atividade de campo, são 410 as profissionais.

Lei de Igualdade Salarial pode promover protagonismo de mulheres em telecom

Já na Anatel – a agência reguladora do setor -, há hoje 354 servidoras mulheres, ou 25% do quadro de servidores. Em um dado preocupante, uma única mulher foi nomeada conselheira até hoje na história da agência: Emília Ribeiro, que ocupou o cargo de conselheira entre 2008 e 2012. E apesar da contribuição inequívoca das mulheres nas comunicações, o Brasil também nunca teve uma ministra do gênero supervisionado o setor no País.

(Colaborou Henrique Julião)

 

 

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