Agilidade no time-to-market para lançamento de novos serviços, escalabilidade e flexibilidade, menores custos de implementação de rede e, economia em facilities são alguns dos ganhos conhecidos do NFV (network function virtualization). Eles se baseiam em uma mudança de arquitetura onde os silos verticalizados por domínios de redes (backbone, core, acesso, entre outros) são desmembrados, possibilitando uma infraestrutura virtualizada e compartilhada composta por servidores e funções de rede implantadas como software.
No entanto, experiências práticas mostram que para obter essas melhorias é necessário fazer um investimento elevado em termos de transformação na implantação do NFV. A quebra dos silos verticais de domínios de rede muda de maneira radical a organização e o modus operandi das operadoras nas últimas décadas. Resistência a mudanças e aspectos culturais têm seu peso nesse processo, mas são apenas as pontas visíveis do iceberg.
Vertical x horizontal
O primeiro, e talvez o mais perceptível, ponto vem da própria arquitetura do NFV: a infraestrutura horizontal compartilhada e virtualizada, e os núcleos de VNF (funções virtualizadas de rede – software) sobre ela. Isso quebra a arquitetura tradicional das operadoras, em que os silos verticais de cada domínio de redes eram responsáveis fim a fim (se é que se pode dizer fim a fim em apenas um domínio) pelos equipamentos e configurações de funções de rede. No novo modelo, passa a haver um provedor de infraestrutura, sobre a qual os domínios de rede são desenvolvidos e configurados. Como acomodar essa nova dinâmica em termos de funções, responsabilidades e estrutura tem se mostrado um quebra-cabeça bem complexo. Por isso, é importante adotar uma estratégia tecnológica que possibilite a escalabilidade, flexibilidade e transparência da rede.
Hardware x software
A capacitação das equipes nas operadoras é fortemente orientada pelas especificidades dos equipamentos dos fabricantes, sendo os treinamentos e certificações oferecidos por eles parâmetros comuns no planejamento de capacitação dos times, com bastante ênfase em configuração de hardware com funcionalidades bem definidas. Esse modelo vem dando espaço a uma demanda cada vez maior por conhecimento em software e codificação. No entanto, há um enorme gap de recrutamento e capacitação de profissionais com esse novo conjunto de habilidades que precisa ser suplantado pelas empresas.
Rede x TI
Virtualização de infraestrutura, desenvolvimento de software, automação das atividades de configuração, dentre outros, são habilidades relativamente novas para as equipes de redes, embora sejam comuns nas equipes de TI. A integração entre as duas áreas facilitaria a adoção do NFV nas empresas, viabilizando o redesenho e automação de atividades massivas, bem como o aprovisionamento de máquinas virtuais.
Engenharia x operações
Em uma arquitetura com serviços em software, nada mais natural do que buscar as melhores práticas de gestão de software para agilizar e flexibilizar o desenvolvimento de novos serviços e funções. Um exemplo é o DevOps, que possibilita a sincronização entre o desenvolvimento e a operação do software em ciclos mais rápidos, viabilizando uma melhor resposta às demandas de mercado. Porém, é complexo sincronizá-los quando as duas funções ficam separadas nas operadoras, muitas vezes, inclusive, em diretorias diferentes. Para explorar os benefícios do DevOps, os dois pilares precisam trabalhar juntos – com integração entre as áreas, por meio squads multidisciplinares ou abordagens.
Parceria x lock-in
Uma das consequências naturais do baixo nível de capacitação das equipes das operadoras de Telecom em relação à NFV, suas tecnologias e habilidades associadas, é a tendência de se apoiarem em fabricantes e parceiros tecnológicos. A dualidade, neste caso, é que um dos ganhos do NFV se sustenta na quebra do lock-in em relação aos fabricantes, com a possibilidade de usar diferentes equipamentos para estruturação de uma infraestrutura mais padronizada e aberta, embora também seja possível implantar NFVs proprietários – o que é favorável aos fabricantes.
Novo x legado
Um dos desafios práticos do NFV é que ele se propõe a substituir a infraestrutura existente. Sua utilização em novos serviços, regiões, segmentos ou outros clusters é uma abordagem viável e recomendada, embora a necessidade da migração do legado para a nova solução continue existindo. Criar núcleos operacionais que dominem a tecnologia e sincronizar estes esforços com um plano de implantação e substituição tem sido um tópico de muito debate e dificuldade de realização.
Portanto, posso afirmar que, com base minhas experiências e nas melhores práticas de mercado, é possível delinear algumas ações macro para endereçar os desafios do NFV. Embora sejam similares às encontradas em planos transformacionais relacionados a outras tecnologias e inovações, neste contexto específico, a combinação de conhecimento técnico sobre NFV, o funcionamento de novas tecnologias e das atuais, bem como o entendimento dos desafios cotidianos das operadoras parecem ser fatores-chave para o sucesso dessa jornada de transformação nas empresas do setor de Telecom.
*- Sobre o autor: Yassuki Takano é diretor de consultoria da Logicalis