Transformação digital não é uma opção, é uma realidade. Mas…

A transformação digital é um fato que abrange toda a sociedade e precisa ser analisada do ponto de vista do seu impacto social. É uma realidade necessária, que não pode excluir pessoas não aptas a fazer uso das ferramentas tecnológicas, seja por falta de conectividade, seja por carência de alfabetização digital.

Inclusão digital é condição para o exercício da cidadania. É inclusão social. Tecnologia, conectividade e inclusão digital são essenciais para preparar a mão-de-obra qualificada necessária à transformação digital do país e criar o mercado consumidor que irá se beneficiar dela. Alguém imagina uma pessoa que consiga vender, comprar, receber ou fazer um pagamento sem acesso à Internet e sem alfabetização digital?

O fato é que a transformação digital chegou sem que os envolvidos fossem preparados para fazer uso dela. Sendo assim, como podemos torná-la acessível e inclusiva, de forma segura, para todos os públicos?

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A conectividade é um direito básico do cidadão, essencial para a inclusão digital e fundamental para impulsionar a transformação digital. A experiência do consumidor digital ao pesquisar, comprar e ser atendido começa com a qualidade de sua conexão e o dispositivo utilizado (na maioria das vezes, um aparelho celular).

Outro desafio da inclusão digital está ligado à educação. Trata-se do acesso desde a infância, às atividades que envolvam STEAM (Science, Technology, Enginering, Arts e Maths), sobretudo para as meninas.

Destaco os desafios da transformação digital para pessoas pertencentes aos grupos 60+ e de Pessoas com Deficiência (PcD).

Em 2017, o Brasil tinha 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Em 2050, espera-se ter 64 milhões. A população acima dos 50 representa 42% do poder de consumo. Nos últimos anos, houve forte avanço do número de pessoas com mais de 60 anos navegando na Internet no Brasil: o percentual cresceu de 68% em 2018 para 97% em 2021, segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offer Wise Pesquisas.

Algumas questões:

  • Como os processos de transformação digital estão cuidando desse público? Obrigando as pessoas 60+ a utilizar atendimento por chat, e-mail e aplicativos, sem possibilidade de interação humana? Ou com interação humana, porém não humanizada, isto é, realizada por pessoas que apenas seguem roteiros sem considerar as necessidades específicas desse público?
  • As pessoas 60+ têm que aprender a usar a tecnologia para serem atendidas por bancos, seguradoras e outras empresas? Como é possível auxiliá-los no aprendizado para o uso das ferramentas digitais?
  • Como as empresas que produzem conteúdo consumido pela população 60+ podem entender as necessidades e adequar o conteúdo?

Segundo os dados mais recentes disponíveis no IBGE, no Brasil, há 45,6 milhões de pessoas (23,9% da população) com algum tipo de deficiência ou dificuldade em enxergar, ouvir ou se locomover (IBGE, 2012).

Já a Lei Brasileira de Inclusão, de 2015, prevê que todos os sites mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo sejam acessíveis para pessoas com deficiência.

A ausência de dados atualizados sobre pessoas com deficiência e o uso da tecnologia contribui para a invisibilidade, além de uma maior exclusão digital e social dessa parcela da população, dificultando o adequado planejamento e a implementação de políticas públicas sobre o tema.

Outras questões:

  • Sabemos que muitos sites não são acessíveis. Quem deve fiscalizar o cumprimento da Lei Brasileira de Inclusão?
  • O que uma PcD pode fazer ao não conseguir realizar uma transação digital?
  • Como as empresas sabem que podem estar perdendo oportunidades comerciais devido à dificuldade de acesso pelo público de PcD?

Algumas ações para que a transformação digital seja mais inclusiva:

  • Políticas públicas de universalização da conectividade, projetos de Estado, com governos e sociedade civil engajados no propósito de levar conectividade significativa a todos: velocidade apropriada, dispositivos adequados, com custo acessível, que permita frequência mínima de uso.
  • Programas de alfabetização digital de jovens e adultos, sobretudo os menos favorecidos, com Educação em STEAM, que requer conectividade com velocidade adequada em todas as escolas públicas brasileiras, currículo adequado e formação dos professores.
  • Empresas que considerem todos os diferentes públicos e suas necessidades específicas em seus processos de transformação digital.

Cada um de nós possui um papel importante na garantia de maior representatividade, igualdade de oportunidades e inclusão na agenda digital e social para todos os públicos. Isso começa com reflexão e ação: o que podemos fazer diariamente para ajudar alguém em nosso círculo a participar da transformação digital?

*- Sobre a autora: Marise De Luca é graduada em Matemática com Especialização em Sistemas de Informação e Pós-graduação em Administração Geral. É consultora na área de Tecnologia de Informação e Comunicação, Conselheira de Administração, Mentora e Coach de Executivos. É Conselheira do Instituto Articule, que atua na articulação entre poder público e sociedade civil para redução de desigualdades sociais, e também Conselheira da Associação MCIO Brasil que tem o objetivo de trazer mais mulheres para a área de tecnologia. No Grupo Mulheres do Brasil, é líder do Comitê Mundo Digital Conectividade, onde defende a criação de políticas públicas de acesso à Internet como direito básico do cidadão, além de programas para levar conectividade para quem mais precisa, sobretudo na área da Educação. As opiniões expressas nesse artigo não representam necessariamente a posição de Teletime.

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