A American Tower está lançando um conceito até então inédito de rede de acesso em fibra compartilhada. A primeira cidade a ter a solução será Belo Horizonte, a partir do segundo trimestre de 2020. A empresa pretende utilizar a infraestrutura da antiga Infovias, pertencente à Cemig Telecom (que foi adquirida pela American Tower no final de 2018) para levar rede de fibra "aberta" a cerca de 300 mil domicílios (HPs) da capital mineira.
A rede poderá ser utilizada por outras operadoras de telecomunicações que pretendam comercializar serviços de banda larga, vídeo e voz baseados em FTTx. A novidade do modelo trazido pela American Tower é que a parte de infraestrutura (dutos, energização, centro de operação etc) e a própria rede de fibra da operadora ficarão totalmente compartilhadas com quantas operadoras desejarem. O compartilhamento se dá no nível do "feixe de luz", se necessário. A mágica por trás do modelo está em uma rede virtualizada em que, sobre as OLTs (Optical Line Terminal), há uma camada de software que permite a operação de diferentes assinantes de diversos provedores de serviços, com parâmetros diferentes para cada um, como se fosse uma OLT virtual.
Segundo Abel Camargo, diretor de desenvolvimento de negócios da American Tower, é como um modelo de RAN Sharing (compartilhamento de rede wireless), mas em fibra. "Cada operadora pode falar com o seu core utilizando o nosso acesso", explica. A rede da American Tower vai até a CTO (caixa terminal óptica) no ponto de presença. A partir deste ponto, cada operador faz o drop até a casa do assinante e conecta seu modem.
Sem acesso a clientes
A American Tower não entra na casa dos clientes de nenhuma de suas parceiras, nem faz o billing. "A gente coordena a parte de manutenção de redes e há alguma integração de sistemas nesse nível, porque pode ser um problema na nossa rede ou no acesso final, e os parceiros têm acesso ao nosso centro de operações, mas nós não temos acesso aos clientes de nenhuma das empresas parceiras", diz ele. Também não existe previsão para um modelo de exclusividade. "Queremos compartilhar a rede de fibra com a maior quantidade de parceiros", diz Camargo.
Também não há restrição de serviços, ainda que, nesse momento, a rede esteja dimensionada para serviços de TV, banda larga e voz. "A gente vai acompanhando as necessidades da rede porque pode haver um limite dependendo da quantidade de usuários e dos serviços oferecidos, mas o que estará disponível é o que está em linha com as ofertas atuais do mercado".
Cidades menores
A American Tower não abre seu modelo comercial, mas diz que pretende ampliar o produto para outras cidades atendidas pela Cemig Telecom, inclusive cidades menores. "Entendemos que hoje a necessidade de investimento em rede e as dificuldades de acesso a postes, dutos e infraestrutura urbana são um limitador para muitos entrantes, e nosso modelo é justamente fazer uma só rede que vários possam compartilhar, cada um com sua estratégia", diz Camargo.
O modelo da rede neutra de FTTH não se confunde com a parceria com a Telefônica para a construção de rede, pelo qual a American Tower construirá 800 mil homes-passed em 40 cidades com acesso GPON.