Cresceu a frequência de uso da Internet no Brasil por crianças e adolescentes em 2015, mas ainda há cerca de 20% dessa população, ou 5,9 milhões de meninos e meninas entre 9 e 17 anos de idade, que não acessam a rede. Além disso, dentro desse universo de desconectados, 3,4 milhões nunca chegaram a acessar a Internet. Os dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2015, divulgada pelo Comitê Gestor da Internet (CGI.br) nesta segunda, 10, que ouviu 6.163 pessoas (metade com crianças e adolescentes, metade com pais ou responsáveis) entre novembro de 2015 e junho de 2016.
Como observado em outras edições da pesquisa, a disparidade sócio-econômica e regional continua existindo. Do total de desconectados, 15% afirmam que é por não ter disponibilidade de acesso em domicílio. Nas áreas rurais, o índice chega a 30%, enquanto nas regiões Norte e Nordeste, o percentual é de 31% e 21%, respectivamente. Assim, nas famílias com renda mensal de até um salário mínimo é maior essa alegação (31%). Por classe social, este é o motivo para 36% da classe D/E.
Da mesma forma, há desigualdade também entre os conectados. A quantidade de crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos que acessam a Internet no Brasil chegou a 80%, ou 23,7 milhões de usuários. A proporção é de 90% no Sul do País, 88% no Sudeste, 85% no Centro-Oeste, 71% no Nordeste e 56% no Norte. E enquanto 97% das classes A e B acessam a rede, apenas 51% dos jovens nas classes D e E têm a mesma oportunidade. Vale ressaltar que na pesquisa referente a 2014, eram 20,5 milhões de jovens, mas a faixa etária era diferente (entre 10 e 17 anos).
"Mesmo entre os que já superaram a barreira de acesso, algumas desigualdades se mantêm", avalia a coordenadora da pesquisa, a pesquisadora do Cetic.br, Maria Eugênia Sozio. "Do total em 2014, (a quantidade de jovens) com acesso à Internet mais de uma vez por dia cresceu de 21% para 66%, e o crescimento na classe D/E foi de 25% para 49%", completa. Confira no gráfico abaixo.
Meios de acesso
De acordo com a pesquisa, 83% do público jovem que acessa a Internet o faz por meio do celular. Importante notar, porém, que 31% acessam exclusivamente com esse tipo de dispositivo, proporção que sobe para 55% no recorte das classes D e E. Os computadores (desktop, laptops e tabets) perderam popularidade e foram a escolha de 64% das crianças e adolescentes (contra 81% em 2014). "Entre crianças usuárias de Internet, existem diferenças importantes e merecem políticas públicas, significa que a pura política de inclusão digital não é suficiente", diz Sozio. Ela acredita que o aumento no uso do celular foi o responsável pelo avanço da maior frequência do acesso.
Isso tem implicações no desenvolvimento de habilidades, segundo o pesquisador do Cetic.br, Alexandre Barbosa. "Para redes sociais de maneira geral, o celular resolve a situação, mas para o desenvolvimento de outras habilidades mais complexas, o celular é limitador", afirma. "Infelizmente, vemos maior acesso somente pelo celular justamente nas classes menos favorecidas, os que não têm banda larga fixa em casa."
No tipo de acesso, 71% acessam a Internet utilizando o celular por meio de Wi-Fi, e 46% usam somente redes móveis. A proporção muda de acordo com a acessibilidade de infraestrutura na região: enquanto no Sudeste fica em 75% e 47%, respectivamente, no Norte fica em 67% e 61%. Vale ressaltar, contudo, que o Nordeste é onde há maior proporção de acesso via Wi-Fi: 77% (e 44% por redes 3G e 4G). O acesso pela rede móvel também é maior nas classes D e E, com 50% (e 66% via Wi-Fi). "Muitas crianças de classe D/E dependem exclusivamente de pacote de dados. Mais uma vez, fa gancho com o tipo de oportunidade ao qual essas crianças estão expostas – ou seja, com velocidade e qualidade de conexão inferiores, em que algumas atividades não são possíveis", analisa Maria Eugênia Sozio.
Alexandre Barbosa ressalta ainda a redução na quantidade crianças que afirmam acessar a Internet na escola, de 38% em 2014 para 31%. Ele lembra que na pesquisa TIC Educação, há a informação de que a maior parte das escolas já estão conectadas, mas muitas ainda não permitem o acesso ao aluno. "Temos proporção de crianças que acessam somente pelo celular e, justamente na escola, onde poderia ter acesso a conteúdos e ter mediação adequada pelos educadoras, ela (a Internet) é bloqueada", declara.
Exposição e gênero
A pesquisa mostra ainda uma exposição ao discurso de ódio e intolerância na Internet: 37% das crianças e adolescentes (8,8 milhões de jovens) afirmaram ter visto alguém ser discriminado na rede no último ano. Quanto mais velho, maior exposição: entre 15 e 17 anos, 51% presenciaram essas atividades online, enquanto entre 9 e 10 anos, o percentual é de 11%. O motivo mais alegado é de preconceito de cor ou raça, com 23%; enquanto 13% mencionaram aparência física; e 10%, relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. Para 6%, o abuso na Internet foi com elas mesmas.
E se por um lado a quantidade de acessos é equivalente entre meninos e meninas, a finalidade não é equilibrada. Os meninos usam mais a rede para jogar online (57%, contra 17% das meninas). Por outro lado, elas usam mais (84%, contra 73% dos meninos) para pesquisas de trabalhos escolares.