A novela da compra da Brasil Telecom (BrT) ainda não acabou. Um parecer técnico preliminar da Comissão de Valores Mobiliários, decorrente de uma reclamação enviada por minoritários da Telemar Norte Leste, discorda dos métodos de avaliação utilizados no cálculo do patrimônio líquido a preço de mercado da Invitel, holding no topo de cadeia societária da BrT. O documento, assinado por um analista da autarquia e ratificado pela superintendente de relações com empresas da CVM, expõe o imbróglio e conclui que foi irregular o uso da metodologia de fluxo de caixa descontado para calcular o valor de um ativo intangível, no caso, o contrato de concessão da BrT. Cabe ressaltar que se trata de uma conclusão preliminar e que o assunto será analisado a fundo pelo colegiado da entidade. Enquanto isso, foi liberada a realização da Assembleia Geral Extraordinária (AGE) da Telemar Norte Leste no próximo dia 13 para ratificar a compra da Invitel.
Valor de retirada
Por trás desse imbróglio está o interesse de alguns minoritários de exercer o chamado "direito de retirada" por discordarem da aquisição da BrT. A Lei das S.A. prevê que o valor por ação a ser pago no caso de direito de retirada deve ser calculado a partir do valor patrimonial da empresa ou qualquer outro definido em estatuto. A maioria das empresas abertas utiliza o critério do valor patrimonial, mas a Telemar, em seu estatuto, prevê o cálculo pelo valor econômico-financeiro. Considerando o baixo preço dos seus papéis atualmente na Bolsa, o ganho poderia alcançar 100%. Segundo um analista, uma boa referência para se ter uma ideia dessa discrepância é comparar a cotação atual e o preço alvo das corretoras. No caso da TMAR5, principal classe de ações com direito de retirada, a cotação desta quinta-feira, 6, fechou em R$ 49,09, enquanto os preços alvo variam de R$ 80 a R$ 100.
Pelo cálculo feito pela Apsis, que utilizou uma taxa de desconto de 8,3%, o contrato de concessão da BrT valeria R$ 16,017 bilhões. O patrimônio líquido da Invitel, que originalmente era de R$ 925 milhões, foi ajustado para R$ 2,969 bilhões, com a inclusão do contrato de concessão como ativo. Desconsiderando os ajustes feitos sobre esse ativo intangível, o valor patrimonial líquido a preço de mercado da Invitel, em um exercício hipotético feito pelos técnicos da CVM, seria de R$ 946 milhões. Neste caso, o valor pago por ação pela Telemar seria 4,3 vezes maior que o valor por ação considerando o patrimônio líquido da Invitel, o que daria direito aos minoritários de pleitear a retirada.
Os próximos capítulos dessa novela serão a AGE da semana que vem e o resultado final do inquérito da CVM, que ainda pode demorar bastante tempo. Não está descartada a possibilidade de os minoritários descontentes entrarem na Justiça.