Como é possível a uma indústria com três milhões de assinantes de telefonia pelas redes de cabo ainda ter dúvidas sobre o melhor caminho a seguir? Pois essa é a realidade da indústria norte-americana. Apesar do considerável número de clientes, a telefonia via cabo ainda apresenta vários desafios de natureza econômica, regulatória e tecnológica. Isso ficou claro durante a NCTA 2005, evento anual da indústria norte-americana que começou neste domingo, dia 3, e vai até o dia 5, em São Francisco. As manifestações mais contundentes vieram da Cox em uma apresentação técnica destinada a operadores. A operadora, que tem 1,3 milhão de assinantes de telefonia, ponderou a complexidade da decisão do modelo de negócios a seguir. Em geral, as operadoras de cabo têm tentado prover o serviço de voz com a melhor qualidade de serviço possível, mas isso torna os custos mais altos e a competição com serviços como Vonage, Packet8, AT&TCallVantage, Skype e outros mais complicada. É crescente a preocupação dos operadores em distinguir serviços de voz sobre Internet e serviços de telefonia por Internet. As empresas de cabo nos EUA preferem dizer que fazem telefonia por Internet, justamente para marcar a distinção em relação à qualidade de serviço em relação aos serviços gratuitos como Skype ou de baixíssimo custo, como Vonage. Outro fator que tem sido destacado pelos operadores é em relação aos avanços da tecnologia IP. Até 2003, praticamente todos os assinantes de telefonia em redes de cabo estavam conectados a tecnologias de comutação por circuito. Só em 2004 tecnologias sobre IP começaram a se difundir. A expectativa é que em 2006 8 milhões de usuários de VoIP sejam clientes das redes de TV a cabo nos EUA, passando a cerca de 12 milhões em 2007 e quase 20 milhões em 2008. Outras projeções mostram que em cinco anos algo como 20% do mercado de telefonia nos EUA será baseado em VoIP sobre redes de cabo. Uma das razões para o avanço das tecnologias baseadas em IP são os investimentos iniciais: para a Cox, por exemplo, os custos por usuário de voz baseado em tecnologia convencional estão em US$ 527. Custo este que cai a US$ 267 por usuário no caso de tecnologias IP.
A Cox aponta aspectos importantes para a decisão do operador de cabo entrar no mercado de telefonia. O primeiro é o potencial de fidelidade. A empresa constatou que seu churn mensal, que fica na casa de 3% ao mês nos clientes que têm apenas o serviço de vídeo, cai a 2,3% quando passam a assinar banda larga e 1,4% quando assinam banda larga e voz, além do serviço de vídeo. Mas a operadora ressalta que esses ganhos indiretos, como a fidelidade do usuário, só vêm com uma qualidade de serviço controlada. A operadora ressalta ainda que hoje a maior parte dos usuários de VoIP são usuários empolgados com a tecnologia ou que têm necessidades urgentes de redução de custos, mas para avançarem para perfis de usuários menos flexíveis, será necessário ter qualidade de serviço.
NCTA