Com mais de 60 plataformas, streaming no Brasil tem menos de 10% de conteúdo nacional

 Conforme adiantado por este noticiário, a Ancine divulgou nesta terça, 30, a segunda edição do Panorama do Mercado de Vídeo por Demanda no Brasil 2023. O estudo apresenta análises sobre o catálogo de 62 plataformas de serviços de VOD disponíveis ao público nacional e identifica as características do conteúdo disponibilizado, a exemplo da proporção de filmes e séries, dos diferentes modelos de negócio, do ano de produção das obras, da sua nacionalidade e independência, dentre outras.

As análises consideram mais de 60 mil títulos disponíveis na modalidade por assinatura (SVOD) para o público brasileiro e mais de 23 mil oferecidos na modalidade transacional (aluguel ou compra – TVOD).

O estudo identifica que mais da metade dos conteúdos não seriados nos catálogos, independentemente da modalidade de serviço, tem menos de 10 anos. Com relação aos conteúdos seriados, o Panorama destaca que a maior participação de obras com até 2 anos de lançamento está disponível na modalidade SVOD (20,1%).

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Distribuição do total de títulos de acordo com a modalidade de oferta e o período decorrido desde a estreia (obras não seriadas). Fonte: Panorama do Mercado de Vídeo por Demanda no Brasil 2023/Ancine
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Distribuição do total de títulos de acordo com a modalidade de oferta e o período decorrido desde a estreia (obras seriadas). Fonte: Panorama do Mercado de Vídeo por Demanda no Brasil 2023/Ancine

Em relação ao conteúdo nacional, o estudo avalia uma amostra dos 24 principais serviços ofertados no país, identificando que cerca de 9% das obras disponíveis possuem Certificado de Produto Brasileiro (CPB). Nas operadoras de TV paga tradicionais, por exemplo, o percentual de conteúdo nacional supera os 17%. No streaming, ainda segundo o levantamento da Ancine, apenas 6,3% são classificadas como obras brasileiras independentes constituintes de espaço qualificado. Excluindo-se as obras sem a possibilidade de identificação de sua nacionalidade, esses percentuais vão para 14% e 10%, respectivamente.

Nesse recorte dos 24 principais serviços ofertados no país, o Panorama destaca que as plataformas brasileiras de streaming são as que têm maior participação de conteúdos brasileiros, enquanto nas plataformas estrangeiras essa participação muitas vezes não ultrapassa 5%.

Em termos proporcionais, a plataforma brasileira Box Brazil Play se destaca com 41,3% de conteúdo local em seu catálogo, seguido por Globoplay (35,2%) e Libreflix (31,9%). Os serviços das operadoras de telecomunicações também se destacam nesse panorama. E há ausências importantes: o Curta!On, também uma das principais plataformas de difusão de conteúdo brasileiro, não está no grupo analisado pela BBMedia.

Os serviços de streaming com menor participação do conteúdo doméstico são Star+ (3,0%), HBO Max (2,7%) e Disney+, com apenas 1,3% de títulos brasileiros.

Em termos absolutos, entre os 24 principais serviços, o total de plataformas brasileiras oferece 1,8 mil obras brasileiras independentes de espaço qualificado e 991 obras brasileiras não-independentes ou comuns, em um total de cerca de 14 mil obras disponibilizadas. As plataformas estrangeiras têm 2.373 obras brasileiras independentes de espaço qualificado e 659 brasileiras não-independentes, em um total de mais de 40 mil obras disponibilizadas.

O Panorama também dá destaque às cinco plataformas de serviços de VoD de maior audiência no Brasil (Amazon Prime Video, Disney+, Globoplay, HBO Max e Netflix), e verifica que a participação das obras com CPB é de cerca de 8,5% em relação aos totais de conteúdos, sendo que as obras independentes constituintes de espaço qualificado correspondem a 5,1%.

Entre estas cinco plataformas, a Globoplay lidera, com folga, tanto em quantidade como em proporção de títulos brasileiros, com cerca de 1,2 mil títulos dos quais mais da metade é composta por obras não independentes. No extremo oposto, a Disney+ tem apenas 19 obras brasileiras em seu catálogo de quase 1,5 mil obras. No geral, em todas as cinco plataformas, com exceção da Globoplay, a maior parte do conteúdo com CPB é classificado como independente constituinte de espaço qualificado.

Do total de 2.251 filmes nacionais lançadas em salas de cinema de 1995 a 2022, 53% (1.198) estão disponíveis em ao menos uma das 24 plataformas de maior destaque.

Metodologia

Realizado pela Secretaria de Regulação da Ancine, o Panorama apresenta evolução em sua metodologia ao cruzar as informações secundárias com dados primários da agência reguladora. O cruzamento permite identificar, nos catálogos analisados, aqueles títulos que têm as características necessárias para serem consideradas obras brasileiras independentes, possibilitando, ainda, diferenciar as obras cujos direitos patrimoniais são de propriedade de empresas brasileiras, daquelas que, mesmo sendo produzidas no país, são de propriedade de empresas estrangeiras.

A Ancine esclarece na apresentação do Panorama que não tem acesso a dados primários e, por isso, foi contratado o serviço privado prestado pela BB Media. Além disso, aponta que, embora a amostra coberta pelo serviço seja significativa e tenha se ampliado sensivelmente desde a edição anterior do Panorama, não se supõe que nela esteja contemplado todo o universo de serviços e títulos disponíveis no VOD nos territórios cobertos. Afirma que qualquer análise ou tomada de decisão orientada pelos dados presentes no Panorama deve levar em consideração o dinamismo do mercado de VOD no Brasil e no mundo. Por fim, destaca na apresentação do estudo que o significativo número de obras cuja nacionalidade não pôde ser identificada reforça a necessidade do aprimoramento das fontes de informações primárias prestadas à Ancine.

O estudo, no entanto, ainda peca ao deixar de fora plataformas de suma relevância na difusão do conteúdo independente brasileiro, como o Curta!On, e outras de grande alcance, como a Samsung TV Plus.

Em nota enviada a TELA VIVA após a publicação desta notícia, a agência explica que o Curta!On e o Samsung TV Plus não são mapeados pela empresa que monitora e compartilha com a Ancine informações sobre os catálogos de serviços de VOD. No caso da plataforma da Samsung, por ser de oferta de canais FAST, ou seja, de conteúdo linear, sequer entra no escopo do estudo. A agência reforça que o estudo utiliza amostras para a produção de dados de interesse, e não todo o universo de serviços existentes no país e que entende que a amostra utilizada é significativa para o mercado de VOD no país, contemplando empresas nacionais e estrangeiras, além de diversas empresas menores e de nicho. Por isso, as informações são qualificadas e contribuem para as análises de cenário.

Por fim, a agência destaca que o estudo não é pronunciamento oficial da Ancine sobre propostas específicas de regulamentação, mas da publicação de subsídios técnicos para as discussões e debates sobre o tema.

Vale destacar que a aplicação de regras de regulação de mercado e tributação nas plataformas de Streaming está em discussão no Congresso, e que a Ancine foi demandada pelo Senador Eduardo Gomes, relator de uma das propostas (PL 2.331/2023), a se manifestar sobre o tema para contribuir com o encaminhamento que será dado pelo Senado.

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