Uma das principais apostas da Ericsson quando adquiriu a Vonage, em 2021, por US$ 6 bilhões, acabou abrindo um caminho ainda mais promissor depois que 240 operadoras de telecom em todo o mundo aderiram ao Open Gateway, o padrão de APIs abertas para integração de aplicações digitais com a rede das operadoras. Para Rodrigo Dienstmann, CEO da Ericsson Latin America, foi uma decisão acertada que já antecipava uma tendência da indústria.
"As operadoras precisam rentabilizar suas redes e buscar outras formas de receita além da conectividade, e as interfaces de aplicações de rede (APIs) são o caminho principal", disse ele em entrevista a TELETIME, durante o MWC 2024. A Vonage já tinha o foco em APIs de aplicações de comunicação, com um portfolio de milhares de aplicações e um grande ecossistema de mais de 3 milhões de desenvolvedores.
Nesse contexto, a Ericsson, por meio da Vonage, quer atuar não apenas como um marketplace de APIs de rede, mas como uma administradora do relacionamento entre as operadoras e os desenvolvedores, gerenciando as aplicações e o faturamento. "Quanto uma API vai render para a operadora? Podem ser centavos por transação, e pode ser milhares. Depende do valor que a informação ou a função de rede agrega para a aplicação", diz Dienstmann.
Entre os exemplos recente de aplicações, ele destaca uma que passou a ser oferecida que é a contagem de SIM cards. "Essa API permite aos desenvolvedores saberem com precisão quantos SIMs estão ativos em uma determinada área, desde um setor de cobertura da antena a uma cidade, em tempo real. Isso tem valor para uma quantidade imensa de aplicações", diz o executivo.
Ele lembra que aplicações com slicing de rede também começam a rodar. A Deutsche Telekom, por exemplo, já está com um produto comercial que é a contratação de uma capacidade dedicada e garantida de 5G por um curto período, como um link de TV, uma transmissão ao vivo, um evento etc. Por duas horas, o link 5G com alta capacidade garantida sai por 200 euros.
Crise de rentabilidade
Em relação às dificuldades das operadoras de rentabilizarem o 5G e aos resultados ruins previstos pela própria Ericsson para 2024, ele vê apenas uma questão cíclica.
"As operadoras nos EUA de fato reduziram muito o investimento, porque haviam antecipado a entrada no mercado de 5G. A Índia também teve uma dinâmica com questões próprias. Mas a gente já começa a entrar no ciclo de rentabilização vindo das APIs, serviços corporativos B2B, slicing… isso não é promessa", diz, lembrando que o Brasil tem uma vantagem por já ter uma boa base de 5G com padrão Standalone, decorrente da obrigação regulatória trazida no leilão de espectro, algo que os europeus ainda não tem.