Telecom quer dividir a conta – e as metas de conectividade – com as big techs

CEO da Orange, Christel Heydemann, no palco da MWC 2023. Foto: Bruno do Amaral

Um dos recados mais fortes da abertura da Mobile World Congress 2023 nesta segunda-feira, 27 é o da necessidade de união entre operadoras e grandes geradoras de tráfego – ou seja, as big techs, para investir na expansão das redes que sustentarão o crescimento exponencial do tráfego. Neste campo é onde a associação global da indústria móvel (GSMA, que organiza o evento em Barcelona), procura advogar por mais colaboração, mas não apenas nos investimentos, mas também de metas de conectividade.

A nova CEO da Orange, Cristel Heydemann, pontuou a questão sobretudo com o ponto de vista europeu: o futuro da sociedade tecnológica precisa ser feito por todos, com colaboração para garantir um ambiente sustentável. Segundo ela, é um "paradoxo", que haja metas de conectividade e digitalização recaindo somente para as teles e, por conta dessa disparidade, a sustentabilidade do modelo de negócios agora esteja em risco. 

"Estamos comprometidos, mas esse framework precisa ser entre telcos e grandes geradores de tráfego. Então, demos boas vindas à consulta pública europeia", destaca Heydemann, em referência à ttomad de subsídio das autoridades europeias sobre a questão da assimetria competitiva entre telcos e empresas de Interenet. Ela procura deixar claro, contudo, que a necessidade é de uma "partilha justa", e não de implantar barreiras. "Não queremos mudar a neutralidade de rede e princípios na Europa, nem queremos um novo mecanismo de impostos. Achamos que as contribuições vão permitir que a gente invista privativamente, sem precisar de dinheiro público."

Notícias relacionadas

Na Europa, serão investidos 600 bilhões de euros na próxima década, enquanto consumidores demandam mais capacidade e investidores pressionam por maiores margens. A solução são as parcerias. "Acho realmente que as operadoras europeias têm de trabalhar com abordagem aberta e sustentável. Colaboração já é chave, e agora vai virar um pilar realmente fundamental", destacou a executiva. Um exemplo citado por Heydemann é o uso de APIs, especialmente no contexto da Open Gateway, iniciativa lançada nesta segunda-feira pela associação global.

O diretor geral da GSMA Mats Granryd, corroborou isso com a mensagem de que o investimento global de US$ 1,5 trilhão entre 2023 e 2030, com 90% disso para o 5G. Nesse mesmo contexto, pediu que o espectro seja disponibilizado por um preço mais acessível, sobretudo com a harmonização na faixa de 3,5 GHz e com a banda de 6 GHz, que ele afirmou ser "crucial para a expansão" do 5G.  

Esses investimentos serão também para reduzir a fatia de desconectados no mundo, atualmente com cerca de 3,6 bilhões de pessoas. Desses, 400 milhões de pessoas não têm nenhuma cobertura, e os 3,2 bilhões estão em áreas de cobertura, mas não utilizam – seja pela falta de aparelhos, seja por não terem "letramento digital". A GSMA chama essa diferença de "gap de uso". "Este é um dos maiores desafios que nós como indústria precisamos ultrapassar", diz Granryd, mencionando que o custo dos terminais precisa ficar mais acessível. 

Questão binária

Conselheiro do mercado interno da Comissão Europeia, Thierry Breton. Foto: Bruno do Amaral

Conselheiro do mercado interno da Comissão Europeia, Thierry Breton deu o tom: "Hoje, mais do que nunca, não estamos aqui para discutir apenas negócios ('business as usual'). Estamos em um momento de definição". Para ele, a colaboração pode ser um passo, citando o entendimento na época de pandemia que o órgão teve com plataformas de streaming para que houvesse uma redução do tráfego nas redes. Mas ele insiste: não é apenas uma questão maniqueísta, tampouco simples.

"A questão da partilha justa na consulta pública da Comissão tem sido descrita como uma batalha entre big telcos e big techs, como uma questão binária", declara. "Não é assim que vemos. Claro, precisamos achar um modelo de financiamento de forma justa e distribuída para os grandes investimentos. Mas a liberdade de escolha para os usuários, a neutralidade de rede e a liberdade de serviços em um ambiente justo e competitivo é algo extremamente importante para nós."

Para Breton, isso pode ser uma oportunidade para que a Europa retome a liderança tecnológica, sobretudo nas próximas gerações. "Não podemos perder a chance com a revolução da tecnologia e dos requerimentos do setor de conectividade com a regulação europeia. Estamos prontos para liderar com o 6G, e a Europa vai liderar em conectividade", argumenta.

*O jornalista viajou a Barcelona a convite da Huawei.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
CAPTCHA user score failed. Please contact us!