Transformar empresas de telecomunicações em empresas de web 3.0. Transformar o conceito de computação em nuvem em um conceito de computação global, em que todas as redes estão conectadas e funcionam de maneira orquestrada, como um único computador. Transformar a conectividade em um supercomputador. Essa é a visão de futuro trazida pelo presidente da Telefônica e chairman da GSMA, José María Álvarez-Pallete, na abertura do Mobile World Congress 2023, que acontece esta semana em Barcelona.
Em anos abrindo o evento, este foi de longe o posicionamento mais ambicioso já colocado pelo chairman da GSMA. Álvarez-Pallete resgatou a própria história do setor de telecomunicações móvel, com a criação da GSMA em 1987, que possibilitou a padronização das redes móveis atuais, mas sobretudo o momento em que a banda larga móvel e os smartphones mudaram o acesso à Internet. "Web 3.0, cloud, Inteligência Artificial são novas fronteiras que precisam trafegar por nossas redes. Nós temos a oportunidade de mudar novamente a vida das pessoas", disse o CEO da Telefônica e chairman da GSMA.
Ele relembra os desafios: em 10 anos, o tráfego nas redes cresceu 24 vezes e a previsão é que o ritmo se mantenha. "Mas o crescimento de tráfego é apenas um dos desafios. As redes se tornarão mais complexas e inteligentes, e a infraestrutura precisa estar preparada".
Já há alguns anos a Telefónica tem defendido a visão de redes abertas, mas durante o MWC 2023 as operadoras deram um passo mais ambicioso. Sob a liderança da GSMA, 21 operadoras, que congregam uma cobertura de 3,9 bilhões de pessoas, se juntaram à iniciativa Open Gateway, que busca criar uma padronização que permitirá interconectar e orquestrar as diferentes redes e permitir aos usuários um único ponto de acesso global a esse "supercomputador" formado por todas as redes e suas respectivas capacidade de processamento em nuvem. "Somos uma indústria aberta à cooperação e à inovação, e vamos ajudar o mundo a fazer a transição da era do cloud computing para o Earth computing (algo como computação global, numa tradução livre)". A iniciativa já nasce com 8 APIs (interfaces de aplicações abertas) padronizadas para diversos aspectos da relação entre aplicações e redes.
Em um dos poucos recados políticos de sua fala, Álvarez-Pallete voltou a lembrar da "participação justa no esforço", mais uma vez cobrando que empresas de telecomunicações e empresas de Internet tenham participações equivalentes não apenas nos benefícios da economia digital, mas também nos esforços de investimentos para o desenvolvimento desta infraestrutura".