A estratégia dos provedores regionais de Internet (ISPs) listados na B3 – ou pelo menos da Desktop e da Brisanet – deve passar pela captação de recursos novos para financiamento das operações, apontou relatório produzido pelo BTG Pactual.
O documento avaliou resultados da dupla e da Unifique, considerada em situação "mais confortável" dentre as provedoras regionais listadas. Na Desktop, as projeções do BTG apontam um "gap de fluxo de caixa" de R$ 330 milhões em 2023, que precisariam ser financiados via dívida ou equity.
Já a Brisanet deve precisar de cerca de R$ 750 milhões até o fim do ano que vem, segundo o relatório. Com posição de caixa de R$ 430 milhões, a operadora cearense já anunciou que pretende captar dívida no segundo semestre, para financiar operações em 2022 e no exercício seguinte.
O BTG relembrou que a abordagem agressiva da Brisanet na fibra óptica e agora no 5G já consumiu R$ 1,25 bilhão em caixa nos últimos doze meses – ou um pouco mais do que o levantado no IPO, em julho de 2021 (R$ 1,2 bilhão). No biênio 2024/25, mais R$ 1,7 bilhão para financiamento das operações seriam necessários, calcula o banco.
"Financiar os planos de crescimento agressivos usando apenas dívida pode ser difícil, especialmente em um ambiente de altas taxas de juros. Uma alternativa seria a empresa desacelerar os investimentos e a expansão sem deixar de cumprir compromissos de implantação do 5G associados ao espectro adquirido no ano passado", apontou o relatório.
A Brisanet encerrou o segundo trimestre com dívida líquida de R$ 718 milhões e alavancagem (medida na relação dívida líquida/Ebitda) de 2,3 vezes, podendo alcançar 2,5 vezes até o final do ano. O BTG trabalha com um pico de alavancagem de 3,9 vezes em 2024 e de dívida de R$ 3,7 bilhões em 2026.
Já a margem da empresa está em recuperação, fechando o segundo trimestre em 40,8% após chegar a 33,5% no último trimestre de 2021. Dentre os ISPs na bolsa, a Brisanet é a única apostando apenas em crescimento orgânico na banda larga. No primeiro semestre, a adição de 134 mil assinantes superou as marcas de 2020 e 2021, revertendo a desaceleração registrada pela empresa no ano passado.
Desktop
No caso da Desktop, chama a atenção a aquisição de 443 mil usuários a partir de oito empresas compradas entre 2021 e 2022. A margem alcançou média de 41,9% em 2021 impactada pelo movimento, mas já se recuperou para 45,1% nos últimos resultados.
Ainda no segundo trimestre, a operadora paulista marcou dívida líquida de R$ 524 milhões e alavancagem de 2,2 vezes, mas que poderia chegar a 3,8 vezes se consideradas obrigações de pagamentos com aquisições. Tais compromissos são um dos componentes do gap de fluxo de caixa de R$ 330 milhões que o BTG calculou na empresa em 2023.
Como um crescimento robusto no Ebitda deve permitir espaço para redução da alavancagem, o banco vê espaço para financiamento das necessidades da Desktop via dívida. Já a realização de novas aquisições deve exigir captações envolvendo equity, avaliam os analistas.
Também na contramão do mercado de provedores regionais, a Desktop está evoluindo a adição de clientes de forma orgânica em 2022, com 84 mil novos assinantes (fora aquisições) até junho. De forma geral, o papel é o mais recomendado pelo BTG entre as ISPs, com preço-alvo de R$ 20 contra R$ 4 da Brisanet e R$ 7 da Unifique.
Unifique
Por sua vez, a operadora de Santa Catarina não deve precisar de recursos adicionais para financiar operações, salvo no caso de interesse por novas aquisições. O movimento é tido como provável, mas não foi incluído nas projeções do relatório. Nos últimos 18 meses, a Unifique adquiriu 11 empresas com cerca de 207 mil assinantes.
Mesmo a operadora precisando de cerca de R$ 540 milhões para financiar a expansão orgânica e pagar parcelas das aquisições, o BTG Pactual acredita que uma posição de caixa bruto de R$ 690 milhões ao fim de 2022 deve ser suficiente.
Ainda que tenha sentido de forma mais direta a desaceleração do mercado de banda larga, com adições neste semestre ficando abaixo do mesmo período em 2021, a Unifique é considerada a mais sólida do trio de ISPs abertos em bolsa em termos de lucratividade. A margem da catarinense manteve uma média de 51,6% nos últimos dez trimestres, fechando o segundo tri deste ano em 50,3%.
Já a alavancagem da companhia não deve ultrapassar a casa da 1 vez na relação dívida líquida/Ebitda, acredita o BTG.