MCom, Anatel e operadoras se mobilizam contra usina que coloca cabos submarinos em risco

A Anatel e o Ministério das Comunicações partiram em defesa das operadoras de telecomunicações contra o governbo do Ceará, que pretende implementar uma usina de dessalinização que coloca em risco a infraestrutura de cabos submarinos instalada na Praia do Futuro. Hoje, o local é o maior hub de cabos submarinos do Brasil e o segundo maior do mundo, com mais de 15 pontos de conexão, além dos respectivos datacenters. O projeto que preocupa as autoridades e empresas de telecomunicações é o Dessal – PLanta de Dessalinização de Águas Marinhas, coordenado pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e executado pelo consórcio Águas de Fortaleza S/A, formado pelas empresas Marquise S/A, PB Construções LTDA e Abegoa Água S/A, para um projeto estimado em R$ 3 bilhões e que visa o abastecimento de cerca de 700 mil pessoas por 30 anos.

O ministro Juscelino Filho participou do evento "Conexões Políticas: A importância dos cabos submarinos", organizado pela Anatel  e pela Telcomp em Fortaleza/CE e que tinha como pano de fundo justamente a questão da usina. Segundo o ministro, os cabos que partem de Fortaleza são "responsáveis por 99% do tráfego de dados internacional" e possuem importância estratégica para o Brasil. "Essas estruturas são essenciais para várias políticas públicas, não apenas de telecomunicações, como também de transformação digital, educação, saúde, segurança da informação, segurança cibernética e, mais especificamente, a Estratégia Nacional de Segurança de Infraestruturas Críticas e o Plano Nacional de Segurança de Infraestruturas Críticas".

Em tom ainda mais duro foi o vice-presidente de relações institucionais da Claro, Fábio Andrade. "Escrevam o que eu estou falando: se esse projeto for adiante nós estaremos cavando um buraco para todos entrarmos dentro. Há um risco de causar uma pane da Internet no Brasil. É o projeto errado no lugar errado e na hora errado. Poucas vezes vi uma coisa tão mal feita", disse ele, em referência à proposta de construção da usina pela a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).

Notícias relacionadas

O evento teve ainda a participação dos deputados André Figueiredo (PDT/CE) e Danilo Forte (UNIÃO/CE), além do Cel. Marcelo Oliveira da Silva, da FAB, Coordenador Geral de Segurança de Infraestruturas Críticas, do Departamento de Assuntos da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional, da Secretaria de Acompanhamento e Gestão de Assuntos Estratégicos (SAGAE)

Juscelino Filho também assegurou que o Ministério das Comunicações está atento e "acompanha de perto" a discussão que ganhou destaque nos últimos dias a respeito da construção de usina de dessalinização na Praia do Futuro. Entidades do setor de telecomunicações apontam que as obras têm potencial de danificar a estrutura dos cabos submarinos que garantem a conectividade do Brasil e de países vizinhos.

"Qualquer situação que gere impacto deve ser profundamente discutida, analisada e avaliada para que busquemos construir juntos, por meio do diálogo, o melhor caminho para a preservação desse hub internacional que é Fortaleza. Estaremos juntos, com a Anatel e com todas as entidades do setor, discutindo formas de construir um ambiente seguro, sem nenhum tipo de impacto nas infraestruturas."

Segundo o ministro, "há previsão de chegada de novos cabos nos próximos anos e, para isso, vamos preservar e construir um ambiente seguro para que possamos avançar e garantir a segurança desse tráfego e desses cabos, tão importantes para a geopolítica e para as telecomunicações no Brasil".

Fábio Andrade apontou os riscos do projeto, alertando inclusive para o risco de perda de investimentos para o estado do Ceará. "Ou se muda o projeto ou estamos colocando a rede em risco", disse Andrade, alertando que já tem feito interlocuções em Brasília para mostrar aos parlamentares e autoridades o risco do problema. " Conversamos com o ministro Múcio (da Defesa) que ficou surpreso ao saber dos riscos que estavam sendo criados", disse Andrade.

O debate já corre há algum tempo na esfera técnica da Anatel. Originalmente a usina ficava a 40 metros das redes de cabo. Depois de uma atuação da Anatel, passou-se para 500 metros. Mas ainda existe, segundo a Claro, pontos de interferência nos cabos, em pelo menos três pontos. "Se não mudar (o projeto) o risco é de um problema catastrófico, uma desgraça". A intervenção da Anatel nos primeiros estudos já provocou um adiamento do Dessal, que terá agora obras iniciadas em agosto de 2024. O projeto também é questionado por seus impactos ambientais e na comunidade onde ele deve ser edificado. (Com informações do Ministério das Comunicações).

 

 

1 COMENTÁRIO

Deixe um comentário para Marcia Maria de Vasconcelos Oliveira Cancelar resposta

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
CAPTCHA user score failed. Please contact us!