O juiz Lewis Kaplan, da Justiça de Nova York, adiou para o dia 9 de junho a audiência em que avaliará se mantém ou não a ordem temporária que impede Daniel Dantas e qualquer pessoa ligada ao grupo Opportunity de tomar qualquer atitude, inclusive judicial, que implique a substituição dos diretores e conselheiros apontados pelo Citibank e pelos fundos de pensão nas empresas controladas. A decisão liminar de Kaplan foi dada no dia 4 de maio, depois que o Opportunity tentou uma manobra para que a Justiça do Rio de Janeiro, ao notificar as empresas sobre uma decisão de abril favorável ao grupo proferida pela desembargadora Letícia Sardas, abrisse caminho para a substituição de dirigentes nomeados pelo Citi. A ordem de Kaplan seria reavaliada no último dia 18, foi prolongada até o dia 2 de junho e agora novamente prolongada até o dia 9.
Como parte das suas contra-argumentações referentes a esta ordem, Dantas diz que precisa voltar ao controle das companhias porque tem investimentos dos quais precisa se desfazer, investimentos estes que ele diz valerem US$ 1 bilhão. O Citibank diz que o valor é absurdo e que Dantas pretende voltar ao controle das empresas de maneira irregular, utilizando um instrumento jurídico irregular (o acordo guarda-chuva) apenas em interesse próprio. Kaplan, no dia 18, sugeriu às partes que entrassem em um acordo sobre a avaliação de quanto, enfim, pode valer a participação de Dantas nas empresas em questão (Brasil Telecom, Telemig Celular, Telemar entre outras).
Audiência
Enquanto isso, a bancada da oposição no Senado, sob articulação dos senadores Arthur Virgílio (PSDB/AM) e José Agripino (PFL/RN), conseguiu aprovar um requerimento na Comissão de Constituição e Justiça (presidida pelo senador Antônio Carlos Magalhães, do PFL da Bahia) para que Dantas, sua irmã Verônica Dantas e o presidente do Citibank no Brasil, Gustavo Marin, sejam ouvidos pela comissão no dia 7 de junho. A audiência deve-se às denúncias publicadas pela revista Veja de que Dantas teria sofrido tentativa de achaque pelo PT, com pedido de pagamento de US$ 50 milhões para partido em troca de benefícios nas negociações com os fundos de pensão. A denúncia é feita por Dantas no processo que corre em Nova York, ainda que tenha sido negada pelo próprio em depoimento à CPMI dos Correios, em Setembro passado. Segundo Dantas, Citi teria sido informado dessas tentativas de achaque, o que o banco norte-americano nega. A inclusão de Gustavo Marin na convocação, contudo, é indício de que Dantas pode querer usar o depoimento para municiar suas ações contra os fundos e o Citibank na justiça do Brasil e em Nova York. Vale lembrar que a convocação de Dantas para depor na CPI dos Bingos foi rejeitada na terça, 23, o que representou uma vitória do governo. Na CPI, contudo, Dantas teria a obrigação de dizer a verdade, e aí precisaria explicar porque mentiu à CPMI dos Correios em setembro. Na audiência com os Senadores da CCJ, não há esse compromisso legal.
Há outro fato ainda que leva Dantas à CCJ. Foi ele, segundo a revista Veja, o responsável pela divulgação de um dossiê sem comprovação de veracidade em que aparecem supostas contas no exterior pertencentes a integrantes e ex-integrantes do governo, incluindo o presidente Lula, os ex-ministros Luiz Gushiken, José Dirceu e Antônio Palocci, o atual ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos e o diretor geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda. A própria Veja e a revista Carta Capital trazem documentos que mostram que a Brasil Telecom, na época sob a gestão de Dantas, contratou os responsáveis pelo dossiê.