Selo de qualidade prejudicado por redes legadas preocupa operadoras de banda larga

Par de cobre

A perspectiva de que o selo de qualidade a ser estabelecido pela Anatel a partir do próximo ano para as operadora de telecomunicações acabe sendo afetado pelo desempenho das redes legadas está deixando as grandes teles muito preocupadas. Segundo depoimentos colhidos por este noticiário, a expectativa é de que isso poderá causar um grande prejuízo à imagem das empresas e uma desinformação em relação à realidade dos serviços prestados. Explica-se: ao considerar no cálculo da nota que definirá o selo de qualidade o desempenho de velocidade média da banda larga em todas as tecnologias, as operadoras que ainda têm muitos clientes em ADSL, 4G fixo ou satélites serão afetadas negativamente. Isso porque o patamar mínimo que está sendo cogitado pela área técnica da agência para conferir selo A de qualidade é uma velocidade média de pelo menos 10 Mbps, o que não é atingido em redes mais antigas. "Ao estabelecer este critério a Anatel não considera se o serviço está sendo oferecido de acordo com o contratado ou não. Uma empresa pode oferecer 300 Mbps e entregar 30 Mbps e será melhor avaliada do que um serviço que promete 10 Mbps e entrega 10 Mbps de média", exemplifica uma fonte.

Segundo as operadoras, é óbvio que serviços com redes mais novas, como fibra, são melhores, mas nem sempre essa é a demanda do consumidor ou o que existe disponível numa determinada localidade. O que as operadoras com redes legadas querem (hoje esse tema preocupa principalmente a Vivo, a Oi e a Sky) é que a agência estabeleça a nota de desempenho da velocidade média em função do que foi efetivamente contratado, e não a partir de um valor arbitrário de 10 Mbps.

Como reportado por TELETIME, o assunto deve ir da área técnica ao Conselho Diretor da Anatel ainda este mês, e a pressão deve ser grande sobre o colegiado da agência, porque esse tema é considerado vital no cenário competitivo das empresas. "Ter uma nota dada pela agência abaixo de um concorrente nunca é bom, mas quando essa nota não depende de nós, mas sim de o consumidor optar por uma tecnologia melhor, fica mais complicado", diz a fonte. Lembrando que essa nota se aplica apenas às operadoras com Poder de Mercado Significativo, que é quem tem mais de 5% de market share nacional, sendo que em boa parte das cidades os provedores locais têm a maior parte do market-share, mas só irão aderir ao selo de qualidade se quiserem. A Anatel quer justamente estimular mais ISPs a participarem do comparativo de qualidade voluntariamente ao criar um selo.

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As propostas das grandes operadoras para evitar a distorção que seria causada pelo uso dos dados das redes legadas variam. Já foi proposta uma medição por probes (que considerasse a média contratada, mas a Anatel rechaçou porque isso aumentaria proibitivamente o custo para os pequenos (o levantamento da Anatel será feito por meio de crowdsourcing). Outra alternativa é separar em duas faixas de avaliação: uma com uma média de 2 Mbps e outra com uma média de 35 Mbps. Uma terceira alternativa seria não incluir no selo a velocidade media, e divulgar o valor separadamente, por tecnologia. E uma quarta alternativa é que a agência exclua do cálculo os clientes que estejam em tecnologias legadas. 

As operadoras lembram que estão fazendo um grande esforço de ampliação das redes de fibra ótica para banda larga, mas como a cobertura territorial delas é de escala nacional, esse processo leva tempo. Outras, como é o caso da Sky, utilizam uma tecnologia limitada, que é o 4G fixo na faixa de 2,5 GHz que são bastante limitadas (com velocidades não superiores a 4 Mbps), mas que atende localidades onde não existe outro serviço. No caso da Sky, houve inclusive por parte da Anatel o estímulo à ocupação da faixa com banda larga fixa. "A velocidade menor não significa um produto de pior qualidade. É como um carro: ele pode ser adequado para aquilo que o consumidor precisa e pode pagar, e não pode ser comparado com um carro de luxo ou alto desempenho, que teria um valor muito mais elevado", diz uma fonte.

Outro observador lembra que o próprio governo utiliza, em políticas públicas, parâmetros de velocidades inferiores. Por exemplo, o WiFi Brasil ou o GESAC são baseados em redes WiFi compartilhadas a partir de uma conexão via satélite de 10 Mbps ou, em alguns casos, 20 Mbps, mas que dificilmente daria uma velocidade média individual de 10 Mbps como a Anatel pretende exigir para atribuir o selo de qualidade tipo A. "A agência diria então que esses acessos oferecidos à população são de pior qualidade?". Lembrando que a Telebrás não é obrigada a se candidatar ao selo de qualidade por não ser empresa com Poder de Mercado Significativo.

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