Existe uma ameaça de forte tempestade no horizonte dos fundos de pensão e do Citibank na briga para reaver o controle das empresas que estavam, até o ano passado (ou ainda estão, no caso da Telemig Celular e da Amazônia Celular), sob a gestão do grupo Opportunity. E ela pode chegar já na próxima semana. Trata-se da apelação feita pelo Opportunity no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em relação à decisão da 2ª Vara Empresarial que suspendeu o acordo guarda-chuva, ou ?umbrella agreement?. O documento é um contrato criado pelo Opportunity e assinado apenas por seus executivos em nome dos fundos de pensão e do Citibank pelo qual o grupo de Daniel Dantas manteria o controle sobre toda a cadeia societária das empresas mesmo sem ser o gestor dos recursos dos demais acionistas e mesmo sem ter participação relevante. Suspeita-se que o acordo umbrella tenha sido pós-datado. A própria CVM já o classificou de abusivo.
Chances grandes
De qualquer maneira, as chances de que a Justiça do Rio de Janeiro reconheça a validade do acordo são grandes, segundo interlocutores do lado do Citibank e dos fundos. O próprio Citibank deixou isso muito claro no pedido que fez à Justiça de Nova York para ter uma liminar que impedisse Dantas de usar o acordo guarda-chuva.
Bloqueio em Nova York
Conforme a descrição feita pelo Citibank à Justiça de Nova York, mesmo que a volta do Opportunity ao comando seja breve, ela é ameaçadora, pois pode permitir, por exemplo, que o acordo de fusão entre TIM e Brasil Telecom GSM (uma operação feita pelo Opportunity em abril e que lhe rendeu US$ 460 milhões) seja concretizado.
Em Nova York, os receios do Citibank surtiram efeitos e a justiça norte-americana proibiu Dantas e qualquer pessoa a ele ligada de fazer qualquer coisa que possa significar o uso do acordo guarda-chuva, conforme adiantou este noticiário no dia 16 e depois a Brasil Telecom confirmou em fato relevante do dia 20.
Acontece que esta é uma decisão que só tem validade nos EUA, e a Justiça brasileira não seguirá a orientação do juiz de Nova York. Se desrespeitar a decisão, as conseqüências para o Opportunity e para Dantas são graves apenas nos EUA. Ele pode ser declarado em desobediência a uma ordem judicial (contempt of court), o que dá inclusive cadeia por lá.
Mas se a decisão da Justiça do Rio de Janeiro sobre a liminar que suspende o umbrella for desfavorável aos fundos, é praticamente certo que Dantas tentará alguma coisa para retomar o controle das companhias.
Outra fonte de preocupação dos fundos e do Citibank é o Tribunal de Contas da União, que ainda vai analisar o mérito do acordo de put firmado entre os fundos e o banco norte-americano. Trata-se do acordo de compra pelo qual os fundos se comprometem a adquirir no final de 2007 as ações do Citi na BrT, caso não se encontre um comprador antes. A análise é que se houver uma decisão da Justiça do Rio de Janeiro favorável a Dantas, mais uma decisão do TCU, seria meio caminho para que o Opportunity volte ao comando da BrT, alongando a briga judicial, e com isso efetive o seu acordo com a Telecom Italia.