Privatização da Telebras: ainda é cedo para avaliar prejuízo à soberania, diz Defesa

Coordenador na assessoria espacial do Ministério da Defesa, coronel Anderson Tesch Hosken Alvarenga. Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados

A inclusão da Telebras no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do governo federal pode levar a empresa à privatização, mas essa ideia já traz preocupações. Audiência na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara dos Deputados nesta quinta-feira, 22, tratou do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações (SGDC), mas o tema da desestatização acabou virando pano de fundo para a discussão, incluindo possíveis impactos na soberania nacional. 

O coordenador na assessoria espacial do Ministério da Defesa, coronel Anderson Tesch Hosken Alvarenga, esclarece que a pasta tem no SGDC a soberania como ponto base, mas opina com cautela. "Ainda é muito cedo para dizer se a soberania vai ser prejudicada, porque é necessário definir o que será privatizado eventualmente e de que forma para a gente poder avaliar o impacto", afirma. 

"Acho que é um absurdo privatizar a Telebras. Já foi construída uma parceria público-privada com a Viasat. Como ficará então o satélite?", indaga o ex-presidente da estatal, Jorge Bittar. Ele lembra que o projeto do SGDC já foi realizado para atender à demanda de um satélite que fosse de controle nacional para garantir a soberania – o Gesac era antes atendido por satélites da Embratel, subsidiária da mexicana América Móvil. "Já resolvemos esse problema lá atrás, e como fica agora? Como vai separar a rede terrestre da aérea? Não dá."

Notícias relacionadas

A empresa tem ainda a infraestrutura para comandar o satélite, o que Bittar justifica que foi o destino de boa parte dos recursos investidos. "O valor de R$ 2,4 bilhões para um satélite é caro, mas o SGDC custou normal, uns R$ 300 milhões. Na verdade, o [grosso do] investimento foi feito em toda a infraestrutura terrestre, não só nos dois centros de operações, mas em todos os gateways."

Vitor Menezes, secretário de telecomunicações do MCTIC, lembra que o modelo ainda será estudado pela secretaria do PPI. "Tem várias formas, se quiser fazer, mas a gente não conhece o que vai ser proposto. Poderia haver modelo que separa o satélite, que ficaria com o governo, mas aí tem complicação porque a parte satelital também depende da terrestre", afirma.  

De qualquer forma, a promessa é que a inclusão da estatal no PPI continue a ser discutida na Câmara na semana que vem. "Não acredito que a Telebras deveria ser privatizada nesta situação. Na próxima quarta-feira (dia 28) eu vou subir ao plenário e comentar sobre o assunto", declarou o deputado Luis Miranda (DEM-DF), autor do requerimento da audiência. 

Expansão

Presente na Comissão, o diretor comercial da Telebras, Hélcio Vieira Júnior, não comentou sobre a possível privatização, mas destacou que a empresa pretende crescer. Atualmente, a estatal tem 32 mil km de backbone de fibra, 1.524 municípios atendidos e uma cobertura de 130 milhões de pessoas em potencial. Em 2020, espera passar a atender todos os 5.570 municípios brasileiros, tanto com o SGDC como com a infraestrutura terrestre, que terá 34 mil km no período. Até a última terça-feira, 20, o satélite estava conectado a 9.127 VSATs. A empresa espera 50 mil pontos instalados no total.

Vieira Júnior reconhece que, sem a parceria público-privada, a Telebras não teria condições de manter o serviço do SGDC atualmente. "Sem a Viasat, teríamos que fazer investimentos consideráveis para fazer o que fazemos hoje. O jeito que nós conseguimos atender com parceiro é economicamente muito melhor", afirma, citando aval do Tribunal de Contas da União. O executivo também assegura que essa dependência não significa risco de descontinuidade do serviço. "A Viasat está aqui exatamente para iniciar as operações porque ela tem planos para vir para cá [com satélite próprio] no futuro. Mas existem cláusulas que nos protegem. Se ela por algum motivo optar por nos abandonar, todos os equipamentos ficam com a Telebras, e ainda tem uma multa muito grande", explica. "Eles são a segunda maior operadora [de satélites] do mundo, não rasgam dinheiro."

1 COMENTÁRIO

  1. O comentário do Coronel Hosken é inteligente, ponderado e isento, totalmente distinto dos políticos que estão citados na mesma matéria, cada um defendendo seus interesses, infelizmente sem o mesmo conhecimento da matéria que tem o coronel. Para os políticos, gerar dúvidas é o melhor caminho.

Deixe um comentário para Carlos Junior Cancelar resposta

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
CAPTCHA user score failed. Please contact us!