Grandes empresas, principalmente de áreas como agronegócio e saúde, já estão adotando soluções de Internet das Coisas (IoT), mas a tecnologia ainda não chega nas pequenas companhias. Há falta de financiamento e mesmo de conhecimento sobre as aplicações. É o que pensam participantes de painel do Fórum de Operadoras Inovadoras, realizado nesta quarta-feira, 22, por Mobile Time e TELETIME, em São Paulo.
"Tivemos um ecossistema desenvolvendo muitas soluções, as startups e as operadoras pensando em como monetizar a rede e as soluções. A questão agora está em como convencer o empresário que não é do setor de TIC a adotar as tecnologias. Quando falamos de empresas médias e grandes, acho que já está acontecendo. Agora quando você vai a uma padaria, em uma agricultura familiar, como você convence essas pessoas a usarem a tecnologia? Para elas não faz sentido, a conta não fecha", apontou José Gontijo, especialista e ex-secretário de empreendedorismo e inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Os modelos de negócio para soluções de IoT são voltados principalmente às grandes companhias como clientes, porque elas possuem o capital para fazer o investimento na tecnologia. Portanto, é preciso criar novos modelos de negócios específicos para os pequenos empresários, defende Gontijo. Uma possibilidade para pequenos produtores rurais seria um modelo no qual não se precisa fazer um investimento, mas sim ser cobrado pelo lucro a mais que ele tenha na produção, segundo exemplificou o ex-MCTI.
Paulo Spacca, CEO da Associação Brasileira de Internet das Coisas (Abinc), ressaltou que a educação é essencial. Uma grande parcela da população ainda não sabe o que é IoT, nem quais são as aplicações da tecnologia. Os pequenos negócios, especialmente, sofrem com a falta de conhecimento sobre o assunto e não entendem os possíveis benefícios do uso de soluções.
"Chamo de evangelização do mercado. Isso é um conjunto de esforços, seja do governo, seja do setor privado, seja nas grandes indústrias. Está faltando a evangelização no mercado. Esse processo de digitalização já está dentro das pessoas, todo mundo tem hoje um celular na mão. O que está faltando é massificar essa informação para que isso possa ser consumido de uma forma mais clara, que seja mais entendida", defendeu.
Financiamento
Outro desafio para as pequenas empresas é o acesso a financiamento. O BNDES fez um estudo sobre IoT, no qual identificou que grande parte da malha do ecossistema de inovação na área é formada por empresas pequenas. São justamente elas, no entanto, que não conseguem ganhar tração. "Tem um desafio particularmente relevante do Brasil de acessar recursos e custos competitivos que viabilizem uma escalada nos modelos de negócio", comentou Carlos Azen, gerente de financiamento do BNDES.
O "BNDES Pilotos IoT" destinou recursos não reembolsáveis a iniciativas para experimentações e teste com IoT, nos âmbitos propostos pelo Plano Nacional de IoT. De 50 projetos selecionados, oito estão em execução. Também foi criado o "Fundo de Investimento em Participações em Internet das Coisas", em parceria com a Qualcomm Ventures e a Indicator Capital. Até então, sete empresas de pequeno porte foram beneficiadas com R$ 50 milhões.
"Acaba sendo um instrumento muito importante para a empresa nessa etapa inicial do crescimento. São em empresas que dificilmente vão ter acesso a um instrumento de dívida, então o financiamento via participação acaba funcionando muito bem. O fundo continua aberto, em etapa de de captação", explicou.
Ele contou que o BNDES tem interesse em fomentar mais iniciativas de IoT futuramente. Podem surgir outros fundos, além deste primeiro que foi lançado, ainda que não seja possível antecipar quando – ou se – vai sair.
"Convidamos grandes empresas a pensarem conosco a criação de fundos de crédito, que é uma ferramenta fundamental, principalmente para atender empresas que oferecem IoT na modalidade de serviço. Essas empresas têm um desafio, porque, na medida que são integradoras, deixam no seu ativo todos os equipamentos que compõem a solução de IoT. É importante para ela ter equacionado, por outro lado, o capital de giro para poder fazer a venda dessas soluções", contou.
Fórum das Operadoras Inovadoras
O Fórum das Operadoras Inovadoras continua nesta quinta-feira, 23, no WTC, em São Paulo. Em seu segundo dia, o evento promovido por Mobile Time e Teletime contará com painéis sobre os desafios comerciais e regulatórios das MVNOs, FWA e integração de ISPs com as redes neutras.